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Suíços do estrangeiro debatem no Rio sobre política helvética

Pessoas sentadas em cadeiras e conversandoo
Os participantes da mesa-redonda realizada na residência oficial do Consulado da Suíça no Rio de Janeiro, em 15 de junho de 2019. Da esquerda para direita: Walter Riedweg (artista), Tomi Streiff (cineasta), Alexander Thoele (swissinfo.ch), Mike Lütolf (empresário) e Walter Stooss (administrador). swissinfo.ch

Progressistas, liberais ou conservadores: suíços do estrangeiro participaram da mesa-redonda organizada pela swissinfo.ch, no Rio de Janeiro, em 15 de junho de 2019. O debate levantou questões sobre a política européia, democracia direta e problemas relativos à vida no exterior. O público também trouxe suas preocupações.

O projeto #SWIontourLink externo levou uma equipe de jornalistas da swissinfo.ch ao Rio de Janeiro. Essa cidade litorânea, situada no Sudeste do país e maior destino turístico internacional no Brasil, também recebeu o primeiro consulado suíço fora da Europa e uma importante leva de migrantes, dos quais muitos descendentes já vivem há 200 anos no país. 

Uma cidade conhecida internacionalmente pelas belezas naturais como o Pão de Açúcar, o morro do Corcovado com a estátua do Cristo Redentor ou a praia de Copacabana. Não é difícil entender porque tantos suíços do estrangeiro escolheram viver no Rio de Janeiro. E para discutir sobre as eleições de 2019, a swissinfo.ch e o Consulado Geral da Suíça convidaram aproximadamente cinquenta pessoas para passar uma manhã de sábado na residência oficial no bairro da Lagoa, com vista para o famoso bairro de Ipanema. 

Quatro suíços do estrangeiro, de diferentes tendências políticas, participaram da mesa-redonda. Eles debateram diferentes pontos sob a perspectiva das eleições parlamentares, previstas para ocorrer em outubro de 2019. E falaram das suas vidas no Brasil. Cada um dos temas é apresentado separadamente em vídeo. 

Os participantes da mesa-redonda foram: 

Walter Riedweg, artista

Tomi Streiff, cineasta  

Mike Lütolf, diretor-presidente da Diamond do Brasil Ltda.

Walter Stooss, diretor da Escola Suíço-Brasileira no Rio de Janeiro 



Primeiro tema: Política europeia – mais integração ou independência?

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As opiniões divergem bastante nesse sentido. Walter Riedweg se manifestou contrário a qualquer tendência isolacionista da Suíça. Já o cineasta Tomi Streiff lembrou que a Suíça se aproveita do privilégio de sediar grandes multinacionais e que, por isso, não pode abdicar das responsabilidades no exterior. “A Suíça deve fazer parte da União Europeia”, ressalta. Por outro lado, defendeu a criação de um governo mundial das regiões, sem fronteiras, “para proteger a independência das culturas regionais”. Já Mike Lütolf considerou importante para a Suíça “manter sua neutralidade”, mesmo se Suíça e a União Europeia (UE) firmarem um acordo. Por outro lado, Walter Stooss confessou ter sido partidário da adesão da Suíça à UE. Porém hoje, o diretor da Escola Suíço-Brasileira no Rio de JaneiroLink externo, considera a via das negociações bilaterais melhor do que a integração da Suíça em um bloco de países muitas vezes divergentes, como é o caso da UE.


