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Política externa suíça: neutra e ativa

A ministra Micheline Calmy-Rey discursa para os embaixadores suíços presentes em Bern. Keystone

Presente na abertura da conferência anual de embaixadores em Berna, Micheline Calmy-Rey criticou mais uma vez a guerra no Iraque e defende a reforma da ONU.

Ela também anunciou que, dentro do plano de cortes de despesas, o governo estuda o fechamento de representações diplomáticas suíças no exterior.

“A intervenção no Iraque foi realizada em desrespeito à Carta das Nações Unidas e provocou uma crise no sistema de segurança coletiva”, afirma a ministra suíça das Relações Exteriores Micheline Calmy-Rey, no discurso de abertura da conferência anual de embaixadores, que se realiza essa semana em Berna.

“Vivemos atualmente um caso de anarquia, provocado por uma decisão não-autorizada. O mesmo também pode ocorrer quando se autoriza um ataque sem fundamentos”.

Instâncias internacionais

Para a chefe da diplomacia suíça, “o Conselho de Segurança da ONU está assumindo cada vez mais o papel de legislador internacional”.

Como exemplo ela cita a resolução 1373, decidida pelo mais importante grêmio da ONU pouco depois do ataque de 11 de setembro, nos Estados Unidos. Através deste, o órgão enviou pela primeira vez “uma lista completa de tarefas para seus países-membros”.

“Esse comportamento aumentou a desconfiança em relação ao Conselho de Segurança e não promove a solidariedade entre os países que fazem parte da ONU”, critica Calmy-Rey.

Do ponto de vista do governo suíço, a reestruturação da Organização das Nações Unidas é inevitável. Essa reforma deve transformá-la “num instrumento respeitado e efetivo”.

A resolução 1373 exige um combate globao contra o terrorismo. Os países devem impedir a proteção ou passagem nos seus territórios das pessoas envolvidas em atos criminosos, o congelamento de bens utilizados no terror e até a modificação das suas leis, caso seja necessário.

Combate à pobreza

Calmy-Rey também declarou aos 100 embaixadores e 30 chefes de escritórios internacionais do Departamento de Desenvolvimento e Cooperação (DEZA), que o objetivo de reduzir a pobreza pela metade até 2015 não será alcançado.

Os recursos suíços empregados na ajuda aos países mais pobres estão congelados. Motivo: os cortes drásticos de despesa realizados pelo governo. Para a ministra, o esforço não é suficiente para alcançar as metas propostas para o milênio, como decidiu a comunidade internacional.

“Diariamente mais de 25 mil pessoas morrem de fome”, lembra Calmy-Rey. Ao mesmo tempo, é cada vez mais difícil para a Suíça gastar 0,4% do Produto Interno Bruto até 2010 em cooperação internacional para o desenvolvimento.

Cortes nos projetos sociais

De acordo com o relatório anual do DEZA e da Secretaria Federal de Economia, o governo suíço aplicou em 2003 0,38% dos PIB em cooperação internacional. Para 2004, os recursos foram reduzidos em 57 milhões de francos.

Em 2007, o orçamento para os projetos de apoio ao desenvolvimento sofrerão cortes de mais 81 milhões de francos. Um ano depois, os cortes serão de 66 milhões de francos.

As conseqüências de problemas mundiais como doenças, fome, guerras civis e crises financeiras já não poupam as fronteiras suíças. Por isso o investimento no desenvolvimento dos países mais pobres e no processo de paz é também muito importante para o mundo desenvolvido, sobretudo para um país como a Suíça.

Cortes de embaixadas

Micheline Calmy-Rey também lembrou que as representações diplomáticas suíças também terão de contribuir para o plano de corte de despesas do governo federal. Este analisa atualmente quais embaixadas ou consulados poderão ser fechados.

O lema da conferência de 2004 é “o mundo em 2015”. Porém a ministra considera muito grande o risco de se realizar prognoses do futuro. “Política internacional não passa, muitas vezes, de administração de crises. Por isso nós reagimos a eventos, que já escaparam a muito tempo do nosso controle”.

Neutralidade da Suíça

No seu discurso, Camly-Rey coloca também em debate um pilares da diplomacia suíça: a neutralidade. “Com a globalização da economia e dos conflitos, essa posição do nosso país ainda é moderna?”, pergunta-se a ministra. O parceiro mais importante da Suíça é a União Européia e essa ainda não se esforça pela hegemonia do poder.

Um dos objetivos mais importantes do governo em relação à União Européia é a proteção do “respeito formal” da independência suíça. Ao mesmo tempo, o país dos Alpes quer aumentar sua integração no mercado interno desse grande bloco econômico e corrigir as desvantagens decorridas do fato de não pertencer à UE.

swissinfo com agências

100 embaixadores suíços e 30 chefes regionais do Departamento de Desenvolvimento e Cooperação (DEZA) se reunem até a quinta-feira (26.08) na tradicional conferência anual.
Tema principal de 2004: “O mundo em 2015”.
Outros temas debatidos: comunicação, política de relações econômicas internacionais e as ações da organização de promoção externa da Suíça “Präsenz Schweiz”.

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