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Diplomacia israelense está em posição de força

Mulheres palestinas choram no enterro de um membro do Hamas morto por míssil, em Rafah, na segunda-feira. Keystone

Ao contrário das precedentes ofensivas militares isralenses, principalmente no Líbano, a invasão de Gaza provoca reações moderadas da Suíça e de outros países ocidentais.

Dois especialistas suíços explicam as causas.

“As próprias autoridades israelenses qualificam as reações da comunidade internacional de muito compreensivas. De fato, essas reações contrastam com as provocadas por operações anteriores, em 2006, no Líbano, e em 2002, na tomada do campo de refugiados de Jenin, na Cisjordânia”, afirma Pascal de Crousaz, pesquisador e especialista em Oriente Médio.

Ele acrescenta que “a diplomacia israelense ganhou muitos pontos na cena internacional nos últimos tempos, como os acordos privilegiados que o Estado hebreu acaba de concluir com a União Européia.”

Prudência suíça

A Suíça parece mais prudente desta vez do que de costume, notadamente denunciando em primeiro lugar o Hamas e seus tiros de foguete disparadas da Faixa de Gaza em direção a Israel. Foi o que fez o Ministério suíço das Relações Exteriores através de comunicado em 27 de dezembro último.

É o que afirma Yves Besson, ex-diplomata suíço, para quem essa prudência é explicada por considerações internas.

“Micheline Calmy-Rey – ministra das Relações Exteriores – foi muito criticada por seus colegas dentro do governo suíço, depois das reações de Israel às suas posições na guerra entre Israel e o Hisbolá libanês em 2006.”

Cautela ocidental

Contudo, a prudência suíça é tão emblemática quanto a posição de outros países ocidentais. “A situação é muito diferente daquela do Líbano em 2006″, analisa Pascal de Cousaz. Em Gaza, não existe um Estado soberano. O Hamas assumiu o controle pela força, mesmo que anteriormente tenha vencido as eleições.”

Cousaz diz ainda que “as chancelarias ocidentais não pretendem dar perenidade ao governo do Hamas em Gaza, muito pelo contrário. O radicalismo islâmico não é apreciado nos países ocidentais”.

O mesmo ponto de vista é defendido por Yves Besson: “Muitas chancelarias, inclusive no mundo árabe e dentro da Autoridade Palestina, gostariam de se livrar do Hamas. Nessa perspectiva, a Suíça não quer aparecer como única defensora ocidental do Hamas.”

Esperando Obama

Yves Besson considera pouco provável que o Hisbolá libanês venha ajudar o Hamas. “O mentor iraniano do movimento libanês não quer desperdiçar a oportunidade de um diálogo com a nova administração Obama nos Estados Unidos.”

Um novo presidente norte-americano (que assume dia 20 de janeiro), cujo silêncio intriga parte da imprensa, mas não Pascal de Crousaz: “Barack Obama não quer se expor inutilmente em um assunto tão polêmico e revelar muito cedo seu plano de combate.” Ele lembra que as prioridades do novo presidente no Oriente Médio são o Iraque e a questão nuclear iraniana.

Resultado: “Os israelenses aproveitam esse intervalo nos Estados Unidos para agir com certa impunidade porque têm o apoio do presidente Georges W. Bush”, explica Pascal de Crousaz.

“Tudo é perfeitamente cínico se pensamos na população civil de Gaza, mas não se faz boa diplomacia com bons sentimentos”, julga por sua vez Yves Besson.

Perspectiva de paz

O ex-diplomata não exclui que a prudência atual dos países ocidentais tenha como perspectiva uma forte pressão para um acordo global de paz entre Israel e os palestinos, quando a nova administração norte-americana estiver instalada.

Para isso, Israel precisa atingir seus objetivos rapidamente e não permitir que seu exército cometa desatinos graves, como no passado.

Os árabes, em particular entre os aliados dos países ocidentais, estão em situação delicada, constata Pascal de Crousaz: “A posição deles é cada vez mais difícil. Quanto mais tempo dura a operação militar com vítimas civis em Gaza, mais a opinião pública desses países apoiará os palestinos e o Hamas.”

swissinfo, Frédéric Burnand à Genève

O acesso da ajuda humanitária à Faixa de Gaza é a prioridade da diplomacia suíça, segundo o embaixador Jean-Daniel Ruch, encarregado de missões especiais.

“A população civil paga um preço muito alto. A situação humanitária já era ruim (devido o embargo israelense). Ela piorou”, afirma o diplomata suíço.

“É preciso que a ajuda humanitária (remédios e alimentos, especialmente) possa entrar em maior quantidade na Faixa de Gaza”, segundo Jean-Daniel Ruch.

No plano político, o embaixador Ruch declarou à agência suíça de notícias ATS que a Suíça não está envolvida nas negociações diplomáticas em curso.

A Suíça continuou a manter contatos com representantes do Hamas depois das eleições de janeiro de 2006.

A diplomacia suíça contribuiu em 2006 com a redação de um documento visando facilitar as discussões entre Israel e o Hamas. Segundo Jean-Daniel Ruch, esses esforços foram em vão.

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