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Facebook ainda enfrenta tempestade, apesar de mea-culpa de Zuckerberg

Mark Zuckerberg fala durante um ato público em 25 de março de 2015 na cidade americana de San Francisco afp_tickers

Gigante das redes sociais, o Facebook continuava nesta quinta-feira (22) em uma tempestade de alcance global, devido ao escândalo de violação da privacidade de seus usuários, apesar do pedido de desculpas feito por seu fundador, Mark Zuckerberg.

Zuckerberg se desculpou na véspera através de um texto publicado no Facebook pelos “erros” que permitiram a uma empresa de consultoria política britânica usar dados pessoais de dezenas de milhões de usuários e prometeu mudanças, mas as autoridades britânicas, que pretendem escutá-lo pessoalmente, não parecem muito convencidas.

“À noite vi que Mark Zuckerberg tinha se desculpado e que ia introduzir algumas mudanças, mas francamente não acredito que essas mudanças vão longe o suficiente”, disse o ministro britânico da Cultura, Matt Hancock, à rádio BBC.

O Facebook está sob fogo cruzado depois de que a empresa britânico-americana Cambridge Analytica (CA) foi acusada de ter usado sem seu consentimento dados de 50 milhões de usuários para elaborar um programa capaz de prever o voto dos eleitores, informação que foi utilizada na campanha presidencial de Donald Trump em 2016.

Na visão de Hancock, no entanto, o “mea-culpa” de Zuckerberg foi insuficiente.

“Não deve caber a uma empresa decidir qual é o equilíbrio correto entre privacidade e inovação e o uso de dados, essas regras têm que ser decidas pela sociedade em seu conjunto e assim o Parlamento deve estabelecê-las”, argumentou.

Em Bruxelas, os líderes europeus se preparam para pressionar por maiores controles sobre os dados pessoais na internet, enquanto Israel se soma aos países que iniciam uma investigação sobre o Facebook.

– Proteger a informação –

“Temos a responsabilidade de proteger seus dados, e se não podemos fazer isso, não merecemos servi-los”, escreveu em seu mural Zuckerberg no primeiro comentário que fez após a revelação do escândalo.

“As medidas mais importantes para que isto não aconteça de novo foram tomadas há anos, mas também cometemos erros e há mais por fazer”, acrescentou.

Zuckerberg explicou que sua equipe soube que a Cambridge Analytica havia coletado dados de milhões de usuários e solicitou à empresa a eliminação dessas informações. Segundo ele, a empresa ofereceu provas de que havia eliminado esses dados, mas depois o Facebook soube que aparentemente isso não havia ocorrido.

O bilionário executivo disse que estava disposto a dar seu testemunho ante o Congresso americano, algo que, segundo legisladores, poderia acontecer “em um futuro próximo”.

Em Washington, líderes do Comitê de Energia e Comércio da Câmara de Representantes urgiram nesta quinta-feira a Zuckerberg para que testemunhe o mais rápido possível, assegurando que uma reunião informativa na quarta-feira por parte dos funcionários do Facebook deixou “muitas perguntas” sem resposta.

“Acreditamos que, como CEO do Facebook, ele é a testemunha adequada para dar respostas ao povo americano”, disse um comunicado do painel.

Em uma entrevista à CNN, Zuckerberg sugeriu inclusive que estaria aberto a uma regulação externa das operações de uma rede social com as características do Facebook.

“Na verdade, não estou certo de que não devemos ser regulados”, disse Zuckerberg à CNN, e estimou que o ocorrido tinha sido um “abuso significativo da confiança”.

No entanto, analistas observaram que o método de coleta de dados pessoais utilizado pela Cambridge Analytica se apoiou precisamente no modelo de negócios que tornou o Facebook um fenômeno das redes sociais.

Max Schrems, um ativista baseado em Viena e que levou a tribunais europeus casos em defesa da privacidade on-line, disse à AFP que já tinha apresentado queixas ante a Autoridade de Proteção de Dados da Irlanda em 2011, em consequência dos métodos controversos de coleta de informação pessoal.

– Modelo de negócios –

Sandy Parakilas, ex-gerente de produtos no Facebook, que foi interrogado por uma comissão parlamentar britânica, afirmou que o “Facebook sabia de tudo que estava acontecendo, e não preveniu ninguém”.

Em declarações publicadas pelo The Washington Post nesta quinta-feira, outro ex-funcionário da Cambridge Analytica, Christopher Wylie, apontou que o “Facebook não cooperou”.

Aleksandr Kogan, o psicólogo que desenvolveu o aplicativo que serviu para a Cambridge Analytica coletar os dados de milhões de usuários do Facebook, afirmou na quarta-feira à BBC que o que fez era “perfeitamente legal e ajustado aos termos de serviço”.

“Minha opinião é que estou sendo usado basicamente como um bode expiatório”, se defendeu Kogan, contratado pela Cambridge Analytica, cujo cofundador foi Steve Bannon, que acabaria trabalhando como conselheiro estratégico de campanha de Trump.

O caso gerou um movimento para abandonar o Facebook, iniciativa que na quarta-feira recebeu o apoio de um dos fundadores do sistema de mensagens WhatsApp.

“Delete o Facebook” (#deletefacebook”) escreveu Brian Acton no Twitter, usando a hashtag do movimento, que se popularizou nas redes sociais. “Delete e esqueça. É hora de dar importância à privacidade”.

SWI swissinfo.ch - sucursal da sociedade suíça de radiodifusão SRG SSR

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