António da Cunha reconstruiu a vida na Suíça após fugir da ditadura em Portugal. O pesquisador aposentado da Universidade de Lausanne faz hoje trabalho voluntário para a comunidade. A história de uma migração bem-sucedida.
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Filipe Carvalho
“Quando vim para a Suíça tinha a ilusão de que ia transformar o mundo com aquilo que ia fazer…”
António da Cunha é professor emérito e investigador na Faculdade de Geociências e Ambiente, da Universidade de Lausanne.Link externo Tem dedicado uma grande parte da sua vida académica ao urbanismo sustentável, promovendo projetos de urbanização ecológicos e a participação crescente da população nas decisões coletivas. Aos 67 anos, e após mais de quatro décadas na Suíça, continua determinado em pensar e construir as cidades sustentáveis do futuro.
Certamente haverá poucos portugueses que tenham procurado exílio na Suíça após terem fugido da perseguição política em Portugal, no período fascista. No entanto, António da Cunha teve essa chegada conturbada à Confederação Helvética. “A situação que vivi em Portugal fez me ficar um bocado abalado depois de 4 meses passados na prisão de Caxias. Isto foi na altura da crise estudantil de 1971, em Coimbra. Houve uma greve geral.”
O artigo faz parte da série Jovens Pesquisadores Portugueses na Suíça.
Nasceu perto de Aveiro e frequentou os dois primeiros anos de Medicina na Universidade de Coimbra antes de fugir do país. Em Lausanne formou-se em economia e quando frequentou uma pós-graduação em Estudos de Desenvolvimento e Ecologia, em Genebra, ministrado por Georgescu-Roegen, compreendeu “que a economia não são os movimentos financeiros, mas antes a utilização da matéria e da energia que vem dos recursos naturais”. No seu doutoramento analisou “as assimetrias regionais e os impactos sobre a qualidade de vida e a organização do sistema urbano à escala da Suíça”. Debruçando-se sobre a centralidade urbana e o processo de metropolização da Suíça e o impacto nos diversos cantões.
Ao longo da sua vida António esteve profundamente implicado em associações portuguesas e de emigrantes. Quando olha para o panorama atual assume que “o movimento associativo português na Suíça está muito mal. Aqui em Lausanne havia 20 associações e agora há apenas a Associação dos Minhotos”. A transformação sociodemográfica dos emigrantes fez mudar o panorama associativo, “as pessoas são urbanas já não são as que vinham da aldeia. Conhecem os códigos da vida na cidade”.
O nosso entrevistado é membro dos conselhos consultivos da comunidade, nos consulados portugueses, e durante 12 anos integrou a comissão federal para os estrangeiros. “Muitos anos de luta aí nessas comissões”, desabafa. Hoje em dia participa ativamente na Casa do Povo de Renens, dinamizado debates e apresentações de obras artísticas de autores locais, na Fundation Ferme des Tilleuls e o Fórum das Associações de Renens.
António da Cunha mantem o seu espírito curioso e a vontade de se rodear de pessoas e trabalhar coletivamente. Por isso, encontra-se a desenvolver um Atlas comentado sobre os bairros de Lausanne. Além disso está a desenvolver um projeto intitulado Micro Paysages em conjunto com as oito comunas da zona este de Lausanne, “consiste em criar espaços verdes não lineares, onde de dois em dois anos se faz uma corrida. A ideia é uma sensibilização ao urbanismo verde, ecológico, sustentável, coordenando os oito jardins e ligando-se simbolicamente com os percursos pedonais”. Tem ainda de organizar o processo participativo para a criação de uma zona turística em Nyon. A revista UrbiaLink externo, especializada em temas de sustentabilidade e publicada há 15 anos, irá continuar assim como a sua participação em seminários universitários em Túnis. “Gosto muito de trabalhar com as pessoas”, partilha António da Cunha.
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