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Dois em cada três suíços atuam no voluntariado

Competição de ginástica
Impossível sem o voluntariado: o Festival Federal de Ginástica 2025 atraiu 300 mil visitantes e 65 mil ginastas a Lausanne. Keystone / Jean-Christophe Bott

Quase dois terços dos suíços realizam algum tipo de trabalho voluntário. O estudo revela que esse engajamento fortalece a coesão social e aumenta a confiança nas instituições, além de fomentar maior participação na democracia direta.

Uma ampla enqueteLink externo, envolvendo cinco mil pessoas e conduzida pelo Observatório do Trabalho Voluntário da Sociedade Suíça de Utilidade Pública (SGG), constatou que 64% da população do país executa algum tipo de trabalho voluntário. Muita gente atua em clubes esportivos, ocupa cargos políticos ou cuida e apoia pessoas fora de seus próprios domicílios.

Em uma comparação internacional, a Suíça se destaca, segundo o Observatório, “por um alto nível de engajamento voluntário”. Ao lado da Noruega, Dinamarca, Suécia e dos Países Baixos, a Suíça “lidera os rankings europeus, tanto no voluntariado formal quanto no informal”.

Relação entre trabalho voluntário e participação na democracia direta

Andreas Müller, gerente de projetos da SGG, observa que “há trabalho voluntário em qualquer lugar e está comprovado que ele contribui para a coesão social”. No entanto, acrescenta Müller, “é interessante como, na Suíça, ele interage com o sistema de serviço cívico voluntário e com a participação na democracia direta”. Os resultados do Observatório indicam que quem executa trabalho voluntário tem normalmente uma atuação política mais intensa.

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O Observatório distingue entre trabalho voluntário formal e informal. No decorrer de um ano, 41% dos envolvidos executaram um trabalho voluntário formal. Isso inclui a atuação em uma das 90 mil associações e organizações sem fins lucrativos da Suíça, bem como em cargos honorários oficiais.

E mais da metade (51%) da população suíça executou algum trabalho voluntário informal ao longo do ano. Muitas pessoas fazem isso esporadicamente, como por exemplo no contexto de ajuda a vizinhos ou no cuidado de parentes. No total, 64% da população, ou seja, quase dois terços, se envolveram em atividades voluntárias formais ou informais – ou em ambas – ao longo de um ano.

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Trabalho voluntário “relativamente estável” é suficiente?

O Observatório do Trabalho Voluntário é publicado apenas a cada cinco anos. Os resultados estavam sendo, portanto, aguardados com grande expectativa – visto que a pandemia da Covid-19 ocorreu nesse intervalo. Embora a pandemia tenha restringido seriamente esse tipo de atividade em algumas fases, houve, ao mesmo tempo, segundo o Observatório, “uma onda de solidariedade na Suíça”.

A comparação com o monitoramento anterior do trabalho voluntário é, contudo, um pouco mais complexa devido à necessidade de um ajuste da metodologia. De maneira geral, porém, o Observatório descreve uma situação atual semelhante àquela de cinco anos atrás.

Andreas Müller demonstra ceticismo quanto à ideia de que esse resultado seria satisfatório “do ponto de vista da democracia”. Segundo ele, “permanecer estável não é uma boa notícia. Na verdade, seria melhor se o trabalho voluntariado crescesse”. Pois, em sua avaliação, caso isso não ocorra, a coesão social pode se desintegrar em longo prazo.

Maior confiança na política e na sociedade

De fato, o Observatório do Trabalho Voluntário aponta para uma forte relação entre o voluntariado e o sentimento de pertencimento. Quem se engaja, tende a se sentir mais ligado à vizinhança, ao local onde mora e ao país como um todo.

Quem participa de atividades voluntárias ganha uma confiança básica maior em relação a seus convivas e às instituições políticas.

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Trabalhadores voluntários têm uma compreensão maior da “cultura do compromisso” e se sentem menos impotentes politicamente: 55% dos que fizeram algum trabalho voluntário formal rejeitam a afirmação de que “não teriam voz ativa com relação às ações do governo”. Entre aqueles que não realizam nenhum trabalho voluntário, apenas 36% consideram a afirmação incorreta.

“Cada pequena contribuição que se faz é positiva para a sociedade”, diz Müller. O isolamento não é do interesse da comunidade. Mesmo quem coordena um treino de futebol contribui para a coesão social, completa.

É difícil fazer uma comparação internacional de trabalhos voluntários

Como destaca o Observatório do Trabalho Voluntário, a Suíça ficou em segundo lugar, atrás apenas da Noruega, no Estudo Europeu de Valores de 2017.

No entanto, na mais recente comparação europeia de 2022, a Suíça registrou valores mais baixos: de acordo com a Estatística Europeia de Rendimentos e Condições de Vida, apenas 25,7% das pessoas na Suíça executam trabalho voluntário.

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Müller não quer dar demasiada importância a isso. Cada pesquisa define, segundo ele, atividades distintas como voluntárias ou como trabalho.

Além disso, aponta o gerente de projetos da SGG, a comparação internacional do trabalho voluntário apresenta uma dificuldade fundamental: “Na Suíça, especialmente na Suíça de língua alemã, prevalece a ideia de que a sociedade civil resolve seus próprios problemas. Em determinados países, o Estado tem um papel diferente”.

Quem na Suíça cuida voluntariamente das crianças da vizinhança está fazendo um trabalho voluntário informal. Em países como a França, por exemplo, há mais creches e elas são mais acessíveis, mesmo para crianças muito pequenas. “Então há, logicamente, uma necessidade menor de recorrer à ajuda da vizinhança, mas isso não significa necessariamente que o vínculo social seja mais fraco”, pondera Müller.

Segundo ele, a Suíça encontra-se no momento diante de um grande debate político sobre o que é trabalho voluntário e sobre possibilidades e formas que o Estado tem de promovê-lo. Isso porque, em novembro, será realizado um plebiscito sobre a iniciativa Service-Citoyen, que reivindica um serviço civil ou militar obrigatório para todos os suíços e suíças. “Seja a favor ou com receio de que o serviço obrigatório substitua o trabalho voluntário, a população suíça enfrenta um debate fundamental: O que ela entende por princípio do serviço cívico voluntário? E o que é trabalho voluntário?”, questiona Müller.

Leia abaixo o artigo sobre o sistema de milícia na Suíça:

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Edição: Reto Gysi von Wartburg

Adaptação: Soraia Vilela

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