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Como aposentados suíços vivem entre dois países

Homem dirigindo um trator
Nicolas Hug passa sua aposentadoria entre dois países: a Suíça e a Itália. Em sua casa na Toscana, ele agora produz azeite de oliva. cortesia

Muitos aposentados suíços passam metade do ano em países como o Peru ou a Tailândia, em busca de melhor qualidade de vida e de um custo de vida mais baixo. Esse estilo de vida, no entanto, traz desafios, como despesas duplicadas, definição do domicílio fiscal, continuidade da aposentadoria e manutenção da cobertura de saúde.

Aos setenta anos, Eva Balestra desfruta de uma aposentadoria ativa e cheia de energia entre a Suíça e o Peru. A engenheira química, que se aposentou precocemente, passa dois terços do ano sob o sol sul-americano e o outro terço, durante o verão, na Suíça, onde fica com os filhos.

“Mesmo com uma aposentadoria decente, eu não teria conseguido morar na Suíça. Ao sacar meu segundo pilar (n.r.: parte do fundo de aposentadoria), investi em três apartamentos no Peru, dois dos quais alugo. Lá, vivo muito melhor e com mais independência”, explica Balestra.

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Demografia

Terceira Idade na Suíça

As condições de vida e infraestrutura para os idosos são consideradas excelentes na Suíça, incluindo o sistema social e de previdência. No entanto, este último está sob pressão crescente: embora a expectativa de vida tenha aumentado significativamente nas últimas décadas, houve apenas pequenas mudanças na idade da aposentadoria.

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Assim como essa suíça, quantos aposentados vivem meio período entre a Suíça e outro país? Não há números, visto que essas pessoas residem oficialmente na Suíça ou estão registradas em uma representação consular e, portanto, são consideradas como residentes permanentes no exterior.

Embora seja certo que esse estilo de vida pode ser atraente, é importante levar em consideração vários aspectos, principalmente os administrativos:

  1. Custo de vida
  2. Determinar domicílio fisca
  3. Condições de pagamento da AVS
  4. Seguro de saúde suíço
  5. Seguro saúde internacional
  6. Vida social entre dois mundos

Custos duplos

Nicolas Hug, de 65 anos, ex-funcionário da área biofarmacêutica, trabalhou por vários anos na Itália. Ele manteve a casa que comprou na Toscana, “reformada pedra por pedra”, onde seus filhos cresceram e onde agora produz azeite de oliva. Na Suíça, ele também possui sua casa às margens do Lago Genebra.

Um homem e uma mulher
Nicolas Hug e sua esposa Marie-Christine. cortesia

Mas para Nicolas Hug, “esse estilo de vida é um luxo, porque tudo é duplo: taxas, manutenção, IPTU…”

Isso é confirmado por Nicole Töpperwien, diretora da SoliswissLink externo, uma cooperativa que assessora suíços no exterior: “Duas casas muitas vezes significam uma multiplicação de despesas. O sistema só é vantajoso se você passar parte do ano em um país onde o custo de vida é muito menor do que na Suíça.”

Este é um dos motivos pelos quais Daniel Schärer, 63 anos, decidiu morar na Tailândia por vários meses por ano: “É muito vantajoso financeiramente. Lá, alugo uma casa pequena e gasto pouco. E na Suíça, mantenho meu apartamento o ano todo.”

O domicílio fiscal é decisivo

Como aposentado, determinar seu domicílio fiscal é tão importante quanto quando você está trabalhando. “Se ambos os países considerarem que sua residência principal é em seu território, você corre o risco de dupla tributação, principalmente sobre sua aposentadoria”, alerta Töpperwien.

A “regra dos 183 dias” é frequentemente citada como referência. Ela estabelece que, após passar mais de 183 dias em um país, esse país pode considerar uma pessoa residente fiscal.

No entanto, essa regra não é uma garantia absoluta. Outros critérios entram em jogo, como laços familiares, interesses pessoais ou o tamanho e o valor dos imóveis adquiridos.

