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Escovas suíças para limpar dentes brasileiros

Homem posando frente a estantes de produtos
"Não confiavam que o negócio prosperaria no Brasil", conta Erik Vidal. swissinfo.ch

A história do empreendedor que deixou para trás uma empresa do ramo tecnológico na Suíça e se mudou para o Brasil para viver importando escovas de dente.

Cerca de dez mil quilômetros separam o pequeno vilarejo Dagersheim da megalópole São Paulo. Mas a longa distância não é um problema para a escova de dente suíça que virou a queridinha entre os dentistas brasileiros. Todos os meses, pelo menos um contêiner recheado de escovas de dente helvéticas parte da Europa e atravessa o mar rumo ao Brasil.

Os produtos para higiene bucal produzidos no pé das montanhas alpinas chegam em todos os estados brasileiros. As escovas ultra macias viraram moda e conquistaram os consumidores: no site da maior rede de farmácias brasileira, segundo o Instituto Brasileiro de Varejo e Mercado de Consumo (IbevarLink externo), as versões feitas com cerdas macias são as mais procuradas.

“Mas não foi sempre assim, demoramos para conseguir engrenar no mercado com um produto diferente”, conta Erik Vidal, empreendedor suíço-brasileiro responsável pela importação dos produtos suíços. As escovas coloridas da marca CuradenLink externo, conhecidas comercialmente por CuraproxLink externo, custam um preço acima da média das concorrentes brasileiras – cerca de 28 reais ou 4,30 francos suíços.

“Na Suíça, achavam que o negócio nunca daria certo. Ninguém acreditava que seria viável importar escovas de dente para vender no Brasil”, relembra Vidal. Passados 15 anos desde a criação da empresa, hoje a importação dos produtos Curaprox é considerada um caso de grande sucesso no grupo de empresas suíças de pequeno e médio porte que se inserem no mercado brasileiro.

O crescimento da importadora surpreendeu. Segundo Vidal, à primeira vista o negócio parecia ter tudo para dar errado: uma empresa sem capital para grandes ações de propaganda, um produto quase cinco vezes mais caro que a média e bem diferente dos modelos mais utilizados. Mas a aposta tinha também seus pontos positivos: a qualidade do produto reconhecida por dentistas e a persistência dos empreendedores. “Eu tinha colocado todas minhas economias no negócio, dar errado não era uma opção, tinha que dar certo”, conta.

Caminho pessoal

A chegada das escovas coloridas no Brasil se mistura com a vinda de Vidal. O empreendedor que cresceu no Rio de Janeiro acabou precisando se mudar para a Suíça no meio da adolescência, onde estudou engenharia e criou uma empresa do ramo de software. “Mas sempre tive vontade de voltar para o Brasil”, conta. Perto da meia idade sua vida deu uma guinada e apareceu a chance de se mudar para o país tropical.

Elaborou então um plano de negócios que acabou rejeitado pela matriz suíça. “Havia um desconhecimento sobre o Brasil. Eles não confiavam que o negócio prosperaria”, conta Vidal. Em uma segunda investida, o plano de importação foi aprovado e junto do dentista Hugo Lewgoy e do advogado Milton Ramanho, começou a empreitada em São Caetano do Sul, município vizinho de São Paulo.

Depois de quase dois anos correndo para conseguir as licenças e se adequar às leis brasileiras, iniciaram as importações. Sem funcionários e usando a garagem de um dos sócios como estoque, aos poucos começaram a apresentar as escovas de cerdas macias para os dentistas.

Desde o início, a estratégia de negócio foi conquistar os especialistas. Sem propagandas na TV ou em sites, a Curaprox se inseriu no mercado brasileiro fidelizando os profissionais da odontologia. Marcando presença em universidades e feiras do ramo, as escovas de dente coloridas começaram a atrair atenção por serem diferentes da maior parte dos modelos até então vendidos no Brasil.

“Nosso divulgador sempre foi o dentista. Investimos em conquistar e formar uma rede acadêmica”, explica Vidal. Além da aposta de marketing de nicho, a empresa estruturou seu modelo de negócio com outra peculiaridade: a distribuição direta. Sem atravessadores e transportadores, diminuem o custo do produto final.

Apesar do preço elevado das escovas em comparação com os modelos brasileiros, a marca cresce em curva ascendente acentuada desde 2012. No ano passado, segundo a publicação Guia da FarmáciaLink externo, as escovas suíças estavam em segundo lugar no ranking de preferência dos consumidores. Atualmente, a empresa possui um galpão próprio de logística e distribuição onde trabalham cerca de 40 funcionários. 

Paradigma da maciez

“Quando chegamos no Brasil a sensação das pessoas era de que quanto mais duras as cerdas da escova mais limpeza ela proporcionaria. Quanto mais cheia de borrachas e acessórios, melhor”, relembra Vidal. O design sólido, de linhas retas e sem ranhuras da Curaprox era uma novidade. Além, claro, das cerdas mais finas.

Antes de 2010 as escovas mais comuns no Brasil tinham cerdas duras ou medianamente macias. Rapidamente, os modelos suíços fabricados com fiapos ultra macios conquistaram dentistas preocupados com danos na gengiva causados pela escovação com cerdas duras.

De maneira geral, a literatura científica recomenda a utilização de escovas com cerdas macias para evitar machucados e processos inflamatórios que causem retração na gengiva. No Brasil, um estudo comparativo feito com diferentes escovas disponíveis no mercado identificou que, apesar das diferenças de cada pessoa, as escovas com cerdas mais macias contribuem mais para a saúde bucal.

A odontologista Fernanda Ferreira explicou à SWI swissinfo.ch que as escovas maciais causam menos abrasão dos dentes, estimulam a vascularização de nutrientes da gengiva e contribuem para o controle da flora bacteriana bucal. No entanto, há situações específicas em que escovas menos macias ou mais duras podem ser indicadas. Ferreira explica a análise da escova mais apropriada para cada caso é feita pelos dentistas, durante a consulta.

Estantes de produtos e escovas de dentes
Cores da bandeira do Brasil inspiraram alguns dos modelos de escovas de dentes da Curaprox. swissinfo.ch

A especialista considera que a Curaprox se tornou uma referência em modelos ultra macios, no entanto, aponta que no Brasil as escovas dentais da marca são produtos bastante inacessíveis. “Menos de cinco por cento da população brasileira tem condições de comprar uma escova por esse preço a cada dois meses”, diz.

Atualmente, há diversos outros modelos de escovas ultra macias no mercado brasileiro. Alguns inclusive que ostentam na embalagem “feito na suíça”, em alusão à bandeira helvética presente em todas as escovas da Curaden. Para Ferreira, a diversidade atual do mercado se deve à competitividade em proporcionar escovas cada vez melhores aos públicos-alvo, que variam de caso a caso.

“Porém, mais importante que a marca da sua escova, é a frequência que se escova, a intensidade – sem fazer força – e a duração” conclui a especialista.

Erik Vidal além de trabalhar com escovas de dente, preside também a Associação Suíça de Beneficência HelvetiaLink externo. A principal atividade da instituição é manter um retiro residencial para idosos no interior do estado de São Paulo, onde hoje vivem 22 suíços. O lar se mantém a partir de mensalidades e recursos anuais que recebe do governo suíço. Apesar de ter referência à Suíça no nome, o reitro é aberto para idosos de todas as nacionalidades.

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