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Quando o Tibete desafia o regime chinês

Domingo 16 de março, o exército chinês nas ruas de Lhassa. AFP

A cinco meses dos Jogos Olímpicos, Pequim acaba de sofrer um derrota ao perder parte de sua credibilidade. A análise é da especialista e grande amiga do Tibete Claude B. Levenson.

A ocupação de Lhassa pelas forças chinesas faz ressurgir as lembranças da Praça Tien’an-men.

Como num cenário ruim, os mestres da Cidade Proibida são confrontados ao que eles sem dúvida mais temiam, o desafio tibetano. A reação à expressão de uma frustração profunda, que eles mesmo alimentaram durante decênios de ocupação, atesta, aos olhos do mundo, a fragilidade da reinvindicação sobre um país vizinho ocupado pela força das armas faz meio século.

De fato, o significado dos movimentos de protesto, inicialmente pacíficos e que degeneraram em razão da brutalidade da repressão – reação de medo e de insegurança – é a ilegitimidade da presença chinesa no Tibete.

Presença visível das bandeiras

Nem a ocupação militar, nem o consumismo intensivo lançado no início do século pelo “programa de desenvolvimento do Oeste” bastaram para apagar o sentimento nacional dos tibetanos nem o gosto pela liberdade.

Essa afirmação identitária, notadamente pela presença visível de bandeiras tibetanas – proibidas e objeto de severas penas de prisão a seus portadores – demonstra que os tibetanos querem preservar sua alteridade sobre seu solo ancestral frente à ameaça real de sinização acelerada imposta por uma política deliberada.

Para as autoridades chinesas, a questão é importante. Ao afirmarem que a ocupação é destinada a levar “a civilização a um povo atrasado e bárbaro”, elas revelam uma atitude colonialista que pareciam fora de moda.

Urânio, madeira, petróleo….

Sem falar que o afluxo descontrolado de colonos provoca uma exploração das riquezas naturais – elas são valiosas nos planaltos tibetanos, da água ao urânio passando pela madeira e pelo petróleo – em benefício de uma metrópole distante e sedenta de alimentar sua máquina econômica aquecida.

Ao ver agora a ocupação militar em Lhassa e em localidades habitualmente bem tranqüilas e fora da região dita autônoma, as lembranças de Tien’an-men ressurgem fatalmente, embassando assim a bela vitrina que o regime tenta limpar para sua grande glória.

De repente, os atletas se questionam e os governos democráticos estão visivelmente embaraçados: apelar gentilmente pela “moderação” um regime ditatorial não é entrar no jogo ao invés de defender dignamente seus próprios princípios?

Claro, ouve-se a réplica imediata: “e os interesses econômicos?”. Justamente, os laços econômicos nada têm a ganhar do respeito dos direitos fundamentais daqueles que são vítimas do “milagre” chinês?

O Dalaï-Lama é contra o boicote

Se a idéia de um boicote é novamente abordada – houve precedentes como os JO de Moscou, devido a invasão do Afeganistão, e os JO de Atlanta – isso não é obrigatoriamente a solução de um problema negligenciado durante muito tempo.

O Dalaï-Lama é contra o boicote. Segundo ele, é importante verificar se os compromissos de respeitar os direitos humanos assumidos pelos dirigentes chineses serão respeitados.

Ao solicitar uma enquete independente sobre o que ocorre no Tibete, doravante fechado e proibido aos estrangeiros, especialmente aos jornalistas, o líder tibetano exilado demonstra à comunidade internacional sua vontade persistente de diálogo.

Berlim 1936

Não ouvi-lo traria lembranças ainda mais sinistras que os de Moscou ou Atlanta: os de Berlim em 1936.

Ora, se a história tem alguma coisa a ensinar, é justamente que ao querer fazer onda que se provoca o naufrágio do navio.

O destino dos tibetanos e de seu país é menos exótico e mais terra-a-terra do que alguns têm tendência a crer: depois dos JO, o assunto não é somente da esfera de Pequim, mas interessa o resto do mundo no qual não existe mais um país totalmente independente.

swissinfo, Claude B. Levenson

O Dalaï Lama anunciou terça-feira, 18, que se demitirá das função de chefe político se as violências perpetradas por seus compatriotas no Tibete tornarem-se incontroláveis.

As manifestações contra o regime chinês, iniciadas pacificamente dia 10 de março, degeneraram posteriormente e foram duramente reprimidas pela polícia chinesa, cujo dados oficiais indicam 16 mortos e dezenas de feridos.

O governo tibetano no exílio fala em mais de 80 mortos.

O primeiro ministro chinês Wen Jiabao acusou terça-feira os tibetanos de querem sabotar os esforços de Pequim para organizar os Jogos Olímpicos de verão.

A Suíça esteve entre os primeiros países a reconhecer a República Popular da China. Foi também a primeira a acolher refugiados tibetanos desde o início do exílio em 1959/1960.

A comunidade tibetana na Suíça, com quase 3 mil pessoas atualmente foi, durante muito tempo, a maior fora do continente asiático. Ela encontrou na Suíça condições de uma integração gradativa e de preservação de suas tradições.

Os tibetamos vivem essencialmente na Suíça de expressão alemã.

O monastério de Rikon tem uma reputação digna de seu título de Instituto de Altos Estudos Tibetanos e tem uma rica biblioteca e cursos de filosofia e de religião.

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