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Universidades podem restringir entrada nos mestrados

Alguns cursos têm mais alunos do que outros. Keystone

As Instituições de Ensino Superior da Suíça podem decidir, até novembro, se vão cancelar ou não a passagem automática das graduações para os programas de mestrado.

O reitor da Universidade de Basel e também presidente da Conferência dos Reitores das Universidades Suíças (CRUS), Antonio Loprieno, acredita na possibilidade da organização optar por não mais permitir o ingresso direto de estudantes nos mestrados.

A questão surgiu devido ao crescente número de estrangeiros que vêm para o país. Em média, 20% dos matriculados nos mestrados da Suíça são do exterior. Loprieno pensa que, em geral, “queremos ter tantos estudantes estrangeiros quanto for possível”. Ele cita três razões para isso: a primeira é a internacionalidade, que segundo ele é boa para o intelecto. A segunda razão é que quando os estudantes do estrangeiro voltam para seus países, eles podem dizer que apreciaram o sistema suíço e falar coisas boas sobre o país. O terceiro motivo, explica, é que, em alguns casos, não podemos oferecer a mesma amplitude de campos e de programas sem os estudantes do exterior. Por exemplo, diz o reitor, “nós não temos bastante estrangeiros no doutorado e precisamos deles. Então nós somos muito favoráveis de ter estudantes estrangeiros, mas por outro lado temos um bocado de problemas também. Geralmente, tê-los aqui é extremamente positivo, pois o enriquecimento cultural é enorme para Basel”, admite Loprieno.

Dos 12 mil estudantes da Universidade de Basel, dois mil são estrangeiros. E os cursos que a maioria faz são os das áreas de Ciências Humanas. Em segundo lugar são as Ciências Naturais e em terceiro, Psicologia. Loprieno explica que o sistema universitário suíço não tem nenhum contingente para estudantes nas universidades. Não há problemas de infraestrutura ou insuficiência de professores. “Nós poderíamos ter ainda mais estudantes, exceto nos cursos de Ciências Sociais, Comunicação, Biologia e Medicina. Isto significa que não há limite para estudantes do estrangeiro”, constata. Os candidatos têm acesso livre em todas as áreas, menos em Medicina. O número de vagas para Medicina é de cerca de 120 a 140 estudantes por ano. Por isso é realizada uma seleção para esta área.

Polêmica

Uma questão bastante polêmica é a de que os estrangeiros têm desempenhos acadêmicos insuficientes para as exigências suíças. Na opinião de Loprieno, os estudantes que vêm de outros países podem achar o mestrado mais duro. Não porque os suíços são mais inteligentes ou melhores do que outros estudantes, mas porque o sistema local é melhor, bem como a infraestrutura, os professores e também porque as universidades são melhor financiadas. Na Suíça, o mestrado foi avaliado com o grau acadêmico padrão, quando em outros países o padrão acadêmico é a graduação.

Quando perguntado se os estudantes suíços são negligenciados devido a grande demanda de estrangeiros, Loprieno discorda completamente. “Nós gostaríamos de ter ainda mais estudantes do estrangeiro. Eu penso que os suíços não podem se queixar sobre isso. Eu gostaria realmente de saber o que os estudantes suíços pensam sobre esta questão, mas eu não considero isso um problema real”, avalia.

A questão de que se restringindo o número de estudantes estrangeiros asseguraria uma melhor qualidade dos mestrados suíços é vista como polêmica pelo reitor da Unibasel. Ele pondera que para assegurar a qualidade dos mestrados, pode ser necessário restringir o número de estudantes, porque teria que ser assegurada toda a infraestrutura para isso.

Como presidente da CRUS, Loprieno não tem uma resposta precisa se a organização vai impor limites de acesso para os estudantes. As definições por parte da maioria dos reitores serão tomadas em novembro e depois encaminhadas às instâncias políticas em janeiro para decisão final. Até novembro está aberto o debate nas universidades sobre este tema.

O reitor acredita que o Sistema de Bologna deixou o ensino e a aprendizagem mais rígidos. “Nós tornamos mais transparentes”, diz. Loprieno responde que os professores das Ciências Naturais e Economia estão mais felizes com a reforma. Mas os professores de Humanidades estão menos felizes.

