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Diretor do Festival de Locarno fala sobre a edição 2011

Olivier Père conseguiu trazer as estrelas americanas à Locarno. pardo.ch

Desde que assumiu o cargo de diretor artístico do Festival Internacional de Cinema de Locarno, o francês Olivier Père transformou radicalmente sua programação, o que permitiu ao evento encontrar sua própria respiração, mais ampla e profunda.

Na abertura da edição de 2011, ele já pode apresentar um considerável balanço. swissinfo.ch entrevistou-o.

A seleção da 64° edição do Festival Internacional de Cinema de Locarno foi considerada um sucesso pelos críticos. É uma surpresa sem triunfalismo, pois o verdadeiro trunfo está no conteúdo e nos fatos: um retorno dos sucessos de bilheteria dos EUA, mas não somente isso. As estrelas do cinema de ontem e de hoje estarão presentes também.

O diretor artístico Olivier Père, francês de nacionalidade, propõe uma concepção coerente e viva do cinema, trazendo o festival às suas origens históricas. O encontro será mundial para o cinema de autor, independente, emergente, mas sem esquecer de falar da história do cinema.

swissinfo.ch: Como foi o trabalho de realizar a seleção do atual festival? 

Olivier Père: No início partimos com ideias, desejos e ambições que, obviamente, trazem surpresas inevitáveis, golpes de sorte ou imprevistos. Ao começar demasiadamente rápido o trabalho de seleção, é possível vir a descobrir que um determinado filme em vias de realização ou de produção não estará pronto a tempo e, dessa forma, não poderá ser convidado. Ao antecipar e manter um contato estreito com os produtores e diretores, conseguimos planificar um programa de filmes que serão posteriormente levados às salas de exibição.

Além disso, ainda há o componente trazido pelas descobertas, frutos de viagens em quase todas as partes do mundo e aos diferentes festivais. Cada ano traz um lote de revelações fortes e interessantes, das quais algumas teremos o prazer de mostrar em Locarno.

swissinfo.ch: Nesse ano o senhor conseguiu trazer estrelas americanas e sucessos de bilheteria à Locarno. Como foi possível reconquistar a confiança dos americanos? 

O.P.: Eu viajei e encontrei chefes de grandes estúdios de produção, de marketing e da publicidade, de Los Angeles à Londres. Também procurei uma colaboração estreita com os distribuidores de filmes americanos na Suíça.

Eu comecei esse trabalho desde que assumi o cargo, o que foi reforçado, sem dúvida, pelo eco mediático internacional bastante positivo da última edição do festival. Nossos interlocutores também estavam com vontade de colaborar e nos trazer não apenas filmes, mas também atores e diretores como será o caso para “Cowboys & Aliens”, do diretor Jon Favreau, com os atores Harrison Ford, Daniel Craig e Olivia Wilde.

swissinfo.ch: Mas nem todos os filmes americanos são sucessos de bilheteria. O que o senhor pensa do cinema independente? 

O.P.: Que ele está vivo. Você tem razão de ressaltar que a presença dos Estados Unidos está particularmente forte nesse ano, o que se explica pela sua riqueza e diversidade. De fato, o cinema americano não significa somente filmes populares. No programa do concurso internacional e dos cineastas do presente temos novos e jovens autores independentes, que me surpreenderam. Locarno também homenageará duas grandes figuras do cinema independente americano: o produtor Mike Medavoy e o diretor Abel Ferrara.

swissinfo.ch: Duas palavras sobre o concurso internacional, bastante “francês” esse ano… 

O.P.: Nós trabalhamos bastante para montar um concurso internacional sólido, que dá espaço às descobertas, aos jovens cineastas e aos primeiros filmes, mas que também integre valores seguros do cinema independente e de autor como Shinji Aoyama, Mon Hans-Løve ou Nicolas Klotz. Essa combinação entre novas descobertas e cinema contemporâneo me agrada bastante pela verdadeira riqueza que ela representa.

