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Internatos suíços: ganhar com elegância em Zuoz

No Lyceum Alpinum 180 alunos vivem no internato e 120 são externos. swissinfo.ch

Escolas que misturam a exclusividade de clube de golfe com o rigor de quartel: as elites do futuro são preparadas no Lyceum Alpinum Zuoz.

Dinastias internacionais enviam seus rebentos para o internato suíço, cujas anualidades chegam até 55 mil dólares. Até brasileiros já passaram por lá, como os filhos do ex-presidente Collor.

O corredor com aproximadamente 20 metros de comprimento é iluminado como uma galeria de arte. Ao invés de pinturas, suas paredes expõem em fila dupla centenas de fotos em preto-e-branco ou coloridas. Algumas são das primeiras décadas do século passado. Todas têm algo em comum: elas retratam as equipes uniformizadas de cricket, hockey e futebol do Lyceum Alpinum Zuoz, um dos internatos mais conhecidos e prestigiados da Suíça.

“Fair play, como se diz no inglês, significa para nós ganhar com elegância, ou seja, o que importa não é ganhar ou perder, mas sim como jogar”, resume Georges Fäh a filosofia da escola. O professor de história e chefe de admissão aponta orgulhoso para a galeria de fotos, que se chama oficialmente “Hall of Fame”.

Alunos de 26 países

O Lyceum Alpinum foi criado em 1904 em Zuoz, um pequeno vilarejo com 1.400 habitantes, localizado no cantão dos Grisões, uma região coberta de grandes montanhas ao leste da Suíça e não muito distante da estação chique de inverno de St. Moritz.

A 1.800 metros acima do mar, o ar de Zuoz é puro como a água que escorre das geleiras. Nesse local os fundadores abriram no século passado um internato para 40 crianças estrangeiras, onde o principal objetivo era educá-las com ensino de alto nível, muito esporte e severidade monástica. Os cursos eram ministrados apenas em francês e inglês.

Hoje em dia, o Lyceum Alpinum é praticamente uma cidade em si. Dos 310 alunos, 180 são internos e vêm de 26 diferentes países como Alemanha, Rússia, Arábia Saudita, Inglaterra, Turquia, China, México ou Brasil.

O que eles têm em comum é a boa situação financeira das suas famílias: as taxas anuais podem chegar até a 50 mil dólares. Caso o pupilo queira alojamento individual – quartos de 15 metros quadrados com acesso rápido à internet e serviço de limpeza – os responsáveis têm de acrescentar na conta mais US$ 5 mil. Os folhetos informativos ainda lembram que essa soma não inclui serviços extras como aulas particulares, viagens, mesada e custos administrativos de seguro, vistos e saúde.

Crianças poliglotas

Os preços exorbitantes no Lyceum Alpinum se explicam não apenas pelo custo de vida na Suíça, mas também pelo vasto catálogo de serviços.

Os alunos que freqüentam seus bancos podem concluir o ensino médio com diplomas internacionais como a “Matura” suíça, o “Abitur” alemão e o “International Baccalaureate” (IB), este reconhecido por renomadas universidades como Harvard, Oxford e Sorbonne.

Por essa razão, desde as primeiras classes as crianças já aprendem a falar vários idiomas. Além da língua materna, os alunos conversam em alemão, francês e italiano, sendo que o idioma de Shakespeare é o que mais se escuta pelos corredores. “Mais de um terço dos nossos professores é de língua materna inglesa”, lembra Fäh.

Também o esporte é um dos pontos fortes em Zuoz. Nos 130 mil metros quadrados que o Lyceum Alpinum ocupa, pouco mais da metade é destinado às atividades esportivas. Os pupilos dispõem de campos de golfe, quadras de tênis, futebol, hockey e cricket, cavalos para equitação, quadras cobertas polivalentes e pistas de esqui e snowboard.

“Além disso, também praticamos um esporte que só existe em algumas escolas de elite na Inglaterra, o chamado Eton-Fives”, acrescenta Fäh. Como o professor de história explica, o “esporte treina o trabalho em equipe e o respeito aos mais fracos”.

Elites do futuro

No Lyceum Alpinum, descendentes das elites européias criam suas primeiras redes de contato. Para exercitar, elas até criam empresas, vendem produtos e negociam ações numa bolsa informal.

