Imprensa surpresa com vitória de Le Pen
Na Suíça, jornais e políticos também desaprovam a vitória de Jean-Marie Le Pen. O candidato da extrema direita surpreendeu ao qualificar-se, no domingo, para o 2° turno das eleições presidenciais.
Para 5 de maio, quando da realização do segundo turno das eleições presidenciais francesas, é Le Pen, e não Jospin, que disputa o cargo mais invejado na França. A surpresa foi total, porque as sondagens davam como vencedora a dupla Lionel Jospin (socialista) e Jacques Chirac (presidente conservador – direita – que disputa um segundo mandato).
Lionel Jospin ficou tão decepcionado que decidiu retirar-se da vida política (como acenara em tal caso) logo que termine seu mandato de primeiro-ministro.
Os jornais suíços foram unânimes em manifestar preocupação com os resultados do pleito. Exemplos.
O DER BUND, de Berna, escreve o resultado como “um sismo político” e um “choque na Europa inteira”.
O LE TEMPS, de Genebra, acha que foi questionado o funcionamento da democracia francesa: “É uma esmagadora derrota para o primeiro-ministro, para sua gestão, por seu enfoque razoável da política e pela sua campanha eleitoral que não soube mobilizar o eleitorado…”
O diário realça uma inquietante ascensão dos partidos extremistas, da esquerda e da direita, acrescida de uma “total rejeição dos atuais partidos no poder”.
O 24 HEURES, de Lausanne, lembra que “a sexta eleição presidencial da Quinta República ficará nos anais da História da França. Pela primeira vez, a extrema direita, encarnada por Jean-Marie Le Pen, participará do 2° turno da eleição…”
Para o jornal, o resultado reflete insatisfação, inquietude e decepção dos eleitores franceses com uma campanha irrelevante, uma desconfiança em relação aos políticos, de direita e de esquerda… “O voto é uma advertência que deveria incitar à prudência no futuro”.
O TAGES ANZEIGER, de Zurique, constata que o resultado trouxe “surpresa e consternação” para os observadores. O diário zuriquense atribui a vitória lepenista a uma onda de protestos contra os partidos políticos instalados no poder e à reduzida participação eleitoral.
Inquietude dos políticos
O ministro suíço da Economia, Pascal Couchepin, resumiu o sentimento geral ao qualificar os resultados de “inimagináveis” e descrevê-los como “um horror para os franceses”.
Domingo à noite, após o primeiro turno das eleições, 3 dos 4 partidos governamentais da Suíça declararam-se inquietos com o avanço da extrema direita na França. Com exceção do SVP/UDC (União Democrática do Centro – direita dura) que se negou a qualquer comentário.
Segundo o porta-voz do Partido Socialista, Jean-Philippe Jeannerat, o resultado de Le Pen mostra que as redes da Frente Nacional permaneceram ativas na França.
E estima que os socialistas franceses pagaram pelos escândalos.
O líder da bancada do Partido Demcrata Cristão, Jean-Philippe Maître, constata que o avanço da extrema direita não é um fenômeno “franco-francês”. Traçando paralelo com a Suíça, o democrata cristão afirma que há “gente que se reconhece na UDC como franceses se reconhecem em Jean-Marie Le Pen”.
Para Maître, o desempenho de Le Pen é voto de protesto de eleitores cada vez menos seduzidos pelos grandes partidos. A derrota da esquerda se explicaria pelas “tergiversações” de um partido que não sabe que campo escolher, ou seja, que fica em cima do muro.
E por fim, o presidente do Partido Radical Democrático, Gerold Bührer, acha que o resultado de Le Pen é “um sinal perigoso” que revela “graves frustrações” dos eleitores.
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