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Fórum de Davos mudou de vocabulário

O 39e WEF está encerrado. Keystone

"Humildade" é a palavra mais citada na imprensa suíça ao final do 39° Fórum Econômico Mundial de Davos (WEF).

Alguns editorialistas falam de decepção depois de cinco dias de debates que deveriam redesenhar o mundo.

Meio copo vazio ou meio cheio em Davos? O Basler Zeitung de Basiléia resume os debates do Fórum Econômico Mundial (WEF) pela vitória dos otimistas que, em sua maioria, escolheram a segunda conclusão.

“Senti uma solidariedade nova entre os participantes, expressada por uma atitude mais humilde frente aos problemas a enfrentar”, declara o banqueiro de Genebra Patrick Odier no 24 Heures, de Lausanne. O banqueiro fala, de maneira inesperada, em solidariedade com os empresários de outros setores. Trata-se de um sinal?

Acabou o “glamour”

Esses “cinco dias de discussões e trocas foram intensos” se resumem em “uma mensagem de humildade para reconquistar a confiança no sistema capitalista que evita por um triz um bloqueio completo”, escreve o Agefi, diário de economia em francês, nesta segunda-feira.

Depois de ter mais ou menos normalizado os fluxos interbancários através dos bancos centrais, “os governos, último recurso diante da quase falência do sistema, atacam atualmente a tarefa mais complexa de recapitalização e depuração dos bancos, abrindo a caixa de pandora do descontentamento social e do protecionismo”, comenta o Agefi.

Sem lamentar, o Neue Zürcher Zeitungde Zurique destaca a ausência dos paetês hollywoodianos nessa 39a edição do WEF, substituídos por “valores sólidos: sobriedade, contenção e modéstia frente à dimensão da crise mundial.”

Esperança, apesar de tudo

O diário zuriquense fala de esperança. “Quem esperava decisões concretas de autoridades mundiais ficou decepcionado, mas como eles erraram regularmente no passado, resta a esperança que o futuro não lhes dê razão.”

A mesma constatação é feita pelo Tribune de Genève, destacando que “no WEF como entre os antiWEF, a semana foi marcada por um senso de responsabilidade bastante raro (…) um pouco de esperança no ambiente cinzento atual”. Mas o jornal relativiza que “a confiança das pessoas continua anêmica (…) É preciso atos e resultados para saber hoje quem diz a verdade.”

Por sua vez, o La Liberté de Friburgo também reconhece que o WEF não produziu “o remédio milagroso que teria permitido baixar a febre da economia do planeta”, mas sublinha que os contornos de uma mudança começam a ser esboçados.

“Em suas intervenções, norte-americanos e europeus admitiram que se não conseguirão restabelecer o rumo sem a participação das potências ditas emergentes (…) porque, em 2009, os arquitetos da globalização não são mais os mestres”, escreve o jornal.

“Não se pode salvar o mundo com um comando”, constata o Bund de Berna, capital suíça. O jornal afirma que, se foram tomadas medidas de urgência para salvar os bancos e impedir que o sistema desmoronasse, “para todo o resto, é preciso tempo”. O jornal teme que, ao invés de permitir controlar a situação, a reunião do G20 em abril, em Londres, seja apenas “um espaço de jogo para os poderosos.”

Os efeitos do comércio

Nessa crise que continua a se agravar, o Le Temps de Genebra se diz mensageiro de uma boa notícia: “tomar medidas públicas internacionais coordenadas para estabilizar o sistema financeiro (projeto do G20) e reativar o consumo”.

Apoiar também o comércio mundial, afirma o jornal, advertindo contra o protecionismo que começa a surgir, citando o ministro brasileiro das Relações Exteriores, Celso Amorim: “Em 1929, o protecionismo transformou a recessão em depressão. Naquela época, talvez se ignorasse as vantagens do comércio. Não é mais o caso hoje.”

A conclusão, bem britânica, fica por conta do editorial do Financial Times, citado pelo Agefi: “os participantes reconheceram que não sabiam grande coisa, o que é um sério progresso.”

Nuvens sobre a 40a edição

Os cerca de 2.500 participantes do WEF voltaram para casa, mas o “espírito de Davos” retornará em 2010? Ressurgirá em outro lugar ou na Suíça?

A questão está aberta, responde o Bund de Berna. O diário lembra que a população da estação de inverno de Davos (leste) vai decidir se aceita, dia 8 de fevereiro, a ampliação do Centro de Congressos que se tornou muito pequeno para eventos como o WEF. São, portanto, muitas incertezas.

swissinfo, Isabelle Eichenberger

O Fórum Econômico Mundial (WEF) terminou domingo em Davos (leste) com um número recorde de 2.500 participantes em cinco dias, entre eles 40 chefes de Estado de de governo.

A segurança foi garantida pela polícia e 4.500 soldados do exército. Não houve qualquer incidente.

Uma centena de pessoas participou, no sábado, em Zurique, do 9° Fórum antiWEF, chamado O Outro Davos. Foi organizado pelas ONGs Attac Suisse, Declaração de Berna, jovens Verdes, Ajuda Operária, sindicatos e movimentos de extrema esquerda.

Em Genebra, houve uma manifestação antiWEF não autorizada, com 500 a 700 participantes, no sábado. A polícia prendeu temporariamente 130 pessoas. Não houve vítimas nem danos materiais.

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