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Bem-vindo à casa do futuro

La casa plurifamiliare di Brütten vista dall esterno
O imóvel de Brütten é inteiramente coberto de células solares. Umwelt Arena

Imagine morar numa casa alimentada unicamente pelo sol. Você regula a luz e a calefação com seu smartephone, enquanto um computador indica quanta energia você consome. Tudo isso sem renunciar ao conforto. Não estamos em 2030. Estamos em 2017 em um imóvel de Brütten, no cantão de Zurique. Visita do primeiro imóvel habitável autossuficiente do mundo.

“As pessoas que chegam em casa ficam surpresas. Elas pensam que tem em algum lugar uma bicicleta ligada a um gerador e que eu devo pedalar todo dia para produzir eletricidade. Claro que não é assim”, nos conta Daniel Marty que nos acolhe em seu apartamento.

Quem espera descobrir um edifício futurista, com materiais e equipamentos sofisticados, pode se decepcionar. Com exceção de uma tela tátil fixada na parece e dois ou três relógios, o apartamento de Daniel Marty à primeira vista é banal. Moderno, espaçoso e luminoso, só isso. O aluguel (2.500 francos suíços por mês por 4,5 peças) também está na média.

É difícil se dar conta que, de fato, estamos em um prédio único no mundo.

Sem fatura no fim do mês

Estamos em Brütten, pequeno vilarejo no cantão de Zurique, a alguns quilômetros de Winterthur e do aeroporto de Zurique-Kloten. Desde 2016, Daniel Marty e sua companheira vivem no número 1 da Unterdorfstrasse. É aqui o primeiro imóvel autossuficiente em energia a ser construído.

Os nove locatários não têm faturas de eletricidade nem de calefação a pagar. O edifício não está ligado à rede elétrica e não utiliza combustível fóssil. Toda a energia vem do solo (eletricidade) e do subsolo (calor).

A mudança é grande para Damiel Marty, que morava antes em imóvel do século 19, mal isolado e com calefação a óleo. No meu antigo apartamento, já tomava cuidado com o consumo, mas não era uma obsessão”. O mais difícil, conta ele em tom de ironia, foi me habituar à ideia de não ser conectado à rede elétrica. Como empregado de uma central elétrica, meu trabalho é justamente fornecer corrente às habitações”.

Daniel Marty è appoggiato al bancone della cucina di casa sua
Daniel Marty foi selecionado para morar no prédio de Brütten entre dezenas de interessados. A única condição foi estar disposto a receber jornalistas e visitantes. swissinfo.ch

“Não tenho que renunciar a nada” 

Em seu novo apartamento, não falta nada a Daniel Marty. Na cozinha, os eletrodomésticos clássicos, da torradeira à máquina de café. Tem máquina de lavar prato, máquinas de lavar roupa e de secar. “Todos os aparelhos respeitam os níveis mais elevados de eficiência energética. Eles são encontrados facilmente no mercado”, explica.

Na parede, uma tela tátil do tamanho de um tablet permite controlar o consumo. “Segunda-feira, jantamos em casa e usamos a máquina de lavar prato. É possível saber o consumo de energia no final do dia”, afirma. Um jantar entre amigos, quando seis ou sete pessoas estão presentes, também se nota na tela. “Mas eu não planifico minhas atividades na base do consumo e não renuncio ao conforto. Por vezes, aprecio encher a banheira para tomar um banho quente”. A possibilidade de controlar o consumo age como uma espécie de sensibilização. “É uma incitação a economizar eletricidade.

Display che indica il consumo di elettricità
Uma tela permite visualizar o consumo de energia do apartamento. swissinfo.ch

Baterias no porão

Projetado pelo arquiteto suíço Walter Schmid,  o imóvel de três andares de Brütten é uma pequena central elétrica. O teto e as fachadas são completamente cobertos de painéis solares. A calefação graças ao sol e a duas sondas geotérmicas, que puxa o calor a 340 metros de profundidade. “No verão, uma hora de sol basta para a eletricidade de todo o prédio por 24 horas”, afirma Renato Nüesch,Umwelt Arena, empresa na origem do projeto (ver box para mais detalhes).

Umwelt Arena

Inaugurada em 2012, em Spreitenbach no cantão de Argóvia, Umwelt Arena é um centro de exposições experimentais dedicado ao desenvolvimento sustentável. Com seu espaço de exposição e de congresso de 11.000 metros quadrados, o complexo oferece a uma centena de empresas e organizações a oportunidade de apresentar suas competências e inovações.

O objetivo é de sensibilizar a população a um estilo de vida ecológico, sem impor limites. Segundo seu promotor, o arquiteto e pioneiro da energia Walter Schmid, “é importante que as informações relativas ao desenvolvimento sustentável e à eficiência energética, geralmente muito complexas e abstratas, sejam apresentadas de maneira simples”.

