Peter Rechsteiner (dir.) e um morador de rua em Natal, Brasil.
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Peter Rechsteiner vive no Brasil e leva todos os dias às praças públicas um banheiro portátil que permite desabrigados se lavar. Quando vivia na Suíça, chegou a beira de um esgotamento nervoso.
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No meu trabalho, concentro-me em tópicos relevantes aos suíços do estrangeiro, passando pelo desenvolvimentos políticos na Suíça e seu impacto na diáspora até questões sociais, econômicas e culturais.
Antes de entrar para a SWI swissinfo.ch, trabalhei como redatora no jornal Aargauer Zeitung. Tenho bacharelado em Comunicação Social e, algo tipicamente suíço, antes fiz uma formação profissonal na área de comércio.
O suíço de 61 anos não tinha planos de se tornar um assistente social quando emigrou para o Brasil, dez anos atrás. Hoje, no entanto, trabalha para a organização caritativa “Chuveiro SolidárioLink externo“, que disponibiliza instalações sanitárias a moradores de rua, permitindo que tomem banho, façam a barba e troquem de roupa. “É uma loucura como a falta de higiene pode afetar uma pessoa”, diz o suíço, que no seu país natal consertava máquinas de escrever.
Mudar de vida
A principal razão de Rechsteiner para abandonar a Suíça foram problemas financeiros e uma crise pessoal. Quando trabalhava como designer de iluminação ficou doente por estafa. “Então pedi demissão do trabalho”, conta. Por oito anos se preparou para a emigração até que ele e sua esposa brasileira pudessem fazer as malas e emigrar para o maior país da América do Sul.
Após inúmeras férias e visitas a familiares e amigos na região Nordeste do Brasil, eles se mudaram de Herisau para Natal, capital do Rio Grande do Norte. “É uma região que lembra o cantão do Ticino (ao sul da Suíça, de língua italiana)”, diz, acrescentando que é uma região pobre, sem indústrias, mas com o clima sempre agradável.
Uma voluntária aplicando perfume em um morador de rua.
Cristina Lutz
Guia turístico e criador de porcos
O turismo é uma das principais atividades econômicas do Nordeste brasileiro. Peter Rechsteiner organiza viagens para pessoas interessadas no Brasil. Ele não só cuida do programa, mas também serve de motorista ou anfitrião. “Se desejam, os turistas podem até dormir na minha casa”, diz.
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Retribuição
Afora seus negócios, Peter já participou de outros projetos. “Você pode fazer coisas no Brasil que não funcionariam na Suíça”, explica e dá como exemplo o empreendimento realizado em conjunto com o sogro: uma criação de porcos. “Antes não entendia nada de cuidados de animais”
O suíço considera que não é necessário trabalhar muito para viver bem no Brasil. “Aqui tenho tempo de sobra e me sinto bem”, ressalta. Sua satisfação é tanta que decidiu até mesmo retribuir ao país que o recebeu de braços abertos.
“No projeto ‘Chuveiro Solidário’ ninguém tinha um veículo para puxar um reboque”, explica Rechsteiner. Por tê-lo, recebeu um pedido de ajuda da instituição de caridade. Desde então transporta o banheiro portátil para diferentes lugares todas as quartas-feiras à noite. Geralmente são locais próximos a um hospital ou o mercado.
Peter Rechsteiner fala muito mal o português, o que limita o seu contato com as pessoas que encontra nas ruas. Porém acha que não precisa de muitas palavras. “Depois que tomam um banho, elas se sentem como outras”, revela e complemente. “É impressionante como a falta de higiene afeta a psique humana.”
Uma das experiências mais marcantes foi com um homem que ele e outros voluntários do projeto encontraram três meses atrás em um valão. “Ele estava praticamente morto, tal era o estado de sua saúde”. Depois de limpá-lo, o homem foi levado para um hospital. “Hoje está bem e aparece regularmente no nosso ponto.”
Peter tem dois filhos adultos. Hoje investe um dia de trabalho por semana na instituição. Além de dirigir o trailer, também cuida do equipamento. “Se não consigo consertar as coisas sozinho, pago o conserto com o meu próprio dinheiro.”
Voluntários da instituição beneficente “Chuveiro Solidário” durante uma festa de Natal organizada na rua.
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Sanitários e roupas
O projeto “Chuveiro Solidário” não é uma associação e não dispõe de um orçamento fixo. Os voluntários – a maioria pessoas religiosas – distribuem roupas e material de higiene a pessoas desabrigadas. “O que mais nos faz falta é vestimentas masculinas.”
No último pacote organizado por Peter Rechsteiner, os turistas também fizeram doações de roupas e brinquedos. “Algo que foi muito recebido aqui”, conta.
O suíço está ciente que sua ação é apenas uma gota no oceano. “Mas se cada pessoa ajudasse duas outras que estão em necessidade, então a vida seria melhor para todos”, conclui.
Suíços no Brasil
Segundo dados oficiais da Suíça, até o final de 2018 viviam 13.966 suíços do estrangeiro no Brasil, dos quais 7.303 eram mulheres.
O número de suíços vivendo no exterior podem ser analisados por país ou região de residência através deste linkLink externo.
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