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Curling é meio de integração entre atletas brasileiros e suíços

Brasileiros e suíços praticando juntos o curling em uma quadra de gelo em Zurique.
Brasileiros e suíços praticando juntos o curling em uma quadra de gelo em Zurique. swissinfo.ch

Quem escuta falar a expressão popular "enxugar gelo" pode pensar que se trata de descrever um esforço inútil, mas definitivamente esse não é o caso quando se trata do curling. Investir dedicação ao esporte de inverno tem dado bons resultados a atletas brasileiros na Suíça. Os troféus não são apenas medalhas, mas ótimas amizades e uma sólida integração na comunidade.

Esse é o caso do advogado Sérgio Mitsuo Vilela. Residente em Zurique, ele conta que a paixão pelo esporte o conduziu à conquista de uma medalha de ouro e ao desenvolvimento de fortes laços com a comunidade do curling na Suíça e no Brasil. 

Muito popular nos países onde o inverno é rigoroso, o curling propicia aos seus praticantes aquela mesma atmosfera de confraternização comum das partidas informais de futebol no verão brasileiro, a famosa “pelada”.

“O curling é um esporte muito social”, explica Vilela. “O time que ganha tem por tradição a obrigação de pagar uma rodada de cerveja ao time que perde. Isso nos dá a oportunidade incrível de conversar mais e conhecer melhor as pessoas”. “Costumo dizer que é um esporte de loucos, porque você fica duas horas enxugando gelo na esperança de no final ainda conseguir pagar a cervejada para os outros”, brinca.

De acordo com a associação nacional do esporte, há mais de 160 clubes registrados na Suíça. Somente na região de Basileia são mais de vinte. As partidas são disputadas por equipes de duplas ou de quatro pessoas e as categorias podem ser: feminina, masculina ou mista. O objetivo na disputa é fazer as pedras de granito chegarem até o centro do alvo, que fica no fim de uma pista de cerca de 46 metros de comprimento. Para isso é necessário estratégia na hora de arremessar a pedra e de esfregar com escovas a pista, para facilitar o deslizamento. Uma partida normalmente dura cerca de duas horas.

Homem jogando curling em uma quadra de gelo
Sérgio Mitsuo Vilela durante uma partida. cortesia

O começo

Para Vilela tudo começou ainda antes da mudança para a Europa. “Em 2010 eu assistia pela TV as partidas da Olimpíada de Vancouver e sonhava em praticar o esporte”, conta. Ainda morando no Brasil, ele chegou a aguardar mais de cinco horas numa fila para poder experimentar o esporte pela primeira vez. “Era uma ação promocional de uma marca de cosméticos e eles montaram um ringue de gelo. Fiquei muito tempo esperando, mas saí de lá nas nuvens”, relembra.

A oportunidade de realizar o sonho de se tornar atleta do curling veio com a mudança para Zurique. Vilela começou a frequentar o clube de Küssnacht e desenvolveu amizades que fazem com que se sinta em casa na nação alpina. Integrando a equipe suíça da cidade de Flims o advogado conquistou a medalha de ouro no Torneio Internacional de Verão em julho passado, em Füssen na Alemanha. Também fizeram parte da equipe os amigos suíços Barbara Kampfer, Oliver Huber e Dumeni Degunda.

E a paixão pelo “esporte de louco” é contagiante. Uma colega de trabalho de Vilela, a advogada brasileira Thaisa Lima Androver, começou a praticar o curling a sério depois de Vilela inscrever a turma do escritório em um campeonato amador do esporte.

A empolgação foi tamanha, que a advogada se engajou em treinos regulares e em novembro esteve no Canadá disputando o Campeonato Nacional Brasileiro na categoria mista, em dupla formada com Vilela. Eles chegaram até às quartas de final. “Infelizmente não deu”, lamentou a atleta nas redes sociais, mas prometeu seguir se aprimorando com o mentor e colega. A dupla formada por Aline Lima e Márcio Cerquinho, que treina no Canadá, foi a campeã.  