A sobra de energia não é injetada na rede, o que é uma das pincipais inovações. Ela é estocada e um veículo elétrico à disposição de todos os locatários e em grandes baterias instaladas no subsolo. “Para a estocagem a curto prazo, as baterias são de lítio-ion normais. Elas têm autonomia de dois a três dias. Elas entram, por exemplo, em função quando todos os locatários cozinham ou lavam roupa ao mesmo tempo. Para a estocagem a longo prazo. Temos pilhas a combustível. Ela pode guardar energia durante um mês, principalmente no inverno”, explica Renato Nüesch.

Invernos rigorosos: aprovado no exame

O inverno é desafio maior que o solar deve enfrentar. “Escolhemos Brütten, porque ela está a 600 metros de altitude, pouco acima do limite da neblina”, acrescenta Renato Nüesch. A escolha foi judiciosa, mas nem sempre oportuna. No inverno passado, lembra o engenheiro, o vilarejo teve quase dois meses seguidos de neblina. Portanto, Daniel Marty não teve banho quente? “Nada disso. Não houve apagão e nunca tivemos de tomar banho de água fria. O único inconveniente roi uma pequena baixa de temperatura de 21 a 19 graus. Nada grave”, afirma o locatário

A situação surpreendeu os engenheiros. Renato Nüesch confesa: “Não esperávamos um inverno assim. O mês de janeiro foi o mais frio dos últimos 30 anos”. No entanto, mesmo se pilha a combustível não estava completamente carregada no começo do inverno, o sistema resistiu bem, constatou ele. “Os painéis solares instalados nas fachadas são muito eficazes para captar a luz, especialmente em caso de neblina ou de tempo coberto”.

Apagar tudo em um clique

O objetivo do projeto de Brütten é duplo, explica 
Renato Nüesch: “Queremos mostrar que é possível alimentar um prédio unicamente com energias renováveis e que somos capazes de estocar o excesso de energia produzida durante o verão”. Em outras palavras, a Estratégia Energética 2050, aceita pelo povo suíço e que prevê o abandono da  energia nuclear, já é realizável.

A chave do sucesso está nos detalhes, afirma o empregado da Umwelt Arena. “Tudo deve ser perfeitamente isolado. Recuperamos todo o calor possível, inclusive o da água que escorre do chuveiro”.

Na casa do futuro, nada é deixado ao acaso. A começar pela arquitetura compacta, sem sacadas ou qualquer coisa que poderia fazer sombra aos painéis solares. Vidros triplos, iluminação LED, venezianas que descem automaticamente quando a temperatura aumenta e aparelhos muito sofisticados completam o quadro. A geladeira, por exemplo, consome um quinto de um aparelho convencional.

“Eu gerencio tudo através de um aplicativo. Um clique basta para apagar todas as luzes e colocar os aparelhos em standby”, diz Daniel Marty. Em compensação, é impossível abrir um pouco as janeiras. Ou elas ficam completamente fechadas ou abertas. “Uma janela entreaberta passa até despercebida. Portanto, isso implica uma perda de calor e aproximadamente 200 litros de óleo de calefação por ano”, explica Renato Nüesch.  

Cucina e salotto di un appartamento della casa di Brütten
Todos os aparelhos têm um alto nível de eficiência energética e a isolação térmica reduz a perda de calor. Umwelt Arena

Pequenas astúcias permitem às famílias do imóvel de consumir menos da metade de um apartamento normal com quatro pessoas. “O consumo anual é de 2.200 kW/hora por apartamento. Os que ultrapassam, deve pagar em dinheiro aos que não consomem a cota, segundo um sistema de bônus. Apesar de um inverno excepcional, ninguém ultrapassou a cota”, afirma com certo orgulho Renato Nüesch.

Não é ficção científica

Na Suíça, as casas e apartamentos respondem por quase um terço de toda a energia consumida no país. Em princípio, o sistema de Brütten poderia ser reproduzido. “Nós utilizamos equipamentos e tecnologias disponíveis no mercado. No entanto, trata-se de investimentos custosos, sobretudo na pilha a combustível”, precisa Renato Nüesch. O prédio custou 6,2 milhões de francos suíços, cerca de 25% a mais do que um imóvel similar. Foi preciso gastar 800.000 francos unicamente pela bateria de longa duração.

“Agora o desafio é melhorar a eficiência da cisterna de água que estoca o calor”, diz o engenheiro. A bateria para estocar a longo prazo a eletricidade está carregada a 75%. Até o fim do verão, ela será a 100%.

“Construir um edifício energeticamente autossuficiente e somente com energia

Contatar o autor via twitter: @LuigiJorioLink externo

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