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“No Iraque, é necessário reconstruir tudo”

A situação de vários hospitais no Iraque é emergencial. Keystone

Presente no Iraque desde o início da guerra, Roland Huguenin, avalia os desafios e as ameaças para o futuro do país.

O porta-voz do Comitê Internacional da Cruz Vermelha em Bagdá explica para o jornalista Frédéric Burnand por que o Iraque atravessa uma situação crítica.

A insegurança continua a impedir que as principais organizações humanitárias atuem no Iraque. O Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICR) continua a ser a única instituição humanitária a atender – pelo menos parcialmente – a população iraquiana.

Um dos seus funcionários, Roland Huguenin, porta-voz da CICR em Bagdá, já tem anos de experiência nesse país, devido às suas missões nos anos 80 e 90.

swissinfo: Desde o início do conflito no Iraque já era discutida a possibilidade de uma crise humanitária no Iraque. Qual é a situação atual?

Roland Huguenin: Eu creio que o país encontra-se num cruzamento decisivo e potencialmente perigoso. É urgente restabelecer suas infra-estruturas de base.

Por exemplo: os bombardeios destruíram todas as centrais telefônicas. Isso paralisa a vida civil e econômica do país. As redes elétricas também foram totalmente danificadas. Ninguém sabe ainda quando e como eles serão consertadas.

Quase todos os ministérios também foram incendiados. Apenas o Ministério do Petróleo não se salvou, pois o prédio está sob proteção das tropas americanas. Esses são apenas alguns exemplos da destruição sofrida pelo Iraque.

Agora se trata de reconstruir um país por inteiro. Se não houver sinais claros para a população iraquiana, de que a reconstrução ocorrerá, a situação interna do país pode se tornar muito perigosa e decorrer em conflitos sociais graves.

swissinfo: Quais são as necessidades mais prementes da população?

De imediato é necessário restabelecer os sistemas de fornecimento de água e eletricidade. Esse é o problema mais urgente, do qual depende todo o resto da reconstrução.

Essa é a razão pela qual o Comitê Internacional da Cruz Vermelha concentra seus esforços, sobretudo, na recuperação do fornecimento de água potável e no fornecimento provisório de água para hospitais que foram cortados do sistema.

Esse é um esforço considerável. Mas como a CICR trabalha há 12 anos nesse setor, suas competências são muito bem recebidas nesse momento. Por exemplo, nós conseguimos reunir engenheiros iraquianos dos serviços de água e estamos trabalhando agora intensamente na recuperação do fornecimento de água potável em todo o país. Essa é a única maneira de evitar as epidemias.

swissinfo: E qual a porcentagem do sistema de fornecimento de água potável que já foi recuperado por vocês?

Em Basra, nós conseguimos recuperar uma parte do fornecimento de água, que havia sido destruído várias vezes. Em Bagdá o sistema de fornecimento é vasto e complicado, tendo várias estações. Nós estamos agora trabalhando na canalização principal da cidade e numa estação de bombeamento, que alimentará todo os subúrbios da cidade. Esperamos assim que, em pouco tempo, todos os grandes centros urbanos recuperem seu fornecimento de água.

swissinfo: o presidente da CICR, Jakob Kellenberger, lançou um apelo às forcas da coalizão para que elas restabeleçam a ordem e que elas assegurem a segurança das organizações humanitárias. Qual é a situação atual?

Desde o primeiro dia da ofensiva, nós pedimos às forcas da coalizão para assegurar a proteção dos hospitais. Dessa forma, um ou dois hospitais estavam seguros, desde o inicio da ofensiva.

Porém a metade de outros centros hospitalar foi atacada. Alguns desses hospitais foram completamente destruídos; outros apenas parcialmente.

É necessário reconhecer que as tropas americanas não estão preparadas a cumprir funções de polícia. Porém, segundo as convenções internacionais, forças de ocupação devem assegurar a segurança da população, no momento que elas ocupam o lugar do Estado que deixou de existir.

swissinfo: Você pode avaliar o número de mortos e feridos iraquianos?

Em Bagdá, onde nós estávamos sempre presentes, haviam centenas de feridos diariamente logo após os primeiros ataques aéreos. Depois, durante a primeira noite da ofensiva terrestre, passamos a ter uma centena de vítimas por hora. Os hospitais estavam totalmente sobrecarregados. Enfim, a última fase da ofensiva terrestre provocou centenas de feridos por dia.

No momento não temos informações sobre o resto do país. Mas é evidente que houve milhares de vítimas iraquianas.

Swissinfo, Frédéric Burnand, Genebra
tradução: Alexander Thoele

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