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Suíça sobe em ranking climático global, mas avanço ainda é lento

Em 2023, os transportes representavam 43% das emissões de CO2 da Suíça (não incluindo a aviação). Entre 1990 e 2023, as emissões de CO2 provenientes dos transportes registaram uma redução de 7%.
Em 2023, os transportes representavam 43% das emissões de CO2 da Suíça (não incluindo a aviação). Entre 1990 e 2023, as emissões de CO2 provenientes dos transportes registaram uma redução de 7%. Keystone / Gaetan Bally

A Suíça subiu sete posições em um importante ranking internacional de desempenho climático, mas analistas afirmam que o país ainda não está reduzindo suas emissões domésticas com a rapidez necessária.

O mais recente Climate Change Performance IndexLink externo (CCPI, na sigla em inglês), divulgado na terça-feira, classifica a Suíça na 26ª posição entre os 63 países avaliados – uma melhora impulsionada sobretudo por novas legislações climáticas e metas de emissões atualizadas. O relatório, porém, também ressalta que a Suíça depende excessivamente da compensação de carbono no exterior e que há lentidão em reduzir as emissões de setores domésticos como transporte, aviação, finanças e agricultura.

Os resultados são divulgados em um momento em que líderes mundiais se reúnem em Belém, no Brasil, para a segunda semana da cúpula climática COP30.

Progresso global avança lentamente

Em suma, o relatório traça aquilo que seus autores descrevem como um “quadro ambivalente” de ação climática global, dez anos após o Acordo de ParisLink externo.

Segundo os autores, as emissões globais per capita estão diminuindo e a implantação de energias renováveis avança em larga escala, com mais de 100 países buscando zerar suas emissões líquidas. Ainda assim, o ritmo não é rápido o suficiente para cumprir a meta do Acordo de Paris de limitar o aquecimento global a 1,5 °C acima dos níveis pré-industriais.

Os Estados Unidos – atualmente o segundo maior emissor de gases de efeito estufa, atrás apenas da China – estão praticamente ausentes da COP30, enquanto vários dos principais Estados produtores de petróleo continuam defendendo os combustíveis fósseis, observa o relatório.

Dinamarca, Reino Unido e Marrocos ocupam a quarta, quinta e sexta posições no ranking deste ano. Como em anos anteriores, as três primeiras colocações permanecem vazias, uma vez que os autores consideraram que nenhum país está tomando as ações necessárias para limitar o aquecimento a 1,5 °C. Estados Unidos, Irã e Arábia Saudita ocupam os últimos lugares.

Suíça: desempenho ‘mediano’

Embora tenha subido sete posições, a Suíça permanece muito abaixo da colocação que ocupava seis anos atrás, quando foi classificada em 9º lugar. Ela está agora entre os países com um “desempenho mediano”, situando-se entre Malta e o Brasil.

Tabela
A Suíça ocupa o 26º lugar em termos de desempenho climático. CCPI

O Brasil, país-sede da COP30 neste ano, avançou uma posição no ranking em relação ao ano passado. Apesar dos progressos na expansão de energias renováveis, o relatório do CCPI aponta que decisões como a autorização para perfuração da Foz do Amazonas prejudicaram a classificação do país sul-americano.

Jan Burck, da ONG GermanwatchLink externo, que auxiliou na elaboração do relatório CCPI, disse à Swissinfo que o recuo da Suíça nos últimos anos reflete “a melhora no desempenho de outros países, especialmente em energias renováveis”. A votação de 2021 que rejeitou uma lei de proteção climática também custou ao país várias posições no ranking, acrescentou.

Novas metas, mas pressão por ações mais firmes

A Suíça tem como metaLink externo cortar pela metade suas emissões de gases de efeito estufa até 2030 e zerá-las até 2050. Em janeiro, o governo definiu objetivos intermediários: até 2035, o país deverá reduzir suas emissões em pelo menos 65% em relação aos níveis de 1990 e, entre 2031 e 2035, alcançar uma redução média de 59%.

Essas Contribuições Nacionalmente DeterminadasLink externo (NDCs, na sigla em inglês), somadas às novas legislações – incluindo revisões da Lei de CO2Link externo, da Lei do Clima e InovaçãoLink externo e da Lei de EletricidadeLink externo –, contribuíram para a melhora da posição da Suíça no ranking deste ano.