Há quatro filmes franceses, de fato, o que é bastante excepcional. Mas a produção nesse ano foi muito boa e estimulante, com muitos cineastas de talento. Eu gostaria de ter convidado todos (risos), mas foi necessário fazer escolhas dolorosas para garantir um certo equilíbrio.

swissinfo.ch: Um festival é composto também de premiações ou homenagens. E elas são numerosas nesse ano com Claude Goretta, Claudia Cardinale, Bruno Ganz e Isabelle Huppert. É um leque bem generoso… 

O.P.: Concordo quando se fala que decidimos dedicar uma parte importante às homenagens. Como decidimos também nos concentrar nos filmes, reduzimos o seu número para lhes dar mais visibilidade. E foi assim que liberamos um espaço precioso para aqueles que fazem o cinema.

Você tem razão ao falar de generosidade. Estou muito feliz pelo fato da Isabelle Huppert ter aceitado vir. Estou também honrado pela presença de Abel Ferrara. E Claudia Cardinale, quem nunca sonhou com ela? Queríamos compartilhar a magia do cinema com o nosso público.

swissinfo.ch: E como está a situação do cinema suíço? 

O.P.: O cinema suíço está fortemente representado em Locarno, pois a  produção suíça do ano deve poder estar presente o melhor possível em todas suas seções.

A nova geração, como Melgard e Baier, promete bastante. Também há obras inesperadas e excêntricas como “Hell”, um longa-metragem fantástico e bem-sucedido no seu gênero e que iremos ver na praça principal. O cinema suíço é mais variado, rico e diverso do que podemos pensar. Mas creio que seu grande valor continua sendo o documentário, bastante presente em Locarno.

swissinfo.ch: Da Suíça à Índia, sem transição, mas com uma ligação em todo caso, pois a seção “Open Doors” é apoiada pelo governo suíço. Mas por que a Índia? O que acontece fora do circuito Bollywood? 

O.P.: Bollywood é demasiadamente poderoso, rico e forte para ter necessidade da Open Doors (risos). Mas Locarno abrirá suas portas ao cinema indiano independente e de autor, que sofre atualmente, sobretudo devido à supremacia da produção de Bollywood.

O objetivo da Open Doors é menos de exibir filmes do que apoiar a realização de projetos cinematográficos. Dessa vez selecionamos doze. Essa operação tem um objetivo bastante concreto e pode dar resultados prometedores. De fato, os projetos realizados retornam frequentemente à Locarno um ou dois anos mais tarde em outras seções. Essa continuidade entre projetos, autores, produtores e o festival é bem fértil.

A 64° edição do Festival Internacional de Cinema de Locarno realiza-se entre 3 e 13 de agosto. O programa oferece

270 filmes, dos quais 40 em estreia mundial.

  

Da competição internacional participam uma dúzia de filmes, dos quais 14 em estreia mundial e 3 são as primeiras obras dos diretores selecionados.

O concurso de cineastas do presente tem 14 estreias ou segundas realizações, das quais 9 são estreias mundiais. São filmes de Portugal, China, Argentina, Itália, França e da Suíça.

  

Na famosa “Piazza Grande”, a grande praça onde são exibidos filmes não competitivos para o grande público, terá 20 filmes, dos quais seis vêm dos Estados Unidos.

Alguns dos nomes esperados em Locarno: Claudia Cardinale, Harrison Ford, Ingrid Caven, Kabir Bedi, Guy Bedos, Abel Ferrara, Mike Medavoy, Bruno Ganz, Adoor Gopalakrishnan, Olivia Wilde, Claude Goretta, Hitoshi Matsumoto, Kati Outinen, Nicolas Winding Refn Daniel Craig, Pierre Richard, Maribel Verdú, Anri Sala e Daniel Brühl.

Adaptação: Alexander Thoele

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