Jornais suíços lamentam perda de Nelson Mandela

A imprensa suíça elogiou o legado do líder sul-africano Nelson Mandela, que morreu na quinta-feira, 5 de dezembro, aos 95 anos, mas se pergunta o que a sua morte significará para o futuro de sua nação.
Bandeiras foram hasteadas a meio mastro na África do Sul depois que o presidente Jacob Zuma anunciou a morte de Mandela em um discurso na televisão, tarde da noite. Mandela passou anos na prisão antes de liderar a transição do regime de minoria branca e acabar com o apartheid como primeiro presidente negro do país, em 1994.
O presidente suíço, Ueli Maurer, declarou que foi com “grande tristeza” que ele soube da morte de Mandela. Em um comunicado na sexta-feira de manhã, ele ofereceu suas condolências em nome da população suíça e do governo do país e disse que “compartilha com o povo sul-africano sua grande dor nesta ocasião muito triste”.
A mídia do país também foi rápida a reagir. Para o jornal Tages Anzeiger, de Zurique, Mandela foi o “homem do século”. “Ele era o rosto de um mundo mais humano”, narra o jornal de língua alemã.
“Se não fosse por este descendente da aristocracia africana Xhosa, a história da África do Sul teria sido diferente”, acrescentou o periódico. O jornal aponta que o líder africano não deixou a prisão como um homem amargo, mas usou ao invés disso uma mistura de sabedoria, generosidade, aderindo tudo aos seus princípios de unificar o país racialmente dividido.
Ele conseguiu levar em conta “o medo da minoria branca e a ira da maioria negra”. E isso fez dele um ícone, não só para a África do Sul, mas para o mundo inteiro.
“Fez o mundo ficar melhor”
O tabloide Blick também tomou uma perspectiva global: “ele fez o mundo melhor”, dizia a manchete de sua primeira página.
“A África do Sul, o continente africano, o mundo inteiro chora. O combatente da liberdade que superou o apartheid, o Prêmio Nobel da Paz, perdeu sua última luta”, destacou o jornal da região de língua alemã.
O mundo e a África do Sul haviam se preparado para a morte de Mandela, que começou a se enfraquecer com uma infecção pulmonar, consequência de seu tempo na prisão, acrescentou o jornal.
De Genebra, o Le Temps realizou um longo obituário sobre Mandela, “o apóstolo da reconciliação”, considerando a vida e o legado de “Madiba”, como é carinhosamente conhecido na África do Sul. Para o Tribune de Genève, Mandela foi “a consciência moral da África”. Foi, acrescentou o jornal, “a morte de um gigante”.
“Um herói político sábio”, descreve o jornal de língua italiana Corriere del Ticino, que se pergunta como “uma nação tão furiosamente dividida pela cor da pele ficaria sem um líder como Mandela”, que percebeu que a democracia precisava de um espírito de reconciliação nacional.
O influente Neue Zürcher Zeitung considerou que “o libertador da África do Sul” não fez “um inferno num paraíso, mas graças a ele a África do Sul encontrou o seu caminho de volta para a história, mesmo com os seus problemas”.
O país modernizado e economicamente dinâmico ainda é assolado por uma “explosiva” divisão de riqueza, corrupção, violência, estupros, criminalidade e toxicodependência, combatidas por um atual presidente “que não é exatamente uma luz de liderança moral”.
Mas o Tages Anzeiger considerou que o sonho da nação arco-íris estava ao alcance. “Recuperar as qualidades de dignidade, estabilidade e profunda humanidade de seu ex-presidente seria o melhor presente que os sul-africanos poderiam passar para seus filhos após a morte de Mandela. Isso vale também para o resto da humanidade.”
Adaptação: Fernando Hirschy

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