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Aldeia alpina luta para sobreviver

60 pessoas vivem em Braggio, povoado localizado a 1.300 acima do mar. swissinfo.ch

A população das aldeias do vale de Calanca decidiu não esperar mais pelo abandono completo: planos ambiciosos devem reativar o interesse de turistas e suíços pela região.

Um deles é criação de um novo parque nacional, apesar do anúncio de cortes governamentais nos subsídios dados.

A placa indica o estreito caminho que leva montanha acima. Ela é o único sinal da existência do vale do Calanca e dos oitocentos habitantes, que vivem espalhados nos seus doze minúsculos povoados.

Um dia eles estiveram no centro da atenções da mídia. Isso ocorreu no ano passado quando a “Avenir Suisse”, um centro de estudos e pesquisas financiado pelas associações empresariais, afirmou que a Suíça não pode mais se dar ao luxo de subvencionar com milhões regiões distantes do país e economicamente fracas como o vale.

O jornal Blick publicou um editorial levantando a tese de que o corte puro e simples dos subsídios seria um bom exemplo de saneamento das finanças públicas. Afinal, o dinheiro repassado drena o dinheiro do contribuinte sem trazer resultados concretos.

Somente a manutenção da estrada e dos dois teleféricos que ligam os povoados na parte inferior e superior do vale custam 3.5 milhões de francos por ano ao contribuinte. Um milhão de francos também são gastos para subsidiar os fazendeiros da região e 250 mil francos para proteger seus habitantes contra avalanches, quedas de rochas e inundações.

Investimento sem retorno

A grande maioria dos suíços nunca visitou o vale de Calanca. Para os economistas do Avenir Suisse, não há dúvida: o dinheiro investido no local não está tendo o retorno esperado.

Ao lado das pequenas fazendas e uma pedreira, o vale ainda abriga um pequeno parque industrial. Mas o número de contribuintes é reduzido. Seus vilarejos têm uma grande proporção de aposentados e os poucos trabalhadores são muitas vezes empregados em outras regiões, onde eles também pagam seus impostos.

Por isso a crítica da mídia e do patronato suíço serve como um alerta.

– Agora até as autoridades cantonais já estão pedindo que a gente encontre um caminho para melhorar o crescimento econômico do vale – afirma Riccardo Tamoni, resposável pela promoção comercial da região.

Diversidade cultural

Tamoni acredita na importância da preservação do vale de Calanca. Seu principal argumento é a diversidade cultural, pois afinal esse é o único cantão suíço onde se falam os três idiomas oficiais do país: alemão, italiano e reto-romano.

Também a natureza, quase intocada e selvagem, pode ser melhor aproveitada para o turismo. Nesse sentido, as autoridades locais pleiteiam a criação de um parque nacional.

Este pode ser criado se depender da aprovação dos deputados e senadores em Berna, mas que atualmente estão preferindo uma área localizada nas vizinhanças do vale do Calanca.

De qualquer maneira, muitos dos seus habitantes se revoltam ao pensar que regiões distantes e pouco acessíveis do país não mereçam mais atenção das autoridades.

– Vim para cá para construir uma vida diferente com o meu marido, mais próxima da natureza – conta Agnese Berta (ver vídeo em inglês).

Residente em Braggio, ela e sua família mantém uma fazenda biológica que também oferece hospedagem a turistas em quartos simples. Ela também é responsável pelo coro local nesse pequeno povoado, localizado 700 metros acima da base do vale.

– Eu acho terrível acompanhar o abandono sistemático do vale. Para mim isso é um desastre, sobretudo sabendo que um país densamente povoado como a Suíça necessita de lugares como esse, onde a natureza ainda é quase intocada.

Renascimento

Mas a esperança não morreu. Berna cita o número crescente de antigas casas de pedra e fazendas centenárias que já foram reformadas para servir como casas de fim-de-semana. Esse seria o primeiro sinal da revitalização do vale.

Grandes esforços também estão sendo feitos na restauração de centenárias igrejas e capelas barrocas, obras que fazem parte do patrimônio histórico do país. Desde o século XVI, o vale já foi berço de vários arquitetos e artistas de renome.

Esses artesão, que muitas vezes aprenderam seu ofício em Milão, foram contratados no passado para construir e restaurar centenas de mosteiros, residências opulentas e fortalezas em cidades ao norte dos Alpes. Mesmo Varsóvia faz parte da lista.

Os monumentos são vistos atualmente como uma ponte cultural entre a Europa do norte e do sul.

Vida simples

Para habitantes do vale do Calanca, existem vantagens concretas para os jovens que decidem permanecer na região.

– Eles têm contato direto com a natureza e não estão sobrecarregados com todas as distrações dos grandes centros urbanos.

Em todo caso, os jovens também precisam conhecer o mundo, como o fizeram seus avós no passado.

– Acho que não seria correto tentar mantê-los aqui. Porém percebo que as gerações mais novas estão à procura de formas de vida mais atraentes. Por isso estou segura de que mesmo se partirem, nossos jovens vão retornar um dia.

Enquanto as autoridades centrais vão calculando se vale a pena ou não continuar a investir nas regiões de montanha, essas populações percebem cada vez mais que o destino está nas suas próprias mãos.

– Nós, aqui do vale, temos que aprender a ter objetivos e a trabalhar em conjunto para alcança-los. Cada habitante tem a obrigação de se interessar e participar no desenvolvimento da região. Somos responsáveis pelo nosso próprio futuro.

swissinfo, Dale Bechtel
traduzido por Alexander Thoele

O vale de Calanca está localizado na parte sudeste da Suíça.
A região pertence ao cantão dos Grisões, mas está integrada ao sistema de transporte público de Bellinzona, a capital do cantão Tessin (língua italiana).
Os interessados em conhecer o vale do Calanca podem se hospedar em Braggio, um pequeno povoado do vale.
A região é repleta de trilhas para caminhadas na natureza.

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