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Suíça quer quadruplicar energia solar até 2050 com inovações

Painéis solares nas montanhas
Painéis solares nas montanhas do cantão de Glarus, agosto de 2021. Keystone / Gian Ehrenzeller

A Suíça quer quadruplicar sua produção de energia solar até 2050, cobrindo de trilhos a lagos com painéis fotovoltaicos. A meta é atender 60% da demanda elétrica com fontes renováveis.

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Até 2050, a energia fotovoltaica e outras fontes renováveis deverão atender 60% das necessidades de eletricidade do país.

Em 2024, a Suíça produzirá 7,5% de sua eletricidade a partir do sol, segundo o Ministério suíço da Energia (BfELink externo, na sigla em alemão). A cota é superior à média mundial, mas inferior à de países europeus como Alemanha, Itália ou Áustria.

Para alcançar seu objetivo, a Suíça precisa quadruplicar a capacidade atual de suas instalações solares, de acordo com um recente estudo acadêmico.

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Os telhados e as fachadas dos edifícios são os lugares mais adequados para produzir energia solar. Se fossem aproveitados ao máximo, poderiam produzir dez vezes mais eletricidade do que atualmente.

No entanto, não se trata apenas dos telhados das casas ou dos centros comerciais. Alguns projetos também preveem instalar painéis fotovoltaicos em superfícies menos comuns, o que às vezes suscita interesse no exterior e polêmica em casa.

Aqui está uma seleção das ideias suíças mais promissoras.

1. Nos trilhos

Painéis solares em linha de trem
A empresa suíça Bankset Energy projetou painéis solares para serem colocados em dormentes de trens. Bankset Energy

Por que não aproveitar o espaço não utilizado entre os trilhos dos 5.320 quilômetros da Companhia Ferroviária Suíça (SBB)? Joseph Scuderi, fundador da startup Sun-Ways, fez essa pergunta há alguns anos. A ideia se materializou em abril de 2025, com a inauguração de uma usina solar desmontável ao longo de um trecho de via férrea em Buttes, a oeste da Suíça. É a primeira instalação deste tipo no mundo.

Os painéis solares são colocados entre os trilhos e podem ser retirados facilmente em caso de manutenção ferroviária. O projeto piloto, com duração de três anos, avaliará se a geração de energia solar interfere no movimento dos trens, e vice-versa.

A Sun-Ways calcula que poderiam ser colocados painéis solares em metade das linhas ferroviárias do mundo. Na Suíça, poderiam cobrir 2% do consumo nacional de eletricidade.

>> A inovação suíça atrai o interesse de empresas e companhias ferroviárias da Coreia do Sul, Japão e outros países. Assim é como funciona:

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A Sun-Ways não é a única empresa a testar a integração de energia solar na infraestrutura ferroviária. A Bankset Energy, sediada em Genebra, projetou painéis para colocá-los diretamente e permanentemente nos dormentes.

A empresa teria desenvolvido protótipos em colaboração com as companhias ferroviárias nacionais da França e Alemanha e a Schweizerische Südostbahn da Suíça. Há cerca de dez anos, realizou os primeiros testes em uma linha ferroviária do cantão de Schwyz.

Marc Isoti, diretor da Bankset Energy, explicou que a tecnologia estava atualmente na fase de “prova de conceito”. “Agora caberia aos políticos e às companhias ferroviárias decidir seguir em frente com esses sistemas de geração de energia solar e como fazê-lo”, destacava Isoti.

2. Nos cumes das montanhas

imagem
Imagem gerada por computador do projeto do parque SedrunSolar no cantão dos Grisões, no sudeste da Suíça. Energia Alpina

A Suíça pretende construir grandes usinas solares nos Alpes. Os parques solares de montanha têm a vantagem de produzir energia mesmo durante o inverno, quando a demanda é alta e a neblina cobre muitos painéis solares nas terras de baixa altitude.

Esse tipo de usinas solares já existe em algumas regiões da China e, em menor escala, também nas montanhas da França e Áustria.

Na Suíça, estão previstos cerca de 30 grandes parques solares nos Alpes como parte do “Solar Express”, o programa governamental de promoção da energia solar.

O projeto mais avançado está localizado perto da vila alpina de Sedrun, em Grisons, a 2.200 metros de altitude. Espera-se que cerca de 300 mil metros quadrados de painéis solares produzam eletricidade para 6.500 residências.

Há outros projetos previstos em pastagens abandonadas do Valais. Também é possível instalar painéis solares em infraestruturas existentes, como barragens hidroelétricas. A instalação solar da barragem de Muttsee, no cantão de Glaris, a 2.500 metros de altitude, é a mais alta da Europa.

No entanto, os parques solares de montanha são controversos. As organizações ecológicas temem que possam desfigurar a paisagem alpina e ter um impacto negativo na biodiversidade. Os elevados custos também levantam dúvidas.

Um estudo recente da Escola Politécnica Federal de Lausanne (EPFL) conclui que o desenvolvimento das energias renováveis pode coexistir com a natureza. No entanto, deveriam ser preferidos pequenos parques solares nas proximidades de zonas já utilizadas para os esportes de inverno e a população deveria participar no planejamento.

