
Grupo Swatch amarga disputas entre família e investidores

Quando perguntaram a Nick Hayek, no ano passado, por que o Grupo Swatch não se envolvia mais com a comunidade financeira, o audacioso executivo-chefe da relojoaria respondeu aos investidores que, se eles não gostassem da forma como a empresa era administrada, poderiam investir em outro lugar.
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E eles parecem ter feito exatamente isso.
As ações da Swatch, proprietária de 16 marcas de relógios, incluindo Omega, Longines e Tissot, caíram 24% nos últimos 12 meses. A baixa lembra o abalo de anos atrás quando as ações do grupo suíço caíram de um pico de quase CHF 600 (US$ 720) em 2014 para CHF 147,85, deixando a empresa avaliada CHF 7,7 bilhões.

O fraco desempenho do grupo – o lucro líquido caiu 75%, ficando em torno de – CHF 219 milhões no ano passado – tem sido causado, em parte, pela redução da demanda dos consumidores chineses, que estão gastando menos no mercado de luxo.
Mas alguns analistas e investidores argumentam que muitos dos problemas da Swatch, na verdade, são de origem interna.
Hayek atua como executivo-chefe desde 2003 e sua irmã, Nayla, preside o conselho desde 2010. Oliver Müller, fundador da LuxeConsult, uma consultoria para o setor de relógios, disse que os Hayek estavam administrando a Swatch como uma empresa familiar e não como uma empresa pública.
“Em alemão, dizemos beratungsresistent: resistente a conselhos. Essa é a essência do problema… é uma história triste”, disse.
Os investidores, no entanto, podem em breve forçar a família a dar mais atenção às suas demandas.
Steven Wood, fundador da empresa de investimentos estadunidense GreenWood Investors, que detém 0,5% das ações da Swatch, está fazendo uma campanha para ser eleito para o conselho de administração na próxima reunião anual da Swatch, marcada para 20 de maio.
Wood disse ao Financial Times que a Swatch estava “sendo administrada apenas por um acionista”, uma referência velada à família Hayek, que possui 25% das ações mas controla 44% dos direitos de voto.
Hayek, de 70 anos, parece se divertir ao agredir o establishment empresarial suíço. Além de repreender analistas e investidores, o intransigente executivo-chefe da Swatch é conhecido por fumar charutos em conferências de imprensa. Durante sua gestão, a Swatch ocasionalmente publicou seu relatório anual em suíço-alemão – um dialeto incompreensível para muitos investidores – ou em uma fonte tão pequena que exigia lupa para leitura.
Símbolo global
O setor relojoeiro suíço tem uma dívida significativa com a Swatch. A adoção da tecnologia de quartzo pela empresa sediada em Biel/Bienne na década de 1980 ajudou a tornar os relógios suíços acessíveis às massas e a afastar a ameaça dos fabricantes asiáticos baratos.
O fundador Nicolas Hayek, pai de Nick, falecido em 2010, é amplamente reconhecido por ter transformado a Swatch em um símbolo global da inovação e excelência suíça.
Mas, segundo o cofundador da Roce Capital, Michael Niedzielski, ex-acionista, o dinamismo foi deixado de lado pela atual administração.
“A comunicação com a comunidade de investidores é ruim e eles não recebem feedback”, disse ele, acrescentando que a gestão “desastrosa” do capital de giro havia drenado o fluxo de caixa livre na última década.
Outro ex-investidor da Swatch disse que gostaria que os executivos que lideram as diversas marcas tivessem mais controle sobre as estratégias do grupo, “mas a família Hayek não permitiu”.
Enquanto isso, qualquer tentativa de oferecer conselhos à administração sobre a atualização do portfólio para tentar impulsionar o crescimento foi rejeitada, de acordo com um banqueiro de investimentos baseado na Suíça. “Eles rejeitaram qualquer tentativa de se reunir com eles e oferecer conselhos”, disse.
A Swatch afirma que os analistas são convidados a participar de telefonemas com os executivos duas vezes por ano e que os investidores visitam a empresa “com muita frequência”. A empresa também defendeu a gestão de seu capital de giro, ressaltando que os recebíveis comerciais equivaliam a apenas 31 dias de faturas pendentes no final de dezembro.
Grandes marcas, grandes desafios
As marcas da Swatch atendem coletivamente a praticamente todos os setores do mercado. O grupo vende tudo, desde relógios Breguet de £44.000 (CHF 49.000) até relógios de £50 sob a marca Swatch.
No entanto, o setor relojoeiro suíço amarga um declínio desde o boom da pandemia e enfrenta novos desafios com as tarifas dos EUA e com o impacto do franco forte nos preços de exportação.
Caroline Reyl, diretora de marcas premium da Pictet Asset Management, disse que o “segmento muito sofisticado” é a única parte do mercado de relógios que está crescendo, “a saber, Patek Philippe, Rolex e Audemars Piguet”.
“Esse efeito de polarização de algumas marcas dominantes só está aumentando”, acrescentou.
As marcas de alto padrão da Swatch, entretanto, perderam espaço. Jean-Philippe Bertschy, chefe de pesquisa de ações suíças da Vontobel, diz que a Patek Philippe e a Breguet estavam faturando cerca de US$ 300 milhões a US$ 400 milhões em vendas anuais há 20 anos.
Desde então, o banco estima que as vendas da Patek Philippe cresceram cerca de sete vezes, chegando a quase US$ 2,3 bilhões, enquanto as vendas anuais da Breguet caíram quase pela metade, chegando a US$ 221 milhões.
O movimento se repete nas vendas de relógios Omega e Longines, que caíram 20% e 29%, respectivamente, entre 2019 e 2024, de acordo com a Vontobel.
“Não há nenhuma outra empresa que tenha visto as vendas de relógios diminuírem tanto nos últimos anos”, disse Bertschy, acrescentando que “os investidores realmente começaram a perder a paciência”. A Swatch disse que o FT não deveria “ouvir, depender ou confiar em analistas”.
Vantagens estruturais
Hayek disse anteriormente que sua família não está “nem um pouco insatisfeita com o Swatch Group” e que ele está mais preocupado com o desenvolvimento de longo prazo da empresa do que com os movimentos de curto prazo no preço das ações.
“Se você é nosso acionista, pode ter certeza de que é coproprietário de uma empresa sólida e que não terá problemas se houver uma tempestade. Essa é uma grande diferença em relação a alguns de nossos concorrentes”, acrescentou ele, referindo-se ao sólido balanço patrimonial da Swatch.
A Swatch ainda mantém algumas vantagens estruturais sobre os rivais. Suas mais de 150 unidades de produção fabricam quase todos os componentes de seus relógios, bem como aqueles vendidos por outros fabricantes de relógios. A Micro Crystal, outra empresa da Swatch, também é considerada líder na produção de cristais de quartzo usados em relógios e smartphones.

