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Suíços na linha de demarcação coreana

Observadores suíços na entrada do campo em Panmunjom, em 1983. Keystone Archive

Micheline Calmy-Rey foi uma das primeiras representantes de um governo estrangeiro a atravessar a famosa zona desmilitarizada localizada entre as duas Coréias.

Há mais de cinqüenta anos essa área é vigiada por uma missão suíça, encarregada de supervisionar o cessar-fogo.

“Antes a nossa posição era um pouco diferente, porém o acordo de armistício de 1953, onde a Suíça era um dos países fiadores, ainda está em vigor”, explica Adrien Evéquoz, chefe da delegação suíça no grupo de países neutros na observação do armistício na Coréia (CSNN), baseada em Panmunjom. “Essa é uma missão que não tem apenas um aspecto figurativo”.

Essa comissão de países terceiros tem como principal missão separar as forças armadas, que ainda estão tecnicamente em guerra desde o início do conflito.

Um general suíço

Devido a uma questão protocolar, Evéquoz é o único oficial suíço a ter o posto de general. Isso é necessário para que o militar possa negociar, em nível de igualdade, com seus interlocutores na CSNN, todos generais.

“Nossos predecessores efetuavam inspeções de tropas e de armas que penetravam em Panmunjom”, conta o militar suíço. “Atualmente o nosso trabalho é manter a estrutura de paz e lembrar aos coreanos do norte e do sul que o armistício ainda está em vigor”.

A pequena tropa de cinco oficiais suíços está estacionada sobre a antiga linha de combates, localizada na fronteira entre os dois países inimigos. Sua missão é garantir o respeito à trégua concluída em 1953, após uma guerra que custou a vida de 600 mil homens e envolveu mais de vinte nações.

Absolutamente neutra, a organização CSNN é composta pela Suíça e a Suécia (na parte sul), e da Polônia e Tchecoslováquia (na parte norte). Porém esses dois últimos países perderam suas prerrogativas com o fim da Guerra Fria.

No passado, as tarefas de supervisão, observação, inspeção e investigação exigiam a presença de 93 soldados suíços. Hoje, eles não passam de cinco (afora quatro militares suecos).

Uma missão muito particular

“A CSNN continua em Panmunjon”, explica Adrien Evéquoz, “já que o sentido fundamental da sua existência não foi modificado”.

O transpor da linha de demarcação continua sendo um evento extraordinário. Em 1994, durante a primeira crise nuclear mundial, o antigo presidente americano Jimmy Carter teve esse privilégio.

Micheline Calmy-Rey, a chefe da diplomacia suíça, acaba de ser uma das personalidades agraciadas. Sua passagem pela linha demonstra que a Suíça ainda tem uma relação de confiança com as duas Coréias. Isso nem sempre ocorre: em 2001, os dirigentes da Coréia do Norte recusaram essa homenagem ao primeiro ministro da Suécia.

Uma área protegida

Todas as terças-feiras, pontualmente às dez horas, os observadores suíços e suecos encontram-se na fronteira.

“Trata-se de um símbolo”, explica o coronel Christian Studer, adjunto do general Evéquoz. “Esse gesto mostra aos coreanos do norte que nós cumprimos nossa missão com seriedade”.

Christian Studer, ou um dos seus colegas, atravessa a barreira formada pelo portão de aço e arame farpado que cercam o campo suíço, para atravessar por uma passarela de madeira, pintada de azul claro, a cor da bandeira das Nações Unidas.

Ele vai ao acampamento que forma a “linha de conferência”, situado exatamente sobre a fronteira da Coréia do Norte e do Sul. Essa linha faz parte da zona comum de segurança, uma ilha no meio da zona desmilitarizada, com 241 quilômetros de comprimento e 4 de largura.

Proteção de armas

Para um visitante ter acesso ao campo suíço, é necessário atravessar as inúmeras barragens e campos minados da zona desmilitarizada, cortejado por um grupo de militares americanos armados até os dentes.

No campo suíço não existem armas. No meio dessa área existe uma pequena casa vermelha, cercada por uma vegetação e que, na sua função de clube social, quase faz esquecer a tensão na zona fronteiriça.

O silêncio só é incomodado pela música de propaganda difundida pelos auto-falantes que as autoridades da Coréia do Sul e do Norte espalharam ao longo da linha de demarcação da fronteira.

O clube suíço dispõe de uma mesa de sinuca e uma televisão. “As vezes, nós assistimos o noticiário da Coréia do norte”, conta Christian Studer. Além de servir de espaço de lazer, o “clube” também é utilizado para receber diplomatas e outras personalidades. Três sinos de vacas estão pregados num local próximo a porta de entrada. Numa vitrine estão expostas facas e bandeiras suíças, além das camisas muito queridas pelos visitantes americanos e sul-coreanos.

Aguardando a paz

Os militares suíços passam seus fins-de-semana em Seul. Eles não são autorizados, oficialmente, a ir para a Coréia do Norte.

A missão suíça irá existir até o momento em que as duas Coréias assinem um verdadeiro tratado de paz. Combinando uma boa dose de diplomacia e de relações públicas, essa continuidade faz parte integrante do papel de uma Suíça garantidora de um armistício assinado há mais de cinqüenta anos.

swissinfo, Juliet Linley
traduzido por Alexander Thoele

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