Perspectivas suíças em 10 idiomas

Enfermeiras do mundo lutam por melhores condições de trabalho

une manifestation
Enfermeiras britânicas saíram às ruas em julho em Londres para exigir aumento salarial e melhores condições de trabalho. Keystone / Andy Rain

Após meses de trabalho até a exaustão em áreas de isolamento da Covid-19, enfermeiras vão às ruas em vários países protestar por melhores condições de trabalho. Na Suíça, profissionais da saúde também não estão satisfeitos, mas o Parlamento hesita em mudar o quadro.

Estados Unidos, Nova Zelândia, França, Peru e Zimbábue: enfermeiras e enfermeiros nesses países param de trabalhar para exigir melhores salários e condições de trabalho. A crise provocada pelo surgimento do novo coronavírus demonstra as dificuldades enfrentadas pelos profissionais de saúde. Escassez de mão-de-obra, baixos salários e falta de reconhecimento são alguns dos problemas. A situação extrema vivida nos últimos meses dá um novo impulso às demandas, que já pairam no ar há décadas. 

O movimento ganha na Suíça impulso. Associações e sindicatos formaram uma aliança de profissionais da saúdeLink externo para organizar diversos protestos e ações no final de setembro. O ponto alto será uma carreata frente ao Parlamento federal em Berna, em 31 de outubro. 

Mostrar mais
infermiera con mascherina

Mostrar mais

Enfermeiros na Suíça, heróis e heroínas estressados e mal pagos

Este conteúdo foi publicado em A velha senhora faleceu à noite. Nunca ninguém a visitou. Uma longa estadia no hospital sem a visita de um familiar ou conhecido. Jennifer S.* estava ao lado de sua cama. “Eu ainda posso ouvir o seu último suspiro. Eu não queria que ela morresse sozinha”. Quase um ano após o trágico evento, a jovem…

ler mais Enfermeiros na Suíça, heróis e heroínas estressados e mal pagos

Parlamentares hesitantes

Deputados e senadores suíços debatem atualmente nas câmaras uma iniciativa (projeto de lei levado à plebiscito após recolhimento de um número mínimo de assinaturas de eleitores) intitulada “Por uma forte enfermagemLink externo“. Ela foi lançada pela Associação Suíça de Enfermeiros (ASILink externo, na sigla em francês) em 2017. A maioria dos parlamentares recomendam aos eleitores que votem “sim” a um projeto alternativo, que visa alcançar alguns dos objetivos propostos pela iniciativa original: este propõe medidas de ajuda como apoio à formação contínua e reforço das competências profissionais.

O Conselho Nacional (Câmara dos Deputados) e Conselho dos Estados (Senado) debatem atualmente os detalhes da contraproposta, em particular a obrigação dos cantões (estados) de apoiar financeiramente os jovens profissionais em treinamento ou a garantia de reembolso pelo seguro de saúde das despesas individuais dos enfermeiros com formação.

Mostrar mais
Des infirmières manifestent

Mostrar mais

Profissionais da saúde protestando ao redor do globo

Este conteúdo foi publicado em Enfermeiros(as), médicos(as) e ajudantes de limpeza já protestaram em diversos países no mundo. Em meio à pandemia causada pelo novo coronavírus, os profissionais são mais exigidos do que nunca. Porém salários e condições de trabalho deixam a desejar. 

ler mais Profissionais da saúde protestando ao redor do globo

A ASI lamenta, entretanto, que o projeto do Parlamento não inclua nenhuma medida para garantir a manutenção do quadro de profissionais de saúde e a melhora das condições de trabalho. Atualmente 46% dos enfermeiros abandonam profissão após alguns anos de exercício, como indicou um estudoLink externo do Observatório de Saúde da Suíço, um dos índices mais elevados entre os profissionais do setor.

