Irã deve ser tratado com cuidado na questão nuclear
O suíço Bruno Pellaud afirma que o Ocidente deve mudar de estratégia para limitar as ambições nucleares do Irã.
Para o ex-dirigente da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), sediada em Viena, o objetivo só será alcançado evitando o confronto e numa reação de confiança com o Irã.
As opiniões Antigo vice-diretor da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), Bruno Pellaud, e do ex-embaixador suíço em Teerá, Tim Guldimann, foram publicadas segunda-feira em vários jornais. A Suíça representa os interesses dos Etados Unidos no Irã, já que Teerã e Washington não têm relações diplomáticas.
Depois da eleição, sexta-feira, de Mahmoud Ahmadi-Nejab, os Estados Unidos o qualificaram de inimigo da democracia e da liberdade.
A afirmação foi do Secretário da Defesa, Donald Rumsfeld, confirmam que os Washington considera o novo presidente iraniano como um fundamentalista. Na área nuclear, parece que os Estados Unidos exigirão um congelamento completo do programa de enrequecimento de urânio no Irã.
Para Bruno Pellaud e Tim Guldimann, essa visão estadunidense pode levar Teerã a “cessar a cooperação com a AIEA e tocar um programa nuclear clandestino, sem contole internacional”.
Por sua vez, a União Européia reiterou sua intenção de continuar, como previsto, os contatos com o Irã. Outro encontro está previsto em julho.
Bruno Pellaud et Tim Guldimann declaram que a maneira mais prudente para a União Européia consiste em obter um acordo com o Irã, oferecendo cooperação técnica em troca de uma limitação de suas atividades no setor nuclear.
swissinfo: O sr. aconselhou os Estados Unidos e a UE a evitarem um confronto e estabelecerem uma relação confiança depois da eleição de Mahmoud Ahmadi-Nejab. Esse confronto é iminente?
Bruno Pellaud: Não acho que seja para agora. Tim Guldimann e eu decidimos continuar o diálogo depois do resultado das eleições. De fato, trata-se de uma realidade com a qual devemos conviver.
O esboço de um acordo existe há algum tempo, mas os europeus – apoiados pelos estadunidenses – não querem mostrar um sinal de fraqueza. Contudo, o impasse atual não pode continuar. Nós achamos que romper as negociações com o Irã não é do interesse do Ocidente.
Não adianta insistir no abandono completo das atividades de enriquecimento de Urânio. Simplesmente, isso não é possível.
swissinfo: O Irã pode aceitar uma negociação?
B.P. : Eu não fiquei muito impressionado pelas declarações do novo presidente, que manteve todas as opções em aberto. Não há nada de novo.
O que me agrada é que, como eu, ele é engenheiro. Isso significa que ele buscará primeiro resolver os problemas antes de ser um idealista da fé muçulmana.
Nós devemos conviver com as realidades e elas não mudaram, nem para o Irã nem para a União Européia.
swissinfo: Alguém tem de fazer concessões, inclusive o Irã?
B.P. : Se o Irã for colocado contra a parece, poderá romper as relações com a AIEA. Aí não será mais possível verificar o que se faz em Teerã. Isso pode ser muito perigoso.
A proposta que que fazemos não algo para pessoal, de Tim Guldimann e Bruno Pellaud. Tivemos importantes discussões com diplomatas e cientistas, inclusive americanos.
Nós consideramos que é melhor deixar os iranianos continuarem seu programa com um número limitado de centífugas. Seria menos arriscado permitir um pequeno número de centrífugas do colocá-los em situação de romper as relações com a AIEA.
Os iranianos querem salvar a honra. Todo mundo pensa que o programa nuclear começou com a República Islâmica. Mas o Irão começou a produção de energia atômica em 1959, quando o shah comprou os primeiros reatores dos Estados Unidos.
É por isso que o Irã acha não lhe podem recusar uma tecnologia que países como o Japão e o Brasil provavelmente já detém, sem ser incomodados pela comunidade internacional.
swissinfo: O Irã não tem intenção de construir uma bomba atômica?
B.P. : Tenho a impressão que não. A AIEA diz que não tem prova que o Irã desenvolva um programa de armas nucleares. Seria inocência?
Minha análise é baseada no fato que o Irã aceitou investigações muito aprofundadas da AIEA, em dezembro de 2003. Se o país tivesse um programa militar, não teria autorizado esses controles, até porque não era obrigado a fazê-lo.
É verdade que o Irã tentou esconder certas coisas. Alguns pretendem – Estados Unidos e alguns europeus – que devemos recusar ao Irã todo o direito de enriquecer urânio.
Eu acho que o Irã está disposto a negociar porque quer entrar na Organização Mundial do Comércio (OMC) e ampliar suas relações comerciais com a Europa. O novo presidente declarou que seu país precisa de investimentos e de desenvolvimento internacional.
Entrevista swissinfo: Jonas Huges
Tradução e adaptação: Claudinê Gonçalves
As recomendações de Bruno Pellaud e Tim Guldimann (ex-embaixador em Teerã) foram publicadas nos jornais Le Temps, Financial Times, Le Monde e Süddeutsche Zeitung, no início da semana.
O responsável da política exterior da UE, Javier Solana, declarou que as negociações com o Irã continuarão, apesar da eleição de um conservador à presidência.
Alemanha, França, Reino Unido e Estados Unidos pedem que Teerã renuncie ao seu programa de enriquecimento de urânio. O Irã rejeita a proposta.
– Bruno Pellaud e Tim Guldimann propõem uma um plano em duas fases para estabelecer relações de confiança entre o Irã e o Ocidente, na área nuclear.
– Na primeira etapa, o Irã deveria ser autorizado a ter um programa limitado de enriquecimento de urânio, sob controle internacional.
– Cinco anos depois, a União Européia poderia fornecer uma colaboração técnica e ampliar as relações comerciais com o Irã.
Certificação JTI para a SWI swissinfo.ch
Mostrar mais: Certificação JTI para a SWI swissinfo.ch
Veja aqui uma visão geral dos debates em curso com os nossos jornalistas. Junte-se a nós!
Se quiser iniciar uma conversa sobre um tema abordado neste artigo ou se quiser comunicar erros factuais, envie-nos um e-mail para portuguese@swissinfo.ch.