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“A demanda global por viagens aéreas continua crescendo”

Avião pousando no aeroporto
Decolagem de um Airbus A320 da Swiss Air Lines no aeroporto de Zurique. KEYSTONE/©-2024 Markus A. Jegerlehner

A longo prazo, o Aeroporto de Zurique prevê um aumento anual de 2% no número de passageiros. Lukas Brosi, explica como responder a esse crescimento sem necessariamente aumentar o número de voos e mantendo o foco no objetivo de neutralidade de carbono.  

No final deste inverno, Lukas Brosi, diretor-executivo do Aeroporto de Zurique AGLink externo, certamente respirou aliviado: a expansão de duas pistas em seu aeroporto foi submetida a uma votação popular; no final, 61,7% dos eleitores aprovaram a ampliação.

O aeroporto é uma empresa atípica: listada na Bolsa de Valores, ela também pertence parcialmente ao cantão de Zurique (um terço das ações) e à cidade de Zurique (5%). Ela não apenas é proprietária e opera o aeroporto de Zurique, mas também está envolvida em importantes atividades imobiliárias e comerciais ao redor do aeroporto, sem mencionar seu envolvimento em outros oito aeroportos no exterior.

A empresa emprega aproximadamente 1.700 pessoas em Zurique e cerca de 475 no exterior; em 2023, gerou receitas de 1,2 bilhão de francos e EBITDA (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) de 677 milhões. No mesmo ano, o número de passageiros chegou a 28,9 milhões. Foi em seu escritório que Lukas Brosi recebeu a swissinfo.ch para uma longa entrevista.

swissinfo.ch: O senhor assumiu a direção geral da Flughafen Zürich há cerca de um ano. Desde então, o senhor definiu uma nova visão?

Lukas Brosi: Não foi necessário. Trabalho no aeroporto há quinze anos, sete dos quais como diretor-financeiro (CFO). Como nossa empresa tem uma orientação de longo prazo, meu papel é de continuidade. Contudo, interagir com o mundo político e a população é uma área nova para mim. Recentemente, dediquei cerca de 20% do meu tempo a essas atividades, especialmente em relação à votação sobre a ampliação das pistas de pouso e decolagem, que felizmente foi aprovada pela população de Zurique.

Homem de terno
Lukas Brosi dirige o Aeroporto de Zurique desde maio de 2023. ldd

swissinfo.ch: Quais são os pontos fortes e fracos de seu aeroporto?

L.B.: Nosso aeroporto se beneficia de uma proximidade notável com a cidade de Zurique e de excelentes ligações de transporte público. Além disso, seu tamanho compacto é uma grande vantagem para os viajantes. A qualidade de nossos serviços também é reconhecida, como demonstram os muitos prêmios que recebemos. Porém, nosso horário de operação, que é limitado das 6h às 23h30, é nosso principal ponto fraco, pois é mais restritivo do que o de muitos outros aeroportos europeus.

swissinfo.ch: Quais são as principais melhorias recentes na experiência dos passageiros?

L.B.: Penso sobretudo nos scanners rápidos para bagagem de mão nos controles de segurança. Durante o feriado da Páscoa, realizamos testes bem-sucedidos e esses scanners serão implantados a partir de junho deste ano.

swissinfo.ch: Quais são os melhores aeroportos do mundo?

L.B.: Os melhores aeroportos são aqueles que foram construídos recentemente, pois têm a vantagem de terem sido edificados sobre novas bases. Estou me referindo especificamente a alguns aeroportos do Oriente Médio, como os do Qatar, Abu Dhabi e Dubai, assim como o aeroporto de Istambul.

swissinfo.ch: Quem são concorrentes do Aeroporto de Zurique?

L.B.: Em vez de falar em concorrência direta, seria mais justo afirmar que somos comparáveis aos aeroportos de Frankfurt, Munique e Viena. Além disso, não competimos com os aeroportos de Genebra e Basileia, pois nossas áreas de influência são diferentes; nosso modelo de negócios é distinto: operamos como um hub intercontinental, enquanto Genebra e Basileia se concentram principalmente em conexões ponto a ponto.

swissinfo.ch: A Suíça francófona levou muito tempo para digerir a transferência dos voos de longa distância de Genebra para Zurique em 1996. O machado de guerra foi enterrado?

L.B.: Com certeza!

swissinfo.ch: Oficialmente, os senhores são o hub aéreo da Suíça, mas seu site está apenas em alemão e inglês. Por que não nos outros idiomas nacionais?

L.B.: Dois terços dos usuários de nosso site e redes sociais são de língua alemã, enquanto os falantes de inglês representam 25%; essa divisão orientou nossas escolhas linguísticas. Quanto aos anúncios nos portões de embarque, estamos considerando usar a inteligência artificial para que esses anúncios também sejam feitos no idioma dos países de destino.

swissinfo.ch: O Aeroporto de Zurique é uma sociedade anônima listada na Bolsa de Valores. Isso é uma vantagem se comparado ao aeroporto de Genebra, que opera como uma instituição pública autônoma?

