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Credibilidade de estudos biomédicos é questionada por nova pesquisa

(Arquivo) Dois grupos de pesquisadores deram um golpe na credibilidade de um grande número de estudos biomédicos que, segundo eles, raramente fornecem os dados e a transparência necessários para verificar os resultados ou reproduzí-los de forma independente afp_tickers

Dois grupos de pesquisadores deram um golpe na credibilidade de um grande número de estudos biomédicos que, segundo eles, raramente fornecem os dados e a transparência necessários para verificar os resultados ou reproduzí-los de forma independente.

Ambas as análises foram publicadas nesta segunda-feira na revista científica norte-americana PLoS Biology.

A primeira foi conduzida por Shareen Iqbal da Emory University (na Geórgia, sudeste) e John Ioannidis, de Stanford, e analisou 441 estudos publicados entre 2000 e 2014