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Médicos saem às ruas pela primeira vez

Médicos diante do Palácio Federal, em Berna. SwissTXT

Mais de de 10 mil clínicos gerais se manifestaram diante do Palácio Federal, em Berna, neste sábado. Foi o primeiro protesto público dos médicos na Suíça.

Os clínicos gerais sempre tiveram um papel importante na saúde pública mas se sentem ameaçados pela política atual e afirmam que a profissão pode acabar.

Algo de grave deve estar ocorrendo na política de saúde pública na Suíça. Tradicionalmente situados ao centro e à direita do espectro partidário suíço, os médicos sairam às ruas em massa pela primeira vez sábado, 1° de abril.

Mais de 10 mil profissionais participaram, pela primeira vez, de uma manifestação diante do Palácio Federal em Berna, o palácio do governo suíço.

– Estou na profissão há 22 anos e situação não cessa de se degradar. É preciso dizer que não concordamos, disse a swissinfo o clínico geral Pierre Koler, de Lausanne, oeste da Suíça.

Os clínicos gerais estão na origem da manifetação pública de protesto ocorrida sábado (1° de abril) em Berna, capital suíça.

A medicina geral, de primeiros socorros, qualidade, econômica e preventiva está ameaçada de desaparecer – afirmam os profissionais – se a falta de atratividade da profissão continuar.

“Ameaçada de morte” ou “Vamos desaparecer” eram frases estampadas em muitas bandeiras dos manifestantes, muitos vestidos com a capa branca de trabalho.

Os médicos generalistas reivindicam melhores condições se trabalho, mais atenção do meio político, melhor formação universitária e prática adequada nos consultários.

Mais de 300 mil assinaturas

Os médicos não chegaram a Berna sem apoio prévio. Entregaram à Chacelaria federal um abaixo-assinado com 301 mil assinaturas “contra o enfraquecimento da medicina familiar e a ameaça da escassez de médicos”.

– Não é uma brincadeira de 1° de abril. Mais de 300 mil assinaturas não podem ser ignoradas, afirmou Hansueli Späth, presidente da Associação Suíça dos Clínicos Gerais.

– Estou em cólera contra os políticos, as autoridades e as seguradoras. Eles afirmam sempre apoiar a medicina familiar as quando surge o mínimo problema, eles nos abandonam, afirma Margot Enz, membro da direção da Sociedade Suíça de Medicina Geral.

Evolução negativa

Para a senadora socialista Simonetta Sommaruga, as preocupações dos clínicos gerais são justificadas. Em seu discurso na manistação, no entanto, ela incitou-os a uma maior participação, afirmando que o modelo do médico sózinnho no seu consultório está esgotado e que é preciso trabalhar mais em equipe.

– Estamos descontentes que nosso trabalho não seja considerado de maneira positiva, afirmou Beat Rössler, vice presidente da Socidade Suíça de Medicina Interna.

Impedir o fim da medicina

O clínicos gerais não fazem declarações espetaculares na tv. Ao final da manifestação em Berna Hansueli Späth foi mais incisivo:

– Nós vamos impedir a morte do médico de família. Esta manifestaão é só um começo, pensem nisso, advertiu.

As economias do ministro Couchepin

As decisões do governo federal (Conselho Federal) anunciadas em novembro foi a gota d´água para realizar a manifetação. O ministro do Interior Pascal Couchepin – a quem compete também o setor da Saúde Pública – tomou várias medidas destinadas a economizar 86 milhões de francos por ano na saúde pública. Quase dois terços dos cortes referem-se atingem os exames de laboratório.

A medida atinge diretamente os clínicos gerais que fazem análises nos próprios consultórios. Por isso os médicos se sentem ameaçados. Em média, os generalistas trabalham entre 60 e 80 horas por semana, muitas vezes à noite e nos serviços de urgência. Nessas condições, eles acham que a profissão perdeu seu atrativo.

swissinfo

O ministro do Interior, Pascal Couchepin, responsável pela Saúde, diz que está disposto a negociar mas que acha que as reformas beneficarão os clínicos gerais “mais solicitados”.

Os médicos querem passar uma mensagem humanista no debate sobre a política e saúde, afirma o presidente da FMH, Jacques de Haller.

Esse humanismo se opõe à tendência atual, não é de esquerda nem de direita, é um humanismo médico, segundo o presidente da Federação dos Médicos Suíços.

Ele afirma que os médicos que trata-se de um problema de sociedade e que a resposta não é somente econômica.

Entre os problemas, afirma Haller, estão as condições de trabalho, a ecologia, os perigos do tráfego, a explosão dos custos dos seguros, etc.

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