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Trigon: empresa que traz filmes do Sul à Suíça

O clássico brasileiro "A idade da terra", do diretor Glauber Rocha, também está no catálogo. Trigon Filmes

O Festival de Cinema de Locarno não é espaço apenas para estrelas e diretores. Nos seus bastidores, empresas especializadas compram e vendem filmes para plateias do mundo.

Uma delas é a trigon-film, uma das poucas distribuidoras no mundo especializada em filmes dos países do Sul. O diretor Walter Ruggle explica sua paixão por Glauber Rocha.

Walter Ruggle senta em uma das mesas do café do antigo teatro em Locarno e pede um expresso. Ele confere o relógio, pois já está com a agenda repleta até o final do dia. Para o diretor da distribuidora suíça trigon-film, o 64° Festival Internacional de Cinema de Locarno é um dos mais importantes eventos do ano.

“Participo do festival há trinta e seis anos. Na época era apenas um estudante e apaixonado pelo cinema”, afirma. Hoje o suíço tem pouco tempo para flanar através da pequena cidade à margem do lago Maggiore. Dentre as suas principais tarefas está a exibição dos filmes no seu catálogo para uma plateia selecionada de exibidores no “Trade Show”, um programa especial no festival. “Dentre outros estou mostrando dois filmes da América Latina, o ‘Medianeras’, do diretor argentino Gustavo Taretto, e ‘Gatos Viejos’, um novíssimo filme chileno dos diretores Sebastián Silva e Pedro Peirano.”

Segundo Ruggle, trigon-film consegue exibir os filmes do catálogo em aproximadamente duzentos cinemas na Suíça, em grande parte casas especializadas em obras de autor. “Raramente conseguimos mostrar essas películas em cinemas do estilo multiplex, pois a linguagem é outra”, afirma o ex-crítico de cinema.

Mais de vinte anos de experiência 

A fundação e associação foram fundadas pelo crítico Bruno Jaeggi e outros aficionados do cinema em 1986. O objetivo dos iniciadores era criar um canal de distribuição para filmes da África, Ásia e América Latina nos cinemas europeus. Ela está sediada em Ennetbaden, um pequeno vilarejo distante meia hora de Zurique.

Desde que assumiu a direção da fundação em 1999, Ruggle se orgulha de exibir mais de trezentos títulos no catálogo online da Trigon. Pouco mais de sessenta por cento do orçamento vem de atividades comerciais clássicas como a venda de DVDs através da internet ou em lojas, renda obtida nas bilheterias dos cinemas ou publicações.

O restante (30%) vem de doações anuais feitas pelos membros da associação, aberta a qualquer pessoa interessada em filmes dos países do Sul, e dez por cento da Direção de Desenvolvimento e Cooperação (Deza, na sigla em alemão), órgão oficial de cooperação da Suíça. “O que mostra o interesse do governo helvético de apoiar o cinema desses países, além dos projetos de coprodução que financia”, acrescenta.

Graças à abertura, a distribuidora exibe alguns trunfos no seu trabalho. Ela distribui com exclusividade cinco filmes do cineasta brasileiro Glauber Rocha na Suíça, Alemanha e Áustria, um realizador que o suíço conheceu pessoalmente nos anos 1980 durante o Festival de Veneza. “Era uma pessoa de incrível energia”, lembra-se.

Enquanto folheia o catálogo, o suíço lembra também que outra boa decisão foi trazer, em 2005, o primeiro filme do estilo Bollywood, a indústria de cinema de língua hindi, a maior indústria de cinema indiana, à Suíça. “Foi o ‘Lagaan – era uma vez na Índia (2001, Ashutosh Gowariker), um filme maravilhoso.” 

Apoio a projetos 

Outro dos compromissos de Ruggle em Locarno é a participação como membro do júri na “Open Doors”, uma seção realizada em cooperação com a Deza e dedicada a destacar o cinema em desenvolvimento de países selecionados e permitir que seus realizadores encontrem parceiros para novas realizações. Em 2011, a escolha recaiu sobre a Índia.

