
Demanda global por pistaches cresce com moda do chocolate de Dubai

Criado em Dubai e viralizado no TikTok, um chocolate recheado com pistache, virou febre global e levou chocolaterias suíças a lançarem suas versões. A tendência aqueceu o mercado mundial de pistaches, encareceu o produto e forçou ajustes nas cadeias de suprimento.
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O chocolate de Dubai foi criado em 2021 pela empreendedora britânico-egípcia Sarah Hamouda, fundadora da FIX Dessert Chocolatier, com sede em Dubai. Esse chocolate é recheado com creme de pistache, tahine e kadayif (fios de massa crocante muito usados em doces no Oriente Médio) e se tornou viral no TikTok em dezembro de 2023, graças a um vídeoLink externo publicado pela influenciadora Maria Vehera.
O sucesso da criação de Sarah Hamouda levou chocolateiros de todo o mundo a criarem suas próprias versões do chocolate de Dubai, o que provocou uma verdadeira corrida por um ingrediente básico: o pistache. O preço do quilo atingiu um pico de 27,81 dólares (22,80 francos suíços) em 2024, contra 17 dólares em 2022.
Em novembro do ano passado, a empresa de chocolate Lindt & Sprüngli anunciou que colocaria à venda um lote muito limitado de 500 barras de chocolate de Dubai em seu museu do chocolate em Kirchberg, perto de Zurique. Vendida por 14,95 francos suíços (18,20 dólares), cada barra de 150 gramas, fabricada artesanalmente, vinha com um certificado de autenticidade e continha cerca de 65 pistaches, o que equivale a 24% de seu peso. Para comparação, uma barra de Lindt Creation Pistachio Delight contém um pouco menos de quatro pistaches, ou seja, 1,3% do peso total.

Na ocasião, uma longa fila se formou para tentar comprar tais barras artesanais recheadas com creme de pistache. Uma semana antes, uma edição limitada semelhante havia sido lançada em cidades da Alemanha, e algumas dessas barras tão cobiçadas chegaram a ser revendidas online por até 400 francos suíços cada.
O que parecia, a princípio, ser apenas uma ação publicitária, acabou ganhando vida própria graças à reação dos amantes de chocolate. O chocolate Lindt Dubai, único em seu gênero, passou a estar disponível em algumas lojas Lindt no fim de novembro de 2024.
O passo seguinte foi o mercado de massa: em março, a Lindt & Sprüngli anunciou ter desenvolvido um Lindt Dubai Style Chocolate, que seria vendido online e em supermercados por 9,95 francos suíços. Essa barra de 145 gramas contém cerca de 30 pistaches, o que corresponde a 13% de seu peso.
“O sucesso estrondoso desse sabor incentivou o grupo a desenvolver o Lindt Dubai Style Chocolate, com uma receita similar, visando sua distribuição no varejo em larga escala”, informa o relatório financeiro da empresa para o ano de 2024.
Demanda crescente por pistaches
A empresa de chocolate suíça Läderach também lançou sua própria versão, chamada FrischSchoggi Dubai, em dezembro passado em algumas lojas na Suíça, limitando os clientes a uma barra de 100 gramas por dia.
A empresa já produzia chocolate à base de pistache, mas sua incursão no mercado do chocolate de Dubai permitiu aumentar significativamente seu fornecimento de pistaches, já que cada barra contém cerca de 25 pistaches, ou seja, 15% de seu peso.
“O sucesso do nosso FrischSchoggi Dubai nos obriga hoje a comprar cerca de 50% mais pistaches do que antes do início dessa tendência. Graças às nossas relações estabelecidas com os fornecedores, isso não tem sido um problema até agora”, declara Matthias Goldbeck, porta-voz da empresa.
Procurada, a Lindt & Sprüngli não quis revelar se enfrenta dificuldades no suprimento de pistaches. A empresa, contudo, reconheceu que monitora de perto o mercado.
“Não podemos divulgar informações específicas sobre nosso fornecimento de pistaches. Podemos apenas afirmar que temos uma estratégia de compra voltada para o futuro e que monitoramos constantemente a situação do mercado”, destacou um porta-voz da empresa.
O que é certo é que a quantidade de pistaches importada pela Suíça aumentou.
Mesmo empresas que não têm o chocolate de Dubai em seu portfólio sentem a pressão. A Nestlé, cujas marcas de chocolate Damak e Cailler contêm pistaches, também foi afetada. Os pistaches usados nas barras de chocolate Damak da Nestlé vêm da região de Gaziantep, na Turquia.
“Também sentimos o impacto da tendência do chocolate de Dubai na oferta de pistaches. Porém, somos capazes de obter produto suficiente graças ao nosso modelo de compra direta de pistaches no mercado, a uma política robusta de estoques de segurança e a uma rede de fornecedores alternativos”, afirma um porta-voz.
Os fornecedores de pistaches também estão sentindo os efeitos do chocolate de Dubai. Procurado, o Conselho Internacional de Frutas Secas e Nozes (INC) confirmou que o chocolate de Dubai teve um impacto nas cadeias de suprimento globais. A mesa redonda sobre pistaches, realizada durante o congresso anual do INC em Palma de Maiorca, em maio, confirmou que a tendência do chocolate de Dubai aumentou consideravelmente a demanda global por pistaches, especialmente em formatos de maior valor agregado, como os grãos sem casca usados na confeitaria.
“Os líderes da indústria observaram que esse fenômeno viral não apenas impulsionou o consumo interno, mas também gerou efeitos em cascata nas cadeias de suprimento globais, contribuindo para menor disponibilidade e preços mais altos, afirma um porta-voz do INC. “Processadores e produtores agora estão se adaptando a esse aumento, redirecionando mais pistaches com casca para a produção de recheios, a fim de atender à evolução da demanda dos consumidores.”
Edição: Virginie Mangin
Adaptação: Karleno Bocarro

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