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A descoberta do Bosão de Higgs e a nova física de partículas

Um jovem pesquisador português foi um dos descobridores do Bosão de Higgs, a partícula que valeu um Nobel. André Tinoco Mendes trabalha no CERN e também costuma receber estudantes na conhecida instituição que possui o maior acelerador de partículas do mundo em um laboratório com 27 quilômetros de circunferência.

“Aquilo que me interessa é que as pessoas percebam que o método científico não é uma coisa apenas para cientistas….”

Quando, em 2006, o físico português André Tinoco Mendes integrou a experiência CMS não esperaria que em 2012 iria ser um dos responsáveis pela descoberta do Bosão de HiggsLink externo. Essa descoberta comprovou o modelo padrão da teoria de partículas, mas em simultâneo, abre novos caminhos para a física. Aos 42 anos, o nosso entrevistado é responsável pelo calorímetro de alta granularidade que vai ser instalado no novo acelerador LHC de alta luminosidade e entrar em funcionamento em 2026.

O artigo faz parte da série Jovens Pesquisadores Portugueses na Suíça.

André MendesLink externo nasceu em Lisboa e fez todo o seu percurso académico no Instituto Superior Técnico. No entanto, para além dos cinco anos de licenciatura, “todo o meu percurso foi feito aqui na Organização Europeia para a Pesquisa Nuclear (em francês (CERNLink externo, na sigla em francês)

Na universidade, em Lisboa, leccionou um módulo sobre visualização de dados porque sente que é necessário “providenciar ferramentas que permitam fazer gráficos que expliquem às pessoas o que está a ser apresentado”. Regularmente é professor convidado na Universidade de Turim, onde lecciona cadeiras sobre visualização de dados e a física do bosão de Higgs.

Em 2001 o físico português chegava ao CERN. Para além de ter descoberto diversos projetos relacionados com a aquisição de dados, o que também lhe despertou a atenção foi o ambiente internacional e multicultural que se vive dentro daquele mundo disperso entre Suíça e França. “Enquanto és jovem, é espetacular que haja pessoas novas a cada dois anos. Quando uma pessoa passa a ter uma família, há uma série de coisas que são complicadas”. Para André, essa mobilidade inerente às funções dos investigadores levanta alguma dificuldade em criar uma rede de amigos que possibilite uma entreajuda.

O momento que recorda com maior emoção foi o dia 4 de julho de 2012, quando apresentaram ao mundo a descoberta do Bosão de Higgs. “Eu era responsável pela análise dos dois fotões e em junho tínhamos começado a ver um sinal que parecia ser significativo”. André questionou-se sobre o que as outras equipas independentes estariam a observar, “porque se o bosão de Higgs for aquilo que é previsto pelo modelo padrão, deve decair em dois bosões Z, dois bosões W”, entre outros.

A expectativa era enorme e ele não se surpreendeu quando a experiência CMS, à qual pertence, apresentou os dados mas antes, “quando a equipa da experiência ATLAS estava a chegar à mesma conclusão em que via uma partícula com a mesma massa, em vários canais, com as mesmas propriedades. Aí é que realmente me apercebi de que estavam milhares de pessoas a ver o mesmo e que a probabilidade de estarmos todos errados tornou-se muito mais baixa. Esse foi o momento em que eu descobri o bosão de Higgs”.

André Mendes também está envolvido nas visitas guiadas de escolas portuguesas e na escola de professores de língua portuguesa. Nesse encontro anual reúnem-se professores de todos os países lusófonos. “Esta é a única escola de professores no CERN que é centrada na língua e não no país”. O papel que habitualmente adopta com os professores é de “uma introdução ao pensamento científico utilizando o bosão de Higgs e as experiências que se fazem por aqui. É importante que se adquiram noções científicas não apenas na matéria relacionada com a física de partículas, que é interessante, mas em todas as restantes áreas porque há uma certa lógica e uma forma de abordar os assuntos.”

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