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“Swatch quase não têm concorrentes”
O grupo também performou com sucesso em alguns lançamentos recentes. A colaboração MoonSwatch entre a Omega e a Swatch, uma coleção popular de relógios coloridos e acessíveis, aumentou as vendas da empresa.
Mas analistas sugerem que a Swatch precisa se concentrar na revitalização de outras marcas para crescer no mercado de alto padrão, considerado relativamente resistente. A Breguet, que atualmente perde dinheiro, é vista como uma marca negligenciada com enorme potencial, por causa de seus 250 anos de história e conexão com figuras simbólicas, como a rainha Maria Antonieta e Napoleão Bonaparte.
Casamento infeliz
Por enquanto, Hayek parece estar preso em um casamento infeliz com os investidores. O executivo-chefe da Swatch levantou várias vezes a perspectiva de tornar a empresa privada, fechando o capital, mas nenhum acordo se concretizou e ele agora enfrenta uma ameaça que pode tirar o controle da empresa de suas mãos.
Wood está tentando ser eleito para o conselho de administração como um representante dos detentores das chamadas ações ao portador, que representam 55% do capital social da Swatch, mas têm uma minoria de direitos de voto.
A diretoria da Swatch recomendou que os acionistas votassem contra a resolução de Wood por vários motivos, incluindo o fato de ele não ser cidadão suíço nem residente na Suíça.
Independentemente do resultado da votação, está se formando um consenso de que a Swatch precisa de uma mudança. Mas sem nenhum plano de sucessão conhecido, muitos observadores perderam a esperança em uma rápida reviravolta.
“Omega, Longines, Breguet … estão entre as marcas de maior prestígio do setor [mas] infelizmente estão perdendo participação de mercado de forma consistente”, disse Bertschy, da Vontobel. “Acreditamos firmemente que algumas mudanças na governança corporativa são urgentemente necessárias.”
Copyright The Financial Times Limited 2025
(Adaptação: Clarissa Levy)

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