Apesar da escolha, os organizadores da “Open Doors” também lançaram em 2011 a iniciativa “Carte Blanche” (Carta Branca) para apoiar financeiramente os trabalhos de pós-produção de diretores dos países selecionados. Em sua primeira edição, oito projetos de filmes da Colômbia foram selecionados. “São projetos bem interessantes e que merecem o nosso apoio”, diz Ruggle.

Concorrência dos festivais 

O trabalho de selecionar filmes é realizado pelo diretor da trigon-film através da participação em vários festivais internacionais como Cannes, Veneza, ou San Sebastián (Espanha). O suíço também viaja para fora do continente europeu. “Vou bastante ao Festival de Busan, na Coréia, um dos mais importantes para o cinema asiático”, relata e inclui também o ‘Ventana Sur’ em Buenos Aires, um festival realizado em cooperação com Cannes para expor a obra cinematográfica recente latino-americana a potenciais distribuidores.

Questionado sobre a baixa presença do filme brasileiro na atual edição do Festival de Locarno, Ruggle credita à elevada concorrência entre os eventos internacionais, que procuram ter sempre obras inéditas nos seus programas de exibição. “Se um filme brasileiro passa em Berlim, então sua participação fica descartada para Locarno”. Porém outra razão estaria mais relacionada às características do cinema tupiniquim.

Problemas do cinema brasileiro 

“Em primeiro lugar percebo através dos resultados dos filmes no nosso catálogo, que é muito mais fácil eles conquistarem o público quando vêm dos países de língua hispânica do que lusófona. Talvez seja pelo fato dos suíços dominarem melhor esse idioma. Outra possibilidade é a linguagem: o cinema hispânico está mais próximo dos europeus do que o brasileiro e português”, analisa o diretor.

Para Ruggle o cinema brasileiro é muito semelhante ao mexicano. “São filmes selvagens, ou seja, que experimentam bastante e com diferentes linguagens, mas demasiadamente próximos da realidade nos países”. Obras premiadas internacionalmente como “Cidade de Deus”, do diretor Fernando Meirelles, não entram no catálogo da trigon-film. “Nós distribuímos ‘Domésticas’, um dos seus primeiros trabalhos e muito bom por sinal, mas não gostei do Cidade de Deus”, critica o diretor e justifica. “É um filme que trabalha com a violência e a pobreza no formato de videoclipe.”

Mesmo sendo crítico, Walter Ruggle ressalta que sempre está aberto a filmes com histórias universais. Muitas das propostas chegam até mesmo pelo correio. “Na minha mesa há uma pilha de trabalhos enviados de inúmeros países”. Ao ser selecionado, mesmo o cineasta iniciante tem chances de obter os primeiros dividendos, já que distribuidores como a Trigon Filmes compram os direitos e garantem um ganho mínimo para o autor.

A fundação e associação foram criadas pelo crítico Bruno Jaeggi e outros aficionados do cinema em 1986. O objetivo dos iniciadores era ter um canal de distribuição para filmes da África, Ásia e América Latina nos cinemas europeus. Ela está sediada em Ennetbaden, um pequeno vilarejo distante meia hora de Zurique.

Sob direção do crítico de cinema Walter Ruggle desde 1999, a trigon-film possui 300 títulos em catálogo. As obras são divulgadas, em sua grande maioria, em aproximadamente 200 salas na Suíça, mas também através de DVDs, vendidos pela internet.

60% do orçamento são obtidos através da venda de DVDs, das bilheterias e outras atividades comerciais; 30% vêm da associação, cujos membros pagam anualidades; 10% da Direção de Desenvolvimento e Cooperação (DEZA, na sigla em alemão), o órgão oficial de cooperação da Suíça.

A trigon-film é a única organização do gênero a se especializar na distribuição de filmes dos chamados países do Sul.

Segundo Walter Ruggle, a trigon-film foi a primeira a trazer um filme do estilo Bollywood, a indústria de cinema de língua hindi, a maior indústria de cinema indiano, à Suíça. Também possui no seu catálogo cinco obras do cineasta brasileiro Glauber Rocha.

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