L.B.: Nossa privatização e listagem na Bolsa de Valores Suíça, aprovadas pela população de Zurique em 2000, foram decisões importantes. Isso nos confere maior flexibilidade empresarial e nos incentiva a responder melhor às expectativas dos investidores profissionais. É claro que também temos que lidar com os moradores locais, a sociedade civil e os políticos eleitos, incluindo certas votações populares.

A principal vantagem para as autoridades públicas é que todos os investimentos realizados desde 2000 foram financiados com fundos privados obtidos por meio do mercado de capitais e taxas aeroportuárias. Em outras palavras, não recebemos nenhum subsídio público e, nos últimos vinte anos, até repassamos 1,3 bilhão de francos suíços ao Estado (cantão, cidade, comunas) sob a forma de impostos e dividendos.

swissinfo.ch: Quais são os segmentos mais lucrativos da sua clientela e como o senhor está trabalhando para aumentar o tamanho desses segmentos?

L.B.: Nossa missão é atender a toda a demanda, e todos os passageiros pagam a mesma taxa aeroportuária. Em outras palavras, não temos a possibilidade de otimizar nossa rentabilidade desse modo, ao contrário das companhias aéreas.

No entanto, constatamos que as pessoas que viajam a turismo ou para visitar suas famílias passam mais tempo em nosso aeroporto do que aquelas em viagens de negócios, o que as leva a gastar mais em nossas lojas e restaurantes.

Aeroporto
“Todos os investimentos realizados desde 2000 foram financiados com capital privado”, afirma Lukas Brosi. KEYSTONE/imagebroker.com

swissinfo.ch: Ainda existe a possibilidade de aumentar o número de voos?

L.B.: Com nossa infraestrutura atual, é possível aumentar o número de voos, pois ainda temos períodos fora de pico, como por volta das três da tarde, embora esses horários não sejam muito populares. É importante ressaltar que a extensão das pistas recentemente aprovada pela população diz respeito apenas à segurança e à pontualidade, e não permite, por si só, o aumento do número de voos.

swissinfo.ch: E quanto ao crescimento do número de passageiros?

L.B.: É importante observar que o número de voos permaneceu relativamente estável nos últimos vinte anos. Porém, o número de passageiros aumentou acentuadamente, graças ao uso de aeronaves maiores e à melhoria das taxas de ocupação. Estamos prevendo um aumento anual de 2% no número de passageiros, mas esse índice dependerá em grande parte do crescimento demográfico e econômico.

swissinfo.ch: Se quisermos combater eficazmente o aquecimento global, a redução das viagens aéreas não é uma condição “sine qua non”?

L.B.: Não concordo com essa ideia, pois a demanda global por viagens aéreas continua a crescer e a missão que a Confederação nos confiou é de atender a essa demanda. Na minha opinião, cabe à indústria aeronáutica demonstrar sua capacidade de descarbonizar, principalmente substituindo os combustíveis fósseis por alternativas sustentáveis.

Embora essas alternativas representem atualmente apenas 2 a 3%, é importante começar por algum lugar. O objetivo é alcançar a neutralidade de carbono até 2050, uma meta considerada alcançável segundo um relatório do governo federalLink externo. Em relação à nossa infraestrutura aeroportuária, estamos investindo centenas de milhões de francos suíços a fim de alcançar a neutralidade de carbono até 2040.

swissinfo.ch: A empresa também está envolvida em oito aeroportos em países em desenvolvimento. Qual é a posição de seus acionistas estatais a esse respeito?

Ser proprietário, administrador e construtor de aeroportos no exterior faz parte de nossa estratégia de diversificação, com base em nossas principais competências. Para minimizar os riscos, concentramo-nos em infraestruturas que necessitam imperativamente de investimentos privados para atender a uma alta demanda, independentemente da orientação política dos respectivos governos nacionais. Além disso, operamos principalmente em países como o Brasil e a Índia, que têm um histórico positivo em privatizações.

E não devemos acreditar que nossa ambição é nos tornar a maior operadora de aeroportos do mundo: pelo contrário, temos uma abordagem oportunista. Nesse contexto, nossos acionistas estatais (o cantão e a cidade de Zurique) apoiam totalmente nossa estratégia.

Cidadão suíço nascido em 1979, Lukas Brosi ingressou na Aeroporto de Zurique S.A em 2009. Antes disso, ele passou nove anos na UBS em Basileia e Zurique, depois de estudar economia empresarial na Universidade de Ciências Aplicadas e Artes do Noroeste da Suíça. Em 2017, ele foi promovido a diretor financeiro da Flughafen Zürich e, em maio de 2023, assumiu o cargo de diretor executivo.

Edição: Samuel Jaberg

Adaptação: Karleno Bocarro

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