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Os judeus suíços são contra a guerra (I)

Professor Alfred Donath, presidente da Federação Suíça de Comunidades Israelitas fala com swissinfo. Keystone

Os judeus suíços são contrários a guerra no Iraque. A imprensa é parcial ao noticiar sobre Israel. A Suíça precisa superar desconfiança dos israelenses, para poder mediar a paz.

swissinfo entrevista o professor Alfred Donath, presidente da Federação Suíça de Comunidades Israelitas.

Senhor Donath, a guerra no Iraque começou há poucos dias. Como você sente o início desse conflito high-tec?

Professor Alfred Donath: a grande parte dos judeus se opõe a essa guerra. Esperávamos que tivesse sido encontrada uma solução pacífica para o problema no Iraque. Porém é preciso lembrar que nós também não estamos contra os Estados Unidos. Os americanos salvaram afinal a vida dos judeus na Europa, durante a Segunda Guerra Mundial. Com relação a guerra, não podemos esquecer que Saddam Hussein fez muito mal para o seu próprio povo. Ele matou três milhões de iraquianos. Ele lançou gases venenosos contra curdos. Trata-se, afinal, de um regime que deve desaparecer.

E como a guerra no Iraque poderá contribuir para a paz da região?

Nossa esperança, a longo prazo, é que a introdução de um regime democrático no Iraque contribua a democratização dos países da região. Se esse processo for bem sucedido, é possível que Israel seja mais bem aceito pelos países árabes.

Porém não seria mais premente resolver o conflito entre palestinos e judeus do que modificar o regime de Saddam Hussein?

Sim, para os judeus o problema na Palestina é obviamente muito mais grave. Porém os americanos e ingleses acreditam que a supressão do regime totalitário do Iraque poderá trazer mudanças positivas para a região. Ao mesmo tempo, o problema entre israelenses e palestinos têm uma outra profundidade. Depois de anos de Antifada, o ódio que existe entre os dois povos é muito grande. Esse sentimento é muito parecido com o que havia entre os franceses e alemães, logo ao fim da Segunda Guerra Mundial.

Os dois povos acabaram se reconciliando, não?

Isso mostra que uma reconciliação é possível. Um dia, os israelenses e palestinos irão descobrir que lutar não é a melhor solução para resolver os problemas de convivência. Negociar é a única solução para voltar, não a uma situação de amizade, mas pelo menos de convivência e não- violência.

Você acredita que a Suíça, como país neutro, poderá ajudar na mediação de paz entre israelenses e palestinos?

Sim, nós esperamos, porém a Suíça se desqualificou ao tomar parte claramente pelos palestinos. Os suíços ficaram muito constrangidos ao ver que o último tratado de paz havia sido assinado em Oslo, na Noruega, e não aqui.
As relações econômicas e culturas entre a Suíça e Israel são muito boas. Eu espero que a Suíça poderá no futuro ter um papel mais atuante nesse sentido – sua diplomacia tem feito muitos esforços – porém é preciso criar um clima de confiança nos dois lados.

Israel desconfia da Suíça?

Israel desconfia de toda a Europa! Mas com a Suíça será mais fácil de reestabelecer essa confiança, se realmente existir uma vontade das duas partes.

O senhor, como presidente da Federação Suíça de Comunidades Israelitas, já não foi muito criticado por ter chamado a imprensa de “anti-semita”, afirmando que ela é parcial no noticiário do conflito palestino?

Os jornais podem criticar Israel, assim como o fazem em relação aos governos de outros países. Porém eu percebi que há uma sistematização no noticiário da imprensa suíça. Num seminário que participei há pouco tempo, falei sobre o tema “Ética do jornalismo em relação ao conflito no Oriente Médio”. Lá eu mostro exemplos tirados da imprensa, como o de uma matéria de página sob o título em letras graúdas “Massacre de Jenin” (sobre o ataque de retaliação do exército israelense ao campo de refugiados de Jenin). Dias depois, o mesmo veículo publica uma pequena notinha dizendo que ninguém havia encontrado corpos, que mostrasse esse ataque havia sido realmente um massacre. Eu mostrei também que a imprensa, hoje em dia, fala apenas de “ativistas palestinos” e não de “terroristas”. Quando ocorrem atentados onde, por exemplo, vinte israelenses morrem, ninguém menciona que eles foram mortos por terroristas num ônibus – pelo menos no título. Por outro lado, quando isso ocorre com palestinos, os jornais então escrevem “palestinos mortos pelo exército israelense”. Veja então que sempre existem várias diferentes formas de apresentar o mesmo fato…

A imprensa é contrária a Israel?

Atualmente uma grande parte da imprensa mundial está contra Israel. Mesmo a própria imprensa não nega essa verdade. Nós já visitamos a grande parte das redações na Suíça exatamente para descobrir a razão dessa postura. Eles nos explicam dizendo que o suíço tende a estar do lado do mais fraco. Trata-se de uma atitude racional. Porém veja: se você analisa o conflito entre Israel e Palestina, está claro que Israel é o ator mais forte nesse cenário. Porém é preciso ver todo o conjunto do mundo árabe, para entender a posição difícil de Israel.

Além do argumento da simpatia pelos fracos, existem outros para explicar a imagem negativa de Israel na imprensa?

Os jornais nos deram uma outra razão curiosa para explicar a parcialidade do seu noticiário. Eles afirmam que os correspondentes em Israel são pessoas com uma grande experiência profissional e que estão há anos no país. Eles conhecem sua política e cultura. Porém os correspondentes na Palestina teriam um outro perfil: eles são, em grande parte, jovens jornalistas com pouca experiência e também idealistas, que têm problemas para analisar as informações que recebem.

E qual a opinião da comunidade judaica sobre a postura da imprensa?

O que nós criticamos na imprensa é a crítica sistemática que ela faz de Israel. Muitas vezes, as fotos e as matérias escolhidas para mostrar Israel de um prisma negativo. Realmente ocorrem coisas em Israel que não deveriam acontecer. Porém o país está confrontado com essa onda de terrorismo. Na época de Barak ocorriam todos os dias atentados. Porém no governo Charon – que obviamente pode ser criticado – vê o número de atentados sofreu uma redução considerável. Muitas redes de terrorismo foram também decapitadas e sua influência reduzida.

Porém a forma como o governo israelense combate o terrorismo não ajuda a piorar sua imagem no mundo?

Sim, é verdade que Israel perdeu muito do seu capital de simpatia no mundo. Lembro-me que, em 1967, a Suíça estava muito próximo de Israel durante a Guerra dos Seis Dias. Atualmente a situação econômica é grave em Israel, sobretudo depois do início da Antifada. Para contrapor esse clima negativo, muitas pessoas têm viajado para Israel, para mostrar que estão solidários com o país.

Entrevista continua na parte II

swissinfo, Alexander Thoele, Genebra

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