França confirma reforço da direita na Europa
Vitória da extrema-direita no 1° turno das eleições francesas revelaria forte ascensão do nacionalismo na Europa. Sinais nesse sentido aparecem de Portugal à Escandinávia. Com perigo de emperrar a "construção européia".
Com o “sismo político” na França, analistas já alertam para o perigo de “paralisia da União Européia”. Estimam que a exacerbação do nacionalismo, a xenofobia, a recusa de princípios democráticos, a exagerada preocupação com segurança são ingredientes que reforçam várias tendências direitistas e mesmo extremismos registrados em países como França, Áustria, Bélgica, Holanda e Dinamarca.
A primeira conseqüência para a União Européia é dificultar a integração de outros países.
Precedente
Que a direita ganha terreno, constatou-se ainda nas eleições parlamentares no início do mês em Portugal e mais recentemente com vitória regional da União Cristã Democrática (CDU) na Alemanha – na província de Saxe-Anhalt.
Mas o que aconteceu agora na França, a julgar pelas reações que inspirou a vitória do ultranacionalista Jean-Marie Le Pen no primeiro turno, lembrou o que ocorreu na Áustria, com a vitória de Jörg Haiden, e a entrada do Partido da Liberdade (FPÖ) no poder, em 2000. Se na Áustria isso foi um “escândalo”, uma “vergonha”, agora, com Le Pen, se trata se um “terremoto na paisagem política francesa.
França não é exceção
O que se registrou na França tem certa lógica com o que vem ocorrendo em outros países europeus.
A ITÁLIA é governada por um governo de direita, comandado por Silvio Berlusconi. Em seu gabinete, o n° 2 Gianfranco Fini, é qualificado de néo-fascista, e o n° 3 é Umberto Bossi, que lidera o autonomista, populista e xenófobo Umberto Bossi.
Na DINAMARCA se sobressai o Partido do Povo Dinamarquês, extrema-direita. O PPD influencia um governo de centro-direita que chegou ao poder em novembro.
Bélgica e Holanda se destacam igualmente. BELGICA com o “Vlaams Blok” (bloco flamengo) que preconiza fechamento em relação ao exterior. E na HOLANDA, sondagens prevêem ascensão do populista e extremista Pim Fortuyn nas eleições de 15 de maio.
Fortuyn que lidera o movimento “Leefbaar Nederland” (Países Baixos Vivíveis) quer suprimir garantias constitucionais na Carta do País e não hesita em chamar os marroquinos de “ladrões”.
Suíça não escapa
Na Suíça ainda não se fala de extrema-direita e sim de “direita dura”, comandada pelo carismático deputado Christoph Blocher, de Zurique. O partido que ele dirige, SVP/UDC (União Democrática do Centro), é contra a União Européia, contra os imigrantes, e pela defesa dos “valores nacionais”.
SVP/UDC que conseguiu dobrar de peso político entre 1991 e 1999, passando de quase 12% a 22.5%, hoje reivindica ser representado por 2 dos 7 ministros que formam o governo quadripartite suíço.
Semelhanças
Pontos comuns de um país a outros são apontados por William Ossipow, professor de Ciências Políticas na Universidade de Genebra: “Há por exemplo, o populismo, a desconfiança, e mesmo uma rejeição muito profundo das classes dirigentes tradicionais”.
Outro ponto comum é o que Pascal Sciarini – prof. universitário em Lausanne – descreve como “voto securitário ou de identificação frente às mudanças provocadas pela globalização, europeização, imigração, aumento do número de requerentes de asilo”.
Sciarini constata que “toda uma camada da população se sente ameaçada e busca refúgio em discursos nacionalista, xenófobo ou até racista”.
Expansão emperrada
A ascensão de partidos extremistas de direita em vários países europeus significa maior dificuldade de ampliação para a União Européia. Isso aliado a um aparente desencanto na própria União quanto a uma Europa unida pode frear um movimento que perdeu certa dinâmica.
A propósito, a França é um motor da expansão. Se nas eleições legislativas de junho o partido de Le Pen se fortalecer, há o risco de paralisia da União. Segundo o jornal Le Temps, de Genebra, o partido terá então a capacidade de pesar nas escolhas políticas da França e até bloquear a construção européia”.
Ora, nesse “clube europeu”, já em 2004, devem ingressar: Polônia, Hungria, República Checa, Eslovênia, Eslováquia, as repúblicas bálticas (Estônia, Letônia e Lituânia), Malta e Chipre.
J.Gabriel Barbosa / Colaborou Pierre Gobet
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