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Pela primeira vez, pagamentos digitais superam o dinheiro vivo

Pessoa com moedas e uma carteira na mão
Dar o troco é cada vez mais raro na Suíça. Keystone / Gaetan Bally
Série Swiss oditties, Episódio 21:

Pela primeira vez, os pagamentos digitais superaram o uso de dinheiro em espécie nas compras do dia a dia na Suíça. A mudança, acelerada pela pandemia e pela popularização de aplicativos como o "Twint", reacende o debate sobre o futuro do papel-moeda.

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Já faz alguns anos que o dinheiro digital vem sendo usado cada vez mais no lugar das cédulas e moedas. Esse fenômeno se intensificou durante o lockdown devido ao coronavírus. Em plena pandemia, os pagamentos digitais foram preferidos à troca física de dinheiro, por razões sanitárias óbvias.

Na Suíça, diversos sinais já indicavam há algum tempo que o dinheiro em espécie estava perdendo espaço para as soluções digitais. O sucesso crescente do Twint, que é um aplicativo de pagamento desenvolvido por instituições financeiras suíças, ilustra bem essa mudança.

No ano passado, o Twint registrou um número recorde de transações: 773 milhões, ou seja, 31% a mais que no ano anterior. O crescimento foi explosivo. No lançamento do app, em 2017, o número de transações era de “apenas” quatro milhões.

Placa em um estádio de futebol
Para evitar cobranças no cartão de crédito, algumas empresas ainda preferem dinheiro ou pagamento via aplicativo Twint. Keystone / Peter Klaunzer

Dinheiro físico destronado

Até recentemente, diferentes estudos indicavam que o dinheiro em espécie ainda era o preferido dos suíços.

Em 2023, um estudo intitulado 6º Monitor Suíço de PagamentosLink externo realizado pela Escola Superior de Ciências Aplicadas de Zurique (ZHAW, na sigla em alemão) e pela Universidade de St. Gallen, mostrava que o dinheiro em espécie ainda liderava frente aos concorrentes digitais, embora sua participação tivesse diminuído bastante desde 2019, ano da primeira pesquisa.

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Mas o inevitável aconteceu. Pela primeira vez, o dinheiro digital destronou o físico, pelo menos nas compras do cotidiano. É o que revela uma pesquisa publicada recentemente pelo Banco Nacional Suíço (BNS).

Sua pesquisaLink externo sobre o uso de meios de pagamento por indivíduos na Suíça 2024 mostra que, pela primeira vez, o dinheiro digital ultrapassou o dinheiro em espécie para todos os pagamentos realizados “no local”, ou seja, em comércios, guichês e caixas automáticos.

Segundo essa pesquisa, realizada no outono passado com duas mil pessoas residentes na Suíça, o cartão de débito é o meio mais utilizado para compras do dia a dia. Já os aplicativos de pagamento nos celulares são usados em quase uma em cada cinco transações.

Esses cheques físicos, que existem há 60 anos, serão substituídos por cartões-presente digitais. Os cheques que já estão em circulação continuam válidos por tempo indeterminado.

Os cheques Reka podem ser adquiridos a preços reduzidos por meio de 4.500 empresas. Eles são aceitos em cerca de seis mil pontos para pagamento de viagens, lazer ou transporte público.

Essa transição para o digital acabou sendo fatal para os cheques Reka. Em comunicadoLink externo, a fundação Reka anunciou que deixará de emiti-los no final de 2025.

“Com a digitalização definitiva do dinheiro Reka e de seus produtos, a Reka pretende reforçar seu papel de pioneira como o benefício salarial acessório mais popular da Suíça”, explicou seu diretor Roland Ludwig.

Tema também político

Será que esse recuo do dinheiro em espécie pode continuar até seu desaparecimento total? Essa hipótese não é absurda: na Europa, o fenômeno já é visível nos países nórdicos, a ponto de às vezes ser difícil pagar em dinheiro na Suécia.

Esse cenário seria possível na Suíça? O BNS duvida. Em um dossiêLink externo intitulado “Será que acabaremos vivendo sem dinheiro em espécie?”, o banco ressalta: “Pode parecer que o dinheiro físico já não é necessário. Mas as aparências enganam, e a realidade é mais complexa.”

Na Suécia, o rápido desaparecimento do dinheiro levou as autoridades a intervir. Desde 1º de janeiro de 2020, uma lei exige que seja possível sacar dinheiro em espécie em um raio de 25 quilômetros da residência. Essa lei foi aprovada quase por unanimidade, com parlamentares alegando que a digitalização total pode discriminar certos grupos, como pessoas em extrema vulnerabilidade que não têm acesso a conta bancária ou a um celular.

Na Suíça, onde a democracia direta é a regra, decisões como essa podem vir do próprio povo. O Movimento pela Liberdade Suíça (MLS) lançou um projeto de leiLink externo intitulada “Sim a uma moeda suíça livre e independente sob forma de cédulas ou moedas”.

Esse texto, originado de círculos críticos às medidas anti-Covid, pede que seja garantida a permanência do dinheiro em espécie na Suíça, e que qualquer substituição do franco suíço por outra moeda seja submetida à aprovação do povo e dos cantões.

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Sem limites para dinheiro em espécie

Mas essa iniciativa talvez nem seja necessária, já que os suíços parecem não querer abrir mão do dinheiro em espécie. A última pesquisa do BNS sobre meios de pagamento mostra que 95% dos entrevistados querem que o dinheiro físico continue disponível como meio de pagamento.

Esse apego dos suíços ao dinheiro em espécie também se reflete em uma legislação bastante flexível. Tão flexível, aliás, que pode surpreender em outros países com normas muito mais rígidas.

A maioria dos países europeus já impõe limitesLink externo às transações em dinheiro como, por exemplo, mil euros na França e na Itália, ou 500 euros na Grécia. Apenas alguns países, como Áustria, Chipre e Luxemburgo, ainda não têm limite. Mas isso vai mudar. O Parlamento Europeu aprovou um teto de 10 mil euros para pagamentos em espécie, que deve entrar em vigor em 2027, com o objetivo de combater a lavagem de dinheiro e o financiamento ao terrorismo.

Na Suíça, por outro lado, não há nenhum limite. A única exigência é a de apresentar um documento de identidade para pagamentos em espécie a partir de 100 mil francos.

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Twint-Terminal mit QR-Code

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Primeiros passos para o fim da moeda física

Este conteúdo foi publicado em Os suíços preferem pagar com dinheiro físico ao contrário dos escandinavos. Mas em tempos de panderia, transações por celular se tornam populares.

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Também não há limite para transporte de dinheiro. Existe apenas uma pequena obrigaçãoLink externo ao cruzar a fronteira: é necessário declarar sua identidade, a origem e o destino dos fundos a partir de 10 mil francos. Mas isso somente se a alfândega pedir…

Edição: Samuel Jaberg

Adaptação: DvSperling

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