Tanque de guerra para salvar vidas
Essa máquina parece mais um tanque de guerra, mas não foi construída para destruir. O Digger-2 é produzido na Suíça e sua principal missão é desminar 1.200 km de estradas no Sudão.
A tecnologia pode ser empregada nos mais de 60 países, onde minas causam diariamente centenas de mortes.
Poucas pessoas no mundo sabem como é arriscado o trabalho de desminagem. Porém mesmo os mais experimentados profissionais, que arriscam suas vidas diariamente em várias partes do mundo, não conseguem limpar mais do que 50 metros quadrados de chão por dia.
As minas antipessoais precisam ser retiradas à mão. As máquinas utilizadas hoje em dia pelos exércitos para desminagem são caras e não servem para o trabalho em tempos de paz.
Alternativa se chama Digger
A Fundação Digger DTR, com sede em Tavannes, no cantão de Berna, trabalha há sete anos no desenvolvimento de tecnologias de desminagem mais eficazes e baratas.
Em 2002 seus técnicos conseguiram desenvolver sua primeira máquina: o Digger-1, que funciona por controle remoto. Ela elimina com uma serra especial a vegetação e prepara o terreno para o trabalho de desminagem. O veículo é capaz de suportar as explosões de minas graças às paredes espessas da sua couraça de metal.
Testes no Kosovo
O protótipo foi testado com sucesso no Kosovo, uma província autônoma da Sérvia que está sob administração da ONU desde 1999. Ele conseguiu desminar grandes extensões de terra duas vezes mais rápido do que as técnicas tradicionais.
– Além disso, cerca de oitenta por cento dos acidentes com pessoas foram evitados durante esse período – afirma Thomas Augsburger, engenheiro mecânico da Fundação Digger DTF.
O método tradicional de preparar o terreno para a desminagem consome uma grande parte do tempo necessário para retirar essas perigosas peças. O risco é constante. Especialistas acreditam que cerca de dez acidentes fatais na ex-Iugoslávia ocorreram nessa fase do trabalho.
O Digger-2 pode ainda mais
O Digger-2, que mais lembra um tanque de guerra, foi construído no cantão de Berna. Sua principal função é levar as minas à detonação. Isso ocorre graças a um grande tambor preso na escavadeira, no qual são presas pesadas correntes de aço. Ele gira à grande velocidade (mais de mil giros por minuto) e as correntes escavam até vinte metros de profundidade no solo.
O tanque pesa 6,5 toneladas. Ele é capaz de suportar explosões de minas antipessoais sem problemas e sofrer alguns danos no caso das minas antitanques. Porém a construção especial do veículo faz com que estes possam ser reparados rapidamente.
Trabalho no Sudão
No final de janeiro, Thomas Augsburger e seu colega Frank Oberli, também membro da Fundação Digger DTR, irão viajar para Mombaça, no Quênia. Lá eles irão receber o Digger-2, que será transportado num caminhão militar até o sul do Sudão.
Juntamente com a Fundação Suíça para Desminagem (FSD, na sigla em inglês), a equipe irá desminar 1.200 quilômetros de estradas entre o Quênia e o Sudão. Apenas quando a região estiver segura, as agências de trabalho humanitário poderão ajudar a população do país destruído por mais de 21 anos de guerra civil.
Durante seis meses os suíços irão trabalhar no local e instruirão técnicos locais a manejar o Digger-2.
Funcionário da FSD morto
No final de novembro do ano passado, dois funcionários da FSD foram assassinados por rebeldes do grupo paramilitar Lord’s Resistance Army (LRA). Por essa razão o grupo humanitário suíço interrompeu os trabalhos temporariamente.
Nathan Kunz, da fundação Digger DTR, que irá acompanhar mais tarde seus colegas no Sudão e entregar oficialmente o tanque aos suíços e sudaneses do FSD, receia viver o mesmo perigo, mas viaja com tranqüilidade:
– Iremos trabalhar nas mesmas condições de segurança como nas missões da ONU. Caso ocorram ameaças ou situações de risco podemos ser evacuados rapidamente. Ao mesmo tempo iremos trabalhar ao norte de Juba, uma área menos perigosa do que a parte sul. O Exército de Libertação do sul do Sudão, que hoje já está integrado nas forças armadas oficiais do país, será responsável pela nossa proteção – afirma.
Interesse no Digger-2
Se os resultados da missão no Sudão forem positivos, o Digger-2 deve ser produzido em série. Kunz fala em 10 tanques por ano.
– O interesse das organizações de trabalho humanitário especializadas na desminagem, como é o caso da FSD, é muito grande. Também governos e forças armadas estrangeiras que fazem esse trabalho já estão fazendo as primeiras sondagens de compra.
swissinfo, Jean-Michel Berthoud
Diariamente pessoas em mais de sessenta países são mortas ou feridas por minas.
A cada 30 minutos explode em alguma parte do mundo uma mina.
Anualmente morrem mais de 20 mil pessoas em acidentes provocados por minas antipessoais.
A Fundação Digger DTR pesquisa desde 1998 o desenvolvimento de tecnologias de desminagem. Trinta funcionários e colaboradores acabam de construir um tanque de desminagem.
O financiamento vem da prefeitura de Genebra, do exército suíço e da Direção de Desenvolvimento e Cooperação (DEZA, na sigla em alemão).
Certificação JTI para a SWI swissinfo.ch
Mostrar mais: Certificação JTI para a SWI swissinfo.ch
Veja aqui uma visão geral dos debates em curso com os nossos jornalistas. Junte-se a nós!
Se quiser iniciar uma conversa sobre um tema abordado neste artigo ou se quiser comunicar erros factuais, envie-nos um e-mail para portuguese@swissinfo.ch.