Uma pessoa residente fiscal na Suíça também pode estar sujeita à tributação em seu segundo país de residência. Por exemplo, como proprietário de imóvel, Nicolas Hug deve pagar imposto predial na Itália. Além disso, pessoas que dependem de benefícios complementares têm direito apenas a três meses de estadia no exterior por ano.

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Condições de pagamento da AVS

Enquanto a residência oficial permanecer na Suíça, a pensão do Seguro de Velhice e Sobrevivência (AVSLink externo, na sigla em alemão) é depositada em uma conta suíça em francos. Em caso de residência oficial no exterior, essa aposentadoria pode ser depositada em uma conta local em moeda estrangeira ou em uma conta suíça em francos. No entanto, não é possível recebê-lo em francos em uma conta no exterior.

Oficialmente residente no Peru, Eva Balestra preferiu manter uma conta na Suíça: “Com uma conta local, eu estava perdendo muito dinheiro em taxas de transferência e câmbio.” Agora, ela mesma cuida das transferências necessárias da Suíça para o Peru. Essa escolha não é definitiva, pois é possível alterá-la a qualquer momento.

Permanecer filiado ao seguro de saúde suíço

Na medida do possível, os aposentados que vivem meio período na Suíça querem manter sua casa lá, porque isso lhes permite permanecer filiados ao seguro de saúde básicoLink externo.

Uma mulher
Eva Balestra vive um quarto do ano na Suíça. cortesia

Este seguro cobre tratamento na Suíça e no outro país, mas neste último, apenas até o valor que a Suíça reembolsaria. Portanto, se os custos médicos forem maiores do que na Suíça, como é o caso, por exemplo, nos Estados Unidos, eles serão arcados pelo segurado. O seguro também oferece cobertura em caso de emergência.

Quando o domicílio é oficialmente transferido para o exterior, a situação depende de acordos bilaterais.

Na UE/EFTA, quando uma pessoa recebe uma pensão exclusivamente suíça, muitas vezes é possível manter um seguro de saúde na Suíça. Os valores dos prêmios e taxas cobrados pela Suíça variam dependendo do país de residência. “Isso pode ser uma vantagem, pois permite que você escolha o país onde deseja ser tratado”, observa Nicole Töpperwien.

Fora da Europa, praticamente não há acordos bilaterais de saúde. “No Peru, o seguro saúde não é obrigatório e é muito caro. Tenho cobertura local e contrato seguro viagem quando venho à Suíça”, diz Eva Balestra.

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Limites do seguro internacional

Nesses casos, adquirir um seguro saúde internacional pode ser uma alternativa. No entanto, eles são caros e frequentemente impõem limites de idade.

Daniel Schärer, que planeja passar seus últimos dias na Tailândia, sabe disso: “Desde que você esteja saudável, está tudo bem. Mas com a idade, o seguro internacional se torna mais inacessível. Se eu quiser contratá-lo, terei que decidir nos próximos dois ou três anos.”

O nativo de Berna não escolheu a Tailândia por acaso. Embora o clima, o baixo custo de vida e a grande comunidade suíça de língua alemã o tenham atraído, a excelente infraestrutura hospitalar também pesou na escolha de seu segundo país de residência.

Quanto a Eva Balestra, sua decisão já foi tomada: “Por enquanto, posso viajar, mas quando isso não for mais possível, terminarei meus dias na Suíça, cercada pelos meus filhos.

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Entre dois mundos

Viver entre dois países significa “aproveitar o melhor dos dois mundos. Mas também significa nunca estar completamente preso a lugar algum. Os laços sociais, tanto na Suíça quanto no exterior, exigem um esforço constante”, enfatiza Töpperwien.

De fato, é mais difícil construir uma rede social e amizades quando você mora lá apenas em meio período. “Trabalhar como voluntário ou participar de atividades comunitárias também se torna menos acessível”, confirma Nicolas Hug.

Por sua vez, Daniel Schärer acredita que é essencial “ter pessoas em quem você possa confiar na Suíça e no exterior, para gerenciar emergências quando estiver fora e saber com quem entrar em contato quando estiver lá”.

Edição: Samuel Jaberg

Adaptação: DvSperling

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