Universidade de Friburgo

Já o reitor da Universidade de Friburgo, Professor Guido Vergauwen, pensa que em muitos casos, um diploma de graduação obtido em outro país é uma base excelente para os estudos de mestrado na Suíça. “Entretanto, os padrões das graduações não são universais e há os exemplos dos estudantes com uma graduação concedida em um outro país, esforçando-se para seguir as exigências de nossas classes de mestrado. Esta situação é provavelmente um pouco mais difícil para esses estudantes do que para a universidade, porque eles desistirão eventualmente antes de concluir seus cursos”, avalia.

O Reitor de Friburgo também comenta que desde a fundação, em 1889, a universidade teve sempre muitos estudantes do exterior e este apelo internacional é uma parte importante da identidade e tradição da instituição. Atualmente, cerca de um quinto dos estudantes mestres vêm de outro país estudar em Fribourg. Em geral, motivados particularmente por estudantes bem adaptados nos programas da universidade.

Os cursos que a maioria dos estudantes se candidatam na universidade de Friburgo são os cursos ensinados em inglês na Faculdade de Ciências, no Programa Europeu de Negócios e no Departamento de Ciências da Computação. Mas o reitor informa que há pretendentes do exterior para praticamente todos os cursos da universidade.

Universidade de Lausane

O Reitor da Universidade de Lausanne, Dominique Arlettaz, informa que um terço dos estudantes que começam mestrado lá, têm licenciatura em uma outra universidade (20% no exterior e 13% em uma outra universidade suíça). Ele não considera um problema ter um número grande de estudantes estrangeiros, pois segundo Arletazz, o objetivo principal do processo de Bologna é criar uma Europa do Conhecimento e a Universidade de Lausanne quer promover a mobilidade dos estudantes. “Deste ponto de vista, nós estamos satisfeitos com o fato de que um terço de nossos estudantes mestres decidiram parar sua universidade para inscrever-se num mestrado em Lausanne”, orgulha-se.

Em Lausanne também, 20% dos estudantes que incorporam-se a um programa de mestrado tem um bacharelado em uma universidade estrangeira. Lá, os cursos em que a maioria dos estudantes se candidata são da área de Negócios (Gerência e Finança), Ciências Ambientais, Ciências da Vida e Ciências Jurídicas.

“O fato de termos muitos estudantes estrangeiros na universidade de Lausanne é muito positivo para os estudantes suíços, porque eles têm oportunidades de compartilhar ideias e experiências. Eu gosto de dizer que a presença de estudantes estrangeiros é uma boa maneira de internacionalizar a Universidade de Lausanne’”, assegura o reitor.

O que pensam os estudantes

A brasileira Keila Häusler, começou a faculdade de Direito em Basileia. Mas para isso, ela precisou apresentar seu currículo escolar do Brasil. Ela conta que na secretaria da universidade, falaram-lhe que ela poderia estudar desde que fizesse a prova do Curso Preparatório para entrar na universidade, em Friburgo, para que o seu ensino médio fosse aceito. Keila fez o curso preparatório em nove meses, realizou provas que lhe deram direito de estudar em qualquer universidade suíça.

A bacharel em Direito já está há nove anos na Suíça e é casada com um suíço. Depois que ela completou seus estudos na Universidade de Basileia, teve acesso direto ao mestrado. Ela conta que o nível do estudo de Direito na faculdade de Basileia é muito puxado. “Eu tive muitas dificuldades por causa da língua e pela carga horária muito extensa”, confessa.

Já a bióloga Ester Barnabas Stoecklin, de 26 anos, veio da Tanzânia para Basileia com sua mãe, em 2001. Ela fez seu bacharelado na Índia e diz que exigiram dela boas notas na graduação e cartão de crédito com dinheiro em conta. Ester acredita que o sistema de ensino suíço é bom e que não teve dificuldades com o idioma inglês. A respeito das possíveis restrições para a entrada de estrangeiros nos programas de mestrado, ela concorda que haja porque muitas pessoas vêm estudar na Suíça, pois o país dá oportunidade para estudantes do exterior. A mestre em epidemiologia admite que se estas medidas forem tomadas, vai ficar mais difícil dos estrangeiros virem para cá, porque além disso, o custo de vida também é alto na Suíça.

Colaborou Evandro Germann

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