Apesar de elitista, escola também oferece um número reduzido de bolsas para alunos com notas máximas.

Dessa forma as elites do futuro são preparadas. Além da invejável infra-estrutura, os jovens aproveitam o tempo na escola para criar sua primeira rede de contatos.

Nos últimos anos, alunos que freqüentam os cursos de administração juntam-se em grupos para criar pequenas empresas. Os produtos são desenvolvidos, produzidos e depois apresentados durante eventos em Zuoz, onde as famílias são os principais participantes e investidores. Quando uma idéia convence o público, ações são vendidas para recolher dinheiro e investir nas vendas. Em 2003, um desses grupos ganhou em Londres o principal prêmio no “European Young Enterprise Company”, uma competição européia de empresas juvenis.

Outra forma de reforçar os laços é através do Zuoz Club, uma associação fundada em 1923. Nele, os ex-alunos se denominam “old boys” ou “old girls” e participam de encontros regulares para praticar esportes anglo-saxões. A lista dos seus freqüentadores já é prova de prestígio: Gunther Sachs, playboy internacional e ex-marido da Brigitte Bardot; Ferdinand Piech, neto de Ferdinand Porsche e presidente legendário da Volkswagen; Graf Anton von Faber-Castell, da família nobre de industriais alemães; Carl von Siemens, pupilo de outra família industrial alemã; Sven Springer, neto e herdeiro de um império da mídia na Alemanha e membros da família nobre Hohenzollern.

E também brasileiros fazem parte da lista de ex-alunos: Arnon Affonso e Joaquim Pedro, filhos do ex-presidente do Brasil Fernando Collor de Mello. Questionado pelo repórter, o chefe de admissão no Lyceum Alpinum não conseguiu encontrar o nome dos dois no “Hall of Fame”. “Ao que me parece, eles nunca fizeram parte das equipes de cricket e hockey”, reflete Georges Fäh.

Como no quartel

Não apenas esporte é obrigação no Lyceum Alpinum, mas também uma conduta moral irrepreensível. Cigarros só são permitidos para os alunos com mais de 16 anos e semanalmente são realizados controles de urina. “Se detectarmos o consumo de qualquer droga ilegal, a pessoa é sumariamente expulsa da escola”, reforça Fäh. Ele conta que no ano passado seis jovens foram expulsos.

Meninos e meninas habitam em diferentes prédios, onde as entradas são controladas pelos olhos atentos de pedagogos. Quando uma aluna recebe visita masculina, ela deve manter sua porta aberta numa curva de “pelo menos 90 graus”, como prevê o manual do internato.

Nele estão previstas todas as obrigações diárias, como o banho às seis e meia, o comparecimento às três refeições diárias, as aulas de sete da manhã às quatro da tarde e também a prática de esporte.

As saídas noturnas são permitidas, sendo limitadas, porém, de acordo com a idade. Muitos precisam da autorização dos pais para sair dos muros da escola. Em todos os casos, as portas são fechadas às onze da noite. “Depois disso, o aluno tem de procurar um hotel”, explica Fäh.

Sem dinheiro, só com boas notas

“Nós temos orgulho dessa escola e achamos que os pais que trazem seus filhos para cá estão seguros de que não pode existir um lugar melhor”, conclui o rígido professor.

Além de ensinar história, o suíço também é responsável pela seleção e admissão de novos alunos. Nos próximos meses ele estará em missão na Rússia, onde irá apresentar a escola num clube de executivos. “Além disso, estamos reforçando nossos contatos em novos mercados como o asiático”.

Apesar de ser genuinamente uma escola para ricos, o Lyceum Alpinum recebe também alunos da região. Nesse caso o governo assume grande parte das despesas.

Para a maior parte dos mortais que, sem dispor de grandes recursos, mas interessados em enviar seus filhos para uma escola modelo, Georges Fäh é categórico: – “Não há problema, a criança só precisa ter notas máximas na escola”.

O Lyceum Alpinum distribui bolsas escolares, porém elas são em número muito reduzido. “Afinal, nossa escola depende das famílias que podem pagar nossas mensalidades”, conclui Fäh.

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