>> Mais informações: Energias renováveis nos Alpes

3. Nas rodovias

painéis solares nas rodovias
Uma imagem do que poderiam ser as coberturas com painéis solares nas rodovias da Suíça. cortesia Solarautobahn

Assim como as vias férreas, as rodovias também têm espaços que poderiam ser utilizados para produzir energia solar. Por exemplo, nos muros anti-ruído que protegem as zonas residenciais da poluição sonora. Esses espaços devem ser explorados “o mais rápido possível”, diz o governo, que falam de um grande potencial para a produção de energia fotovoltaica.

Na Suíça já existem cerca de uma dezena de instalações deste tipo, que também estão presentes em alguns outros países. Já foram feitos testes na Itália, ao longo da rodovia A1 Milão-Nápoles, e na Alemanha, onde as equipes de pesquisa testam um novo tipo de barreira com energia fotovoltaica integrada.

Também há quem proponha colocar módulos solares em marquises metálicas sobre as autoestradas. Estão sendo realizados estudos de viabilidade no vilarejo de Bulle (cantão de Friburgo), e em Fricktal (Argóvia). Também estão sendo realizados projetos semelhantes em outros lugares da Europa e Estados Unidos.

Segundo um recente estudo chinês, os painéis solares nas marquises das rodovias poderiam gerar em 2023 mais de quatro vezes mais eletricidade do que nos Estados Unidos. Também melhorariam a segurança viária porque reduziriam os acidentes relacionados com a chuva.

>> O responsável pela startup suíça Energypier explica neste artigo sua ideia de cobrir um trecho de autoestrada com painéis solares:

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A instalação de painéis solares ao longo das rodovias está sujeita a estritas normas de segurança. Os módulos sobre barreiras acústicas, se estiverem mal orientados, correm o risco de repercutir o ruído dos veículos em vez de “absorvê-lo”. Além disso, seu custo é muito superior ao de estruturas similares no solo.

4. Nas fazendas

Painéis solares em áreas de agricultura
Painéis solares em campos de framboesa e morango em Walperswil, cantão de Berna, maio de 2023. Keystone / Anthony Anex

Fazendas com telhados cobertos de painéis solares não são nada novo. No entanto, existem superfícies ainda maiores nas quais produzir eletricidade: as terras de cultivo. A agrofotovoltaica é um sistema de produção de energia renovável que combina o cultivo agrícola e a geração de energia solar.

Essas tecnologias estão se espalhando em vários países, especialmente nos Estados Unidos e China. A maior instalação agrofotovoltaica da Europa está nos Países Baixos (24 mil painéis sobre um cultivo de framboesas).

Na Suíça, é proibido instalar painéis solares em grandes culturas. No entanto, uma lei de 2022 permite a instalação de infraestruturas agrofotovoltaicas em culturas que necessitem de proteção contra o sol e o granizo, como a framboesa ou o tomate.

Algumas empresas suíças são pioneiras em todo o mundo. A Insolight desenvolveu módulos solares translúcidos que regulam a luz e o calor em culturas e estufas, otimizando o crescimento das plantas. Algumas instalações já funcionam na Suíça, Itália, França e Países Baixos.

A tecnologia da Voltiris também transforma as estufas em instalações solares. Filtros especiais deixam passar a parte do espectro luminoso útil para as plantas e refletem o resto para os painéis solares.

Colocar painéis solares em 1% da superfície agrícola total da Suíça poderia garantir 10% do consumo nacional de eletricidade em 2050, segundo estimativas de Mareike Jäger, da Universidade de Ciências Aplicadas de Zurique (ZHAW), coordenadora de um estudo sobre a energia fotovoltaica na agricultura suíça.

Outro estudo recente sublinha a necessidade de realizar experimentos em superfícies maiores. No entanto, a produção fotovoltaica não deve pôr em perigo o potencial das zonas agrícolas para a produção de alimentos, que já são escassas e limitadas, adverte a União Suíça de Agricultores.

5. Nos lagos

Usina de energia solar flutuante
Usina de energia solar flutuante no Lago Toules, nos Alpes do cantão de Valais, outubro de 2019. Keystone / Valentin Flauraud

O pequeno lago de Toules (cantão do Valais) se tornou muito conhecido em 2019. No reservatório situado a 1.810 metros de altitude, entrou em funcionamento a primeira central solar flutuante de grande altitude do mundo.

Os 1.400 painéis solares são resistentes ao gelo e à neve. Embora nos três primeiros anos a usina tenha produzido menos eletricidade do que o esperado, será ampliada daqui a 2030. Por enquanto, é a única usina solar deste tipo nos Alpes.

Atualmente, há mais de cem usinas flutuantes em funcionamento em todo o mundo. O setor cresce especialmente na China, Índia e Indonésia, segundo um estudo recente.

Os painéis podem ser colocados em todos os cursos de água, desde reservatórios industriais (minas desativadas) até os mares. Eles têm a vantagem de não tirar terreno da agricultura ou da construção.

Na Suíça, o maior potencial está nas bacias de armazenamento de terras baixas, segundo o governo. No entanto, sua exploração pode ser difícil devido ao uso dos lagos para navegação, recreação e outros fins.

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Edição: Veronica De Vore

Adaptação: Alexander Thoele

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