Situação pode piorar

A Suíça está em uma posição mais confortável em comparação internacional: o país tem uma das proporções mais altas de enfermeiros por habitante ou recém-formados. Porém alguns indicadores começam a preocupar os observadores. De acordo com o último “Panorama da SaúdeLink externo“, estudo publicado em 2019 pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), a remuneração dos enfermeiros em relação ao salário médio na Suíça está entre as mais baixas dos países da OCDE. 

Conteúdo externo

A Suíça ocupa o segundo lugar entre os países que mais empregam enfermeiros estrangeiros. O Departamento Federal de Estatísticas (OFSLink externo) também revela que 36% dos profissionais não têm a nacionalidade suíça: eles são em grande parte alemães (13%), franceses (12%) e italianos (3%).

A dependência de mão-de-obra estrangeira, especialmente trabalhadores fronteiriços (empregados na Suíça, mas residentes nos países vizinhos), ficou clara durante a pandemia. Muitos países fecharam suas fronteiras no ponto alto do “lockdown” para limitar a disseminação do vírus. Nesse momento, a Suíça teve que negociar acordos especiais com as autoridades nos países vizinhos para permitir que profissionais da saúde pudessem a atravessar a fronteiras e garantir o funcionamento dos hospitais onde trabalhavam.

Conteúdo externo

A pandemia segue seu curso, com números aumentando diariamente. O governo suíço impôs recentemente regimes de quarentena para pessoas que chegam oriundas de regiões de risco, dentre elas departamentos (estados) da França. Porém abriu exceções para as regiões fronteiriças.

Enfermeiros mais satisfeitos

Um estudo internacionalLink externo realizado em 2012 mostra que os enfermeiros suíços estão mais satisfeitos com seu ambiente de trabalho – e sofrem menos fadiga mental – do que colegas em países europeus. Entretanto, uma pesquisa de opiniãoLink externo realizada pelo sindicato Unia no final de 2019 com o pessoal de enfermagem na Suíça, revelou que 90% dos enfermeiros questionados declararam trabalhar “sob pressão” e 87% afirmaram não ter tido tempo suficiente para se dedicar aos pacientes. A maioria declarou também trabalhar em turnos sem respeitar os períodos de descanso e reclamam não ter tempo suficiente para a família e o lazer. 

Mostrar mais
Jovem olhando para a câmera

Mostrar mais

Suíça atrai enfermeiros portugueses

Este conteúdo foi publicado em Quando lhe propuseram trabalhar por três euros à hora em Portugal (menos de quatro francos), o enfermeiro Rui Ferreira percebeu que seria “obrigado” a sair do país para ter dignidade profissional. Rui decidiu emigrar em 2011, após recusar duas propostas “oportunistas” de “emprego low cost” e tentar candidatar-se sem sucesso a hospitais públicos portugueses. O…

ler mais Suíça atrai enfermeiros portugueses

Os depoimentos que coletamos durante a reportagem sobre a vida diária dos enfermeiros na Suíça confirmam o estresse, o excesso de trabalho e a falta de tempo para se dedicar aos pacientes. Muitos profissionais também criticaram a pressão da hierarquia e a falta de reconhecimento.

“É importante ter profissionais à disposição e boas condições de trabalho para garantirmos a qualidade do tratamento”, ressalta Sophie Ley, presidente da ASI. “Simplesmente oferecer mais formação contínua não será suficiente para garantir a qualidade, se quase metade dos enfermeiros abandonam sua profissão.”

Adaptação: Alexander Thoele

Certificação JTI para a SWI swissinfo.ch

Mostrar mais: Certificação JTI para a SWI swissinfo.ch

Participe da discussão

As contribuições devem respeitar as nossas regras. Se você tiver dúvidas ou quiser sugerir outros temas para debates, nos escreva!

SWI swissinfo.ch - sucursal da sociedade suíça de radiodifusão SRG SSR

SWI swissinfo.ch - sucursal da sociedade suíça de radiodifusão SRG SSR