Segundo tema: Futuro do sistema previdenciário na Suíça

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Um tema que é tão importante na Suíça como no Brasil. Afinal, nos dois países, os respectivos parlamentos discutem atualmente projetos de reforma, tão necessárias frente à crescente pressão demográfica. Walter Riedweg se considerou um privilegiado por ter tido sucesso como artista, mas por ser independente, “devo trabalhar até o final da vida para me sustentar”. Porém ele viu como importante as reformas em um país com tantos pobres como o Brasil, “para garantir uma aposentadoria digna”. Tomi Streiff confessou não acompanhar as discussões sobre a reforma previdenciária na Suíça, mas gostaria mais de poder votar sobre a questão no Brasil, onde vive há oito anos. “No Brasil as aposentadorias já são muito baixas. O projeto do novo presidente Bolsonaro é de reduzir ainda mais elas”, criticou. O empresário Mike Lütolf defendeu reformas urgentes para o sistema previdenciário brasileiro frente “à situação econômica do país”. Já a Suíça teria, ao seu ver, um sistema mais sólido, mas que também precisa se adaptar às novas condições. Pessoalmente, seu objetivo é “poder trabalhar mesmo depois de chegar à idade da aposentadoria”. Walter Stooss criticou a posição de sindicatos quando dizem “temos de defender nossos privilégios”, pois se não forem feitas as reformas, “no final todos irão pagar, inclusive os mais pobres”. A vantagem da Suíça na questão é a cultura de discussão em um país pequeno, enquanto no Brasil, suas dimensões e a heterogeneidade “dificultam encontrar uma solução”.


Terceiro tema: Democracia direta: Na Suíça, a fórmula de sucesso; no Brasil, solução para os problemas?

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Na Suíça, a base política do país; no Brasil, um instrumento desconhecido: a democracia direta. Para o artista Walter Riedweg, um elemento da democracia direta que poderia ser aplicado no Brasil, um país altamente centralizado, seria uma maior autonomia das regiões e mais responsabilidade para as comunas (municípios). O cineasta Tomi Streiff se considerou um “fã do sistema político suíço”, mas considerou difícil aplicá-lo no Brasil, pois “é algo que cresceu ao longo da história da Suíça”. Em sua opinião, o Brasil necessita trabalhar ainda a sua história e resolver a dívida que tem “frente aos índios mortos durante a colonização e a escravização de milhares de pessoas trazidas da África”. Mais importante do que trazer elementos de fora, Mike Lütolf lançou a ideia de que políticos e funcionários públicos no Brasil sejam obrigados por lei a utilizar os sistemas públicos de saúde, educação ou transporte. “Com isso a situação melhoraria seguramente no país”, disse. Ao referir-se à democracia direta, Walter Stooss, especializado em educação, criticou o voto obrigatório no Brasil. “Mesmo com as taxas reduzidas de participação nos plebiscitos, o eleitor que vota na Suíça é alguém que se interessa por política, que se informam e formam a sua própria opinião”, afirmou. “Já no Brasil qualquer pessoa precisa votar, mas muitas vezes não está informada. E o perigo com isso é você ter uma massa manipulável”. Outro problema, em sua opinião, é o desaparecimento das forças de centro, “que tem como consequência uma polarização dos eleitores”.


Quarto tema: Democracia direta: na Suíça o povo diz “não” aos grandes eventos; no Brasil o povo também teria dito “não” à Copa ou às Olimpíadas? 

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A euforia que tomou conta do Brasil após o país ter sido escolhido para abrigar os dois grandes eventos foi seguida pela ressaca da crise. Muitas obras não foram concluídas ou estão, hoje, paralisadas. Em muitos lugares surgiram estruturas subutilizadas. Na Suíça os eleitores puderam votar algumas vezes sobre a candidatura do país para receber as Olimpíadas de Inverno: em todas elas, a maioria dos eleitores disse “não”. Segundo os analistas, o povo considerou-as perdulárias e desnecessárias. E no Brasil? Teria a democracia direta ajudado o eleitor a avaliar melhor os grandes eventos? Teria ele votado também contra? Walter Riedweg achou que a democracia direta seria supérflua no Brasil frente à violência diária e outras carências da periferia. “Como as pessoas poderiam discutir sobre um tema se não podem sair à noite às ruas?”, questionou-se. Já Tomi Streiff lembrou da grande quantidade de pessoas que estão fora do sistema político, “pois não estão nem registradas”. Mas sua esperança está depositada nos jovens, especialmente na periferia, “que tem força e esperança de mudar as coisas no Brasil”. Mike Lütolf achou uma boa ideia ter um plebiscito quando se trata de um país decidir receber ou não um grande evento, mas com ressalvas. “A questão principal é as pessoas estarem bem informadas”. Porém o empresário colocou em dúvida a disposição do eleitor brasileiro de se informar sobre as questões lançadas em um plebiscito, como ocorre na Suíça. O suíço do estrangeiro Walter Stooss achou que a democracia direta também funcionaria no Brasil, mas precisaria ser menos “abstrata” e mais “focada a uma região, ou seja, em nível comunal.


