O combate está apenas começando
A imprensa suíça saúda a aprovação dos acordos de Schengen/Dublin e insiste também na derrota sobrida pela direita mais conservadora do país.
Mas todos os analistas concordam que o verdadeiro combate será no plebiscito de 25 de setembro, quando os suíços votarão a extensão do acordo de livre circulação das pessoas aos dez novos países-membros da UE.
Os jornalistas suíços têm a reputação de serem favoráveis a uma aproximação do país com a União Européia (UE). A leitura da imprensa nesta segunda-feira desmente essa reputação.
Os editoristas saúdam de fato o resultado do plebiscito que aprovou a participação da Suíça aos acordos de Schengen (segurança) e Dublin (asilo).
Mas o tom das análises não é nada triunfalista. Ao votarem a favor dos acordos, os suíços não deram um grito de amor à UE mas mostraram-se apenas pragmáticos.
“A Suíça queria claramente os acordos de Schengen e Dublin e não a UE – e outros acordos bilaterais, lembra o Tages Anzeiger, de Zurique. A alta taxa de participação e o resultado claro fortalecem que a continuidade da via bilateral é do interesse da Suíça.”
Derrota para a direita isolacionista
Os comentaristas constatam que, por ter combatido sózinha, a União Democrática do Centro (UDC, partido mais à direita entre os quatro maiores do país) não conseguiu reverter a tendência. A UDC era contra os acordos e o resultado é uma derrota para o partido.
A UDC usou ainda desta vez, uma campanha emocional, baseada no medo de abolir as fronteiras. “Felizmente , o recurso a má fé e até mesmo à mentira, não surtiu resultado”, afirma a Tribune de Genebra. “Os medos utilizados durante a campanha não conseguiram abalar a confiança popular na via bilateral”, afirma por sua vez o Le Matin, de Lausanne.
“O resultado de Zurique foi o mais interessante, assinala o Le Temps, de Genebra. Na base da ala mais dura da UDC, os acordos foram aprovados por 58%. É sem dúvida a melhor lição de domingo. É inquietante para a direção da UDC, mais isolado que nunca em sua própria base”, comenta o jornal.
Mas, para a maioria dos comentaristas, se a UDC perdeu uma batalha, não significa que perdeu a guerra. “A UDC perdeu mas não dobrou”, adverte ainda o
Le Temps.
O verdadeiro combate vem aí
A UDC ainda tem pode reverter a situação porque o debate mais acirrado sobre a UE vai começar agora.
“Essa foi apenas uma volta de aquecimento, resume a Basler Zeitung, de Basiléia. Brevemente vamos votar sobre a livre circulação das pessoas e, portanto, sobre os postos de trabalho no país. A luta será dura e o resultado mais apertado.”
La Regione tem a mesma opinião. O diário do Ticino, de língua italiana, saiu com a manchete: “O governo ganhou o primeiro tempo mas o jogo ainda não terminou.”
Para praticamente todos os editorialistas, o debate acerca do plebiscito de 25 de setembro próximo será feroz. A Suíça já tem um acordo com a UE sobre a livre circulação das pessoas mas os eleitores vão votar sua extensão aos dez novos países da UE.
“Antes dessa votação, os adversários vão insistir ou mesmo intensificar sua campanha baseada no medo”, prevê o Tages Anzeiger. As premissas já estavam presentes na campanha sobre Schengen/Dublin.
“O problema da campanha para o voto de domingo não foi ter chegado a um resultado apertado mas o fato dela ter se focalizado em elementos emocionais ao invés de tratar do interesse nacional, a longo prazo. O debate que começa para o plebiscito de setembro já está totalmente pervertido”, lamenta o 24 Heures, de Lausanne.
Para 25 de setembro, a UDC terá ainda mais força porque não estará só. “A ampla aliança que defendeu Schengen/Dublin vai rachar à esquerda. Os sindicatos terão dificuldade em mobilizar suas bases para votar “sim”, prevê o Bund, de Berna.
“O povo votará “sim” à extensão da livre circulação somente se isso não significar um “dumping” salarial, afirma o Blick, de Zurique.
União homossexual bem acolhida
Os analistas se concentram principalmente nos acordos de Schengen/Dublin. Mas os editorias que abordaram a união homossexual foram bem acolhidos.
Todos falam de um voto de abertura frente ao uma minoria. Elogiaram também a campanha sem radicalismos contra a comunidade homossexual.
“Os homossexuais não apenas tolerados mas doravante constituem uma minoria reconhecida pela sociedade. Esse foi o significado do voto de domingo sobre a parceria registrada”, conclui a Liberté., de Fribourg.
swissinfo
54,6% dos eleitores suí4os aceitaram os acordos de Schengen/Dublin
A taxa de participação foi de 56%
10 cantões e dois semi-cantões votaram contra os acordos
Os adversários são principalmente das zonas rurais da Suíça central e do Ticino (sul, de língua italiana).
A Suíça participará dos acordos a partir de 2008
Os suíços também aprovaram por 58% a união homossexual
Certificação JTI para a SWI swissinfo.ch
Mostrar mais: Certificação JTI para a SWI swissinfo.ch
Veja aqui uma visão geral dos debates em curso com os nossos jornalistas. Junte-se a nós!
Se quiser iniciar uma conversa sobre um tema abordado neste artigo ou se quiser comunicar erros factuais, envie-nos um e-mail para portuguese@swissinfo.ch.