Mas especialistas do CCPI argumentam que a Suíça poderia “elevar ainda mais suas ambições”, observando que a Finlândia pretende alcançar a neutralidade de carbono até 2035 e a Islândia, até 2040.

Eles também lamentam que a Suíça não tenha deixado claro quanto de sua meta para 2030 será cumprido com reduções domésticas, e não por meio de compensação de carbono no exterior – prática em que um país financia projetos de mitigação climática em outros países e recebe, em troca, créditos de redução de emissões.

O CCPI é um ranking que classifica os países de acordo com seu desempenho em proteção climática. Ele é publicado anualmente pela ONG Germanwatch, pelo New Climate Institute e pelo Climate Action Network. O ranking elenca 63 países e a União Europeia, que juntos são responsáveis por mais de 90% das emissões globais de gases de efeito estufa. A avaliação se baseia em quatro indicadores-chave: emissões de gases de efeito estufa, energias renováveis, uso de energia e política climática. O relatório conta com a contribuição de 450 especialistas globais.

“Seria possível alcançar maiores reduções por meio da implementação de regulamentações eficazes em todos os setores, especialmente transporte, agricultura e finanças. A Suíça também deveria estabelecer um cronograma de eliminação dos combustíveis fósseis”, afirmam os autores.

Em um comunicado divulgado nesta terça-feira, o Greenpeace Suíça criticou a atual estratégia climática do governo. “Nós poderíamos e deveríamos utilizar a energia de forma mais inteligente e banir o petróleo e o gás natural de nossas casas e carros”, disse o especialista em clima Georg Klingler. Ele também defendeu medidas para limitar o papel do setor financeiro suíço no financiamento de atividades com alta emissão de gases de efeito estufa.

Preocupações com a implementação

A Lei de CO2Link externo da Suíça entrou em vigor no início de 2025. Ela prevê incentivos financeiros, investimentos em projetos de mitigação climática, o desenvolvimento de tecnologias de captura de carbono e a possibilidade de recorrer à compensação de emissões de carbono no exterior. No entanto, críticos afirmam que a legislação vem sendo implementada de forma insuficiente e que são necessárias medidas adicionais.

Klingler afirmou que isso pode “atrasar ainda mais a descarbonização” na Suíça e que o governo deveria “repensar sua abordagem geral” à proteção climática.

A Lei de EletricidadeLink externo, que visa impulsionar a produção doméstica de energia renovável – solar, eólica e hidrelétrica, reduzindo a necessidade de importação – foi, de modo geral, bem recebida pelos analistas do CCPI. Mas eles alertaram que regulamentações fracas estão atrasando a transição dos combustíveis fósseis para fontes de energia limpa.

Burck, da Germanwatch, acredita que a Suíça poderia acelerar sua transição para uma matriz renovável ao reforçar requisitos obrigatórios de instalação de painéis solares em grandes telhados e em todas as novas construções, garantir aos locatários o direito de instalar carregadores de veículos elétricos e estabelecer datas fixas para abandonar sistemas de aquecimento a combustíveis fósseis e carros a gasolina. Ele também destacou a necessidade de enfrentar barreiras persistentes à aprovação de projetos eólicos, além de alertar contra novos investimentos em usinas nucleares ou termoelétricas a gás.

Suíça não deve atingir meta para 2030

Apesar de suas ambições climáticas, as autoridades suíças reconhecem que o país provavelmente não atingirá sua meta climática para 2030.

“Não alcançaremos nossas metas climáticas para 2030 – e nem chegaremos perto”, disse Reto Burkard, diretor-adjunto do Escritório Federal do Meio Ambiente, durante uma conferência de direito climático em Berna, no início de novembro. Ele não apresentou dados que embasassem sua afirmação.

Conteúdo externo

Em 2022, o governo também sinalizou em um relatório ambientalLink externo que a meta estava em risco. E essa não seria a primeira vez: a Suíça não alcançou por pouco sua meta de emissões para 2020, registrando 19% em vez dos 20% estipulados.

Burkard critica o Parlamento suíço pelo fracasso esperado para 2030, afirmando que as questões climáticas despertam atualmente pouco interesse na política federal. Segundo ele, o que é necessário não são novas metas.

“O que me interessa é um conjunto de medidas que sejam socialmente aceitáveis. E medidas que tenham alta probabilidade de serem aceitas pelo Parlamento”, disse Burkard ao público presente no evento em Berna.

Edição: Marc Philipp Leutenegger/fh
Adaptação: Clarice Dominguez

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