Quinto tema: Bancos fechando as portas ao suíço do estrangeiro

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Os bancos suíços aumentaram drasticamente as taxas bancárias para suíços do estrangeiro, alegando custos mais elevados para administrar as contas. Em outros casos as instituições financeiras chegam até a fechá-las. Uma das principais reivindicações da Organização dos Suíços do EstrangeiroLink externo (OSE, na sigla em francês) é obrigar os bancos a aceitarem como clientes suíços que vivem no exterior. O que pensam os suíços no Rio de Janeiro? Walter Riedweg se considerou um “pequeno peixe” e afirmou que não tem problemas com a sua conta nos Correios. Já Tomi Streiff contou sua experiência pessoal com um banco suíço: ao tentar repatriar as economias para a Suíça, essa instituição não aceitou o dinheiro e fechou a sua conta. “Devido ao medo que os bancos têm de se envolver em corrupção ou lavagem de dinheiro, são criadas regras que terminam punindo os suíços do estrangeiro. Enquanto isso até hoje são encontradas contas dos grandes peixes na Suíça, dentre eles de brasileiros”, criticou. O cineasta acrescentou ainda que até mesmo as seguradoras de saúde na Suíça também não querem mais ter clientes que residem em outros países. “Expulsaram a nossa família do plano de saúde”. O empresário Mike Lütolf considerou um “paradoxo” a situação entre os suíços do estrangeiro e os bancos: “Ter uma conta na Suíça é impossível ou só com custos elevados”. Walter Stooss revelou que também teve sua conta na Suíça fechada. “Com menos de um milhão você não é interessante mais para nós”, brinca. Porém encontrou uma solução com um banco local. “De fato, se tornou muito difícil para os suíços do estrangeiro ter uma conta na Suíça”, afirma, acrescentando que vê nesse problema uma tarefa importante para a OSE. 


Debate final

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Pierre Bauer, um dos suíços presentes na platéia, conta como chegou no Brasil ainda na época da ditadura, quando havia concluído o seu doutorado. Durante muitos anos trabalhou como pesquisador e especialista no setor médico. Ele contou que também teve sua conta fechada na Suíça pelo próprio banco. Dirigindo-se às autoridades suíças presentes, solicitou que estas, e também a Organização de Suíços do Estrangeiro (OSE) se esforçem para facilitar a vida dos suíços no Brasil. “Facilitando a abertura de contas bancárias na Suíça e também permitindo que eles contribuam voluntariamente ao sistema previdenciário na Suíça (AHV), para que possam ter uma aposentadoria justa”.

Susanne Bamert Schinz, outra suíça na platéia, conta que chegou no Brasil em 1974, onde trabalhou na Escola Suíça e outras escolas. Porém hoje ela está insatisfeita com o país e gostaria de retornar à Suíça devido à crise economica no Brasil. A mesa-redonda terminou com uma discussão entre partidários e opositores do novo presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, dois campos irreconciliáveis. 

Veja outros vídeos, entrevistas e imagens da viagem de #SWIontour para o Rio de Janeiro no nosso site no InstagramLink externo.


Um olhar suíço sobre as eleições federais em seis países!

Antes das eleições federais na Suíça, previstas para ocorrer em 20 de outubro de 2019, swissinfo.ch encontrou suíços do estrangeiro em seis diferentes países.

O objetivo era saber o que pensam os membros da chamada “Quinta Suíça”, que corresponde a 11% da população do país ou 760.200 pessoas.

Os jornalistas visitaram associações e clubes suíços na Alemanha, França, Itália, Brasil, Argentina e Estados Unidos, onde organizaram uma mesa-redonda para discutir temas de política e sociedade. 

Veja as etapas da viagem através hashtags #SWIontour e #WeAreSwissAbroad nas redes sociais InstagramLink externo, FacebookLink externo e TwitterLink externo.

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