Michael Krähenbühl
O suíço-brasileiro Michael Krähenbühl é apaixonado pelo esporte. cortesia

Seleção Brasileira

Vilela tem boas credenciais para treinar não apenas Thaísa, mas para promover o esporte como um todo. Em outubro passado ele representou o Brasil no mundial de equipes mistas ao lado de Luciana Barrella, Aline Lima e Marcelo Mello. O evento foi disputado em Champéry, no cantão de Valais e contou com 38 países divididos em cinco grupos. Entre os adversários enfrentados pelo Brasil havia equipes fortes, com muita tradição no esporte, como a Suécia e os Estados Unidos. Os brasileiros ainda disputaram partidas contra a China, Letônia, França e Belarus. “É o maior orgulho da vida de um atleta poder dizer que você faz parte da seleção do seu país e eu tive esse privilégio”, comemora Vilela.

É a oportunidade de viver essa honra que atraiu o suíço-brasileiro Michael Krähenbühl à oportunidade de treinar ao lado de Vilela. Filho de mãe brasileira e pai suíço, o jovem de 25 anos é natural do cantão de Grisões e pratica o esporte desde os nove anos de idade. “Meu pai era semi-prifissional e eu entrei para o curling através dele. Passei a infância acompanhando e participando de partidas”, recorda.

A esperança do atleta original do cantão dos Grisões é conseguir integrar a seleção brasileira de curling. Krähenbühl tem um diferencial estratégico a oferecer: cresceu praticando o esporte e conhece a neve e o gelo com a intimidade de um verdadeiro suíço.

“Comecei aos nove anos e aos 12 já participava de uma equipe com jogos regulares”, diz Krähenbühl, que foi apresentado às escovas pelo pai, um ex-jogador da categoria semi-profissional. Na adolescência Krähenbühl já jogava todos os fins de semana e chegou a disputar campeonatos pan-europeus quando tinha 16 e 17 anos.

O atleta também concorda que a tradição de promover uma cervejada entre os participantes após as partidas faz do curling um excelente modo de “quebrar o gelo” entre adversários e recomenda aos imigrantes que estão na Suíça tentar o esporte, pois abre portas às amizades locais.

Sonho

Krähenbühl sonha alto com a chance de praticar o curling com a camisa verde-amarela. “O esporte sempre foi tudo para mim. Cheguei a pensar em me profissionalizar”, conta.

Formado em economia e administração de empresas, o jovem procura encontrar um equilíbrio em meio aos treinos e a profissão. Ele divide a semana entre o trabalho em Lucerna e a família em Flims. Nas férias aproveita para rever os primos em Aracajú, no Sergipe, e espera poder “encher a família de orgulho” algum dia representando o Brasil mundialmente.

“Tenho três primos que sabem que eu gosto de curling e já experimentaram o esporte quando vieram me visitar. Ás vezes eles me escrevem mensagens no celular dizendo: olha estou aqui, assistindo na TV aquele seu esporte de doido”, comenta rindo.

E foi um amigo suíço em comum que colocou Krähenbühl em contato com Vilela. “Sou suíço e brasileiro, nasci e cresci aqui na Suíça e o esporte foi muito bom para fazer amigos. Agora vou descobrir mais pessoas brasileiras”, se anima.

“A minha esperança é que a imprensa ajude justamente a divulgar o curling na comunidade suiço-brasileira. Aposto que há outros talentos como o Michael aguardando para serem descobertos”, arremata Vilela.

Crescendo nas Américas

Em janeiro o Brasil disputou com o Canadá uma série de desafios. As partidas fizeram parte do America’s Challenge, um confronto de até cinco jogos em que vence quem obtém três vitórias. As disputas eram uma qualificatória para o mundial masculino de curling, que ocorrer em Las Vegas entre 31 de março e 8 de abril. Pelas regras do campeonato mundial, a região das Américas só pode escalar dois times, mas como os Estados Unidos são a nação anfitriã, havia a esperança de que o Brasil conseguisse entrar na segunda vaga desafiando o Canadá. A série de partidas foi “uma excelente oportunidade de mostrar o nosso curling”, definiu Vilela. As partidas contra a maior potência do esporte ocorreram na cidade de London, província de Ontário, na mesma época do importante torneio Continental Cup. Infelizmente o Brasil não venceu a série, sendo derrotado por 15-1, 8-3 e 6-3.  O esforço, porém, ajudou a aumentar a visibilidade do curling rendendo matérias na imprensa brasileira e canadense.  

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