Suíços sem pressa de aderir à Europa
Três quartos dos eleitores suíços rejeitaram claramente proposta « Sim à Europa », em votação popular realizada no domingo, 4/3. O voto é interpretado oficialmente como sinal de uma rejeição de negociações imediatas sobre adesão à União Européia, ficando o governo com a iniciativa de lançá-las em momento oportuno, provavelmente dentro de 4 anos.
A iniciativa popular – instrumento da democracia direta – propunha que o governo iniciasse negociações imediatamente. Até porque se pode constatar que o processo de adesão é muito longo.
O governo não viu as coisas com os mesmos olhos. Desde meados de 1995 havia negociado acordos bilaterais (transportes, livre circulação de pessoas, contratos públicos etc) destinados justamente a compensar o fato de a Suíça estar fora da União Européia.
Esses acordos foram aprovados pelo povo em maio do ano passado, mas ainda estão em fase de ratificação pelos 15 países da União. Estimava então que seria colocar o carro na frente dos bois solicitar negociações de adesão logo depois de 4 anos de debates para concluir os acordos bilaterais. Sugeriu que se votasse Não à proposta, desejando iniciar as negociações em momento propício, indicando que a data mais plausível é 2004. Para o governo – que fala de um « não razoável » – o Não significa : adesão sim, mas em ritmo lento.
A posição do governo veio dar munição a meios de direita contrários a uma adesão que com o anúncio dos resultados podiam cantar vitória.
Resta que para os membros do Novo Movimento Europeu que lançou a iniciativa a votação de domingo foi uma grande decepção. Ainda há dois meses, sondagens indicavam que o resultado podia até ser positivo. Com o passar das semanas já sabiam que a proposta seria rejeitada, mas esperavam que pelo menos 40 por cento dos eleitores dissessem Sim.
O que se questiona agora é como vai reagir Bruxelas, sede da União Européia. As relações entre a Suíça e a União Européia já passam por uma fase um tanto delicada – em função particularmente de fraude aduaneira, de evasão fiscal em benefício da Suíça – e deverá ser difícil convencer a liderança da União do real desejo dos suíços de aderir…
O governo suíço deve em todo o caso recear que o Não maciço seja interpretado como sinal de hostilidade e de vontade dos suíços de ficarem fora da União Européia.
O povo suíço votou ainda sobre duas outras iniciativas populares: “Rua para Todos” propondo limitação da velocidade a 30 km/h nas cidades, com exceção das artérias principais, e ainda uma iniciativa destinada a obrigar aos médicos e farmaceuticos receitarem remédios mais baratos, como os genéricos.
Mais uma vez foram duas vezes NÃO.
A proposta de limitar a velocidade foi rejeitada por 79% dos eleitores e a iniciativa destinada a privilegiar os remédios mais baratos foi recusada por 69%.
A participação foi de 52%, a melhor em 9 anos (na Suíça o voto não é obrigatório como no Brasil).
swissinfo com agências.
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