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Sete votos para o consenso

No cargo mais elevado da Suíça, Leuenberger quer promover mais diálogo. swissinfo.ch

Para o ministro Moritz Leuenberger, que em 2006 assume pela segunda vez a presidência da Confederação Helvética, o ano começa com várias prioridades.

A primeira e melhorar o diálogo político no país, sobretudo com a juventude. Em segundo, reforçar o princípio da colegialidade.

swissinfo: o Sr. se alegra em assumir no ano que chega o cargo político mais elevado da Suíça, apesar de todas as manobras dos partidos de direita contra sua candidatura?

Moritz Leuenberger: Por isso mesmo. Nesse caso eu fui confirmado no cargo não através de um ritual barato, mas sim eleito por um grande número de votos a meu favor dentro desse debate político.

Uma das suas prioridades é promover um melhor diálogo com a juventude, para que eles se engajem mais na política. Como isso pode funcionar?

Um exemplo é o debate sobre a questão energética. Nós estamos discutindo como será o fornecimento de energia na Suíça a partir de 2020. Nesse sentido pretendo convidar a juventude a discutir conosco os problemas do futuro. Ao mesmo tempo, a tradicional foto do governo federal será realizada por um grupo de aprendizes e não fotógrafos profissionais, como de hábito.

Quais são as viagens planejadas pelo presidente da Confederação Helvética para 2006? Que Suíça deve ser mostrada no exterior, na sua opinião?

Para mim importante será a viagem ao continente africano. Dessa forma quero exprimir que a solidariedade já demonstrada com as regiões mais pobres da Suíça também vale para as regiões mais pobres do mundo.

Nos últimos meses os jornais falaram muito das disputas internas no governo federal. O ministro Blocher fala, pelo contrário, do bom relacionamento. Em que pé está o ambiente de trabalho para os ministros?

O que me consola é saber que todos os sete membros do governo federal dizem que estão de acordo e que consideram importante o princípio da colegialidade. Não é fácil trabalhar num grêmio, onde pessoas de diferentes origens e tradições políticas necessitam chegar ao consenso. Obviamente se discute muito, mas isso faz parte do nosso trabalho.

Podemos falar que ocorre uma perda de valores?

Os hábitos se modificam com o tempo. Porém se você analisar os últimos mil anos de história, verá que os valores sempre mudaram, mas o mundo continua a funcionar.

Como presidente da Confederação Helvética, o Sr. deve atuar como um moderador nesse grêmio de ministros. Como será possível recolocar o governo federal numa linha comum?

Eu volto a dizer que o atual presidente Samuel Schmid fez um trabalho notável nesse sentido. Porém é necessário chegar a um comum acordo entre os sete membros do governo federal. Um presidente não é capaz de fazer isso sozinho, mas ele é capaz de dar forma às reuniões e o tom dos debates.

Para os ministros, o meio-ambiente foi um tema difícil no ano que passa. Uma pergunta premente foi saber se a Suíça iria ou não participar das metas de Kyoto. Estaria o país perdendo sua fama de maior patrocinador da ecologia?

Antes as questões de proteção ambiental tinham um peso maior nas discussões. Quando problemas como a morte das florestas na Suíça dominava as manchetes, a consciência ecológica de todos despertou e todos se engajaram. Porém a relativização do tema na atualidade deve-se também às melhorias alcançadas, não podemos negar essa realidade. Isso não me impede de sempre tentar vender uma política de proteção ambiental, mesmo que muitas vezes eu seja obrigado a aceitar derrotas.

A privatização anunciada da antiga estatal de telecomunicações Swisscom e a proibição do engajamento de firmas estrangeiras nela provocou polêmica. Os ministros Blocher e Merz se intrometeram num assunto que faz parte do seu departamento. Qual a sua opinião sobre o tema?

Existem boas razões para a privatização da Swisscom e isso já foi dito por mim no momento de ter sido tomada uma decisão. Minhas únicas ressalvas eram as seguintes: quem iria dar o voto final, o Parlamento ou o eleitor nesses tempos onde o medo de liquidação da pátria impera? Agora eu mantenho a minha decisão.

O Sr. é conhecido pelos discursos, que já foram até premiados. Como eles são escritos?

Em primeiro lugar, eu imagino que estou frente ao público e começo um diálogo virtual com ele. Então escrevo o primeiro, o segundo e talvez até um terceiro esboço. Na quinta ou sétima versão do texto, tenho coragem de mostrar para os meus colaboradores. Se não tivesse prazos para terminar esse “diálogo”, acho que ele nunca teria fim.

Nos dez anos como ministro, o Sr. é o político com mais anos de casa. Depois de eleito mais uma vez presidente, seu discurso é de que o trabalho continua. Partidos de direita como a UDC gostariam de vê-lo fora do poder. O que lhe motiva a continuar?

Eu nunca tomaria uma decisão baseada na opinião de outros partidos, sobretudo a União Democrática do Centro. Fui eleito para quatro anos. Quando vejo a perspectiva que membros do governo que são mais velhos do que eu têm, não entendo por que me fazem sempre essa pergunta, eu que sou o segundo mais novo.

Na sua opinião, qual a importância da chamada “Quinta Suíça”, os suíços do estrangeiro?

Para mim é muito importante a comunicação com a Quinta Suíça, sobretudo pelo fato desses compatriotas terem uma visão um pouco folclórica da sua terra de origem. Esse contato esteve durante muito tempo limitado às fitas-cassete com o discurso de 1. de agosto feito pelo presidente da Confederação Helvética e o sino da comuna enviados pelo correio. Da última vez eu lhes enviei jazz misturado com corne dos Alpes. Depois disso recebemos cartas de protesto do mundo inteiro.

Graças às novas tecnologias, os suíços do estrangeiro agora têm acesso às emissões de rádio e TV feitas na Suíça. Assim eles ganham uma visão real do seu país.

Na sua opinião, o apoio do governo federal e da Rádio e Televisão Suíça (SRG) à plataforma de informações swissinfo é correta?

Não apenas correta, mas ela é parte fundamental da nossa política. Quem participa desse país, mesmo estando no exterior, tem direito à essa ligação interativa.

swissinfo, Gaby Ochsenbein

Moritz Leuenberger nasceu em 1946.
O interesse pela política surgiu durante os anos de estudo de direito na Universidade de Zurique.
Com 26 anos, Leuenberger se tornou presidente do Partido Socialista em Zurique.
De 1974 a 1983 esteve na Câmara Municipal de Zurique.
Em 1979, Leuenberger se tornou deputado federal.
De 1991 a 1995: governo cantonal do cantão de Zurique.
Desde 1995, Moritz Leuenberger é membro do governo federal. Desde então ele é responsável pelo Departamento do Meio-ambiente, Transportes, Energia e Comunicação.
Depois de 2001, Leuenberger será pela segunda vez presidente da Confederação Helvética.
Moritz Leuenberger já publicou dois livros com textos e discursos pela editora Limmatverlag, de Zurique: “Träume & Traktanden” e “Die Rose und der Stein”.

– O presidente da Confederação Helvética é eleito anualmente pelo Parlamento entre os sete membros do governo federal.

– Em seu mandato de 2006, Moritz Leuenberger pretende reforçar o diálogo com a juventude e o princípio de colegialidade (princípio de unidade e igualdade de posição) no governo federal.

– Para 2006 já estão planejadas viagens para a África, Áustria, Romênia, Bulgária e Finlândia, que assume nesse ano a presidência da União Européia.

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