Perspectivas suíças em 10 idiomas

Direita nacionalista deverá negociar com outros partidos

Claude Longchamp, diretor do instituto de sondagens GFS. Keystone

A direita nacionalista (UDC) vencedora da eleições quer um segundo membro do governo. Isso poderia ameaçar o sistema de concordância entre partidos.

Mas, para o cientista político Claude Longchamp, a democracia direta vigente na Suíça força os partidos ao entendimento.

Com a vitória eleitoral de domingo, a UDC, partido mais à direita entre os grandes partidos suíços, reinvindicou, legitimamente, um segundo cargo no governo federal.

Até agora, a UDC tem um representante no governo federal e o Partido Socialista, o Partido Radical e o Partido Democrata-Cristão têm dois representantes cada um. O governo federal é composto de 7 ministros e as decisões são tomadas por consenso.

O dado novo, desde domingo, é que a UDC já apresentou seu candidato ao governo federal, o deputado Christoph Blocher, líder da ala mais direitista do partido.
Foi ainda mais longe, afirmando que se Blocher não for eleito, em dezembro, a UDC sai do governo para a oposição, posição sem precedentes na história moderna da Suíça.

A seguir, a análise do cientista político Claude Longchamp, diretor do instituto de sondagens GFS, de Zurique, que fez as pesquisas para a Rádio e Televisão suíça.

swissinfo: Diante dessa ameaça, os outros partidos terão a coragem de continuar recusando um segundo ministério à UDC?

Claude Longchamp: Eu acho que um segundo cargo no governo é justificado, considerando-se os resultados da UDC em 1999 e os de agora. Mas a UDC quer que o segundo ministro seja Chistoph Blocher e eu acho que o Parlamento não vai aceitar essa proposta.

De fato, Christoph Blocher é a personalidade que mais polariza a cena política suíça. Nos últimos anos, nas eleições no Parlamento para governo federal, os partidos sempre apresentaram dois candidados, a escolher, e a UDC nunca fez isso.

Agora, a UDC joga uma cartada decisiva, afirmando que retira do governo o ministro da Defesa, Samuel Schimid (UDC) se Blocher não for eleito. Essa posição irrita os outros partidos e cria divergências dentro da própria UDC.

swissinfo: A composição do governo seria, portanto, modificada?

C. L.: A questão é saber que partido vai ceder uma vaga no goveno federal para a UDC. Essas eleições demonstraram um enfraquecimento dos partidos de centro-direita, Radical e Democrata-Cristão.

Pode-se imaginar, portanto, uma recomposição à direita com dois representantes da UDC, dois do Partido Radical, dois do Partido Socialista e um da Democrata-Cristão.

swissinfo: O sr. acha que os radicais e os democrata-cristãos vão aceitar isso?

C. L.: Isso é uma outra questão. Acho que os democratas-cristãos (PDC) tentarão um compromisso para não perder agora um dos dois ministérios que detém mas somente quando um deles pedir demissão. Eles tentarão ganhar tempo, um ou dois anos.

swissinfo: E se a UDC sair do governo como promete, ela ainda terá credibilidade?

C. L.: Acho que essa possibilidade exista a curto prazo. A Suíça já viveu épocas onde o sistema de concordância não englobava todo o espectro político. Eu acho que um tal sistema de oposição não seria estável a médio prazo.

Nosso sistema político não é o de solicitar aos eleitores uma posição de esquerda ou direita, tanto no Parlamento como no governo.

No nosso sistema de democracia direta, o povo pode votar diretamente sobre os problemas importantes. Por isso acho que um sistema de maioria-oposição mostraria seus limites nas primeira votações votações populares.

swissinfo: Concretamente, a Suíça seria ingovernável?

C. L.: Acho que a médio prazo, a Suíça teria um enorme problema se os socialistas ou a UDC sairem do governo.

Acho melhor que os grandes partidos estejam no governo. Assim, são obrigados a encontrar um compromisso entre eles e influenciar a política do país.

Portanto, a UDC também deve continuar no governo mas com representantes que possam colaborar com os de outros partidos e, talvez, Christoph Blocher não seja a pessoa adequada.

swissinfo, Eva Herrmann et Olivier Pauchard
(Adaptação: Claudinê Gonçalves)

A Divisão Federal de Estatísticas divulgou segunda-feira os cálculos definitivos da força dos principais partidos:
UDC: 26,6% (22,54% em 1999)
PS: 23,3% (22,47% )
PRD: 17,3% (19,9%)
PDC: 14,4% (15,9%)
Partido Verde: 7,4% (5%)
Participação: 45,6% (43,4%)

Certificação JTI para a SWI swissinfo.ch

Mostrar mais: Certificação JTI para a SWI swissinfo.ch

Veja aqui uma visão geral dos debates em curso com os nossos jornalistas. Junte-se a nós!

Se quiser iniciar uma conversa sobre um tema abordado neste artigo ou se quiser comunicar erros factuais, envie-nos um e-mail para portuguese@swissinfo.ch.

SWI swissinfo.ch - sucursal da sociedade suíça de radiodifusão SRG SSR

SWI swissinfo.ch - sucursal da sociedade suíça de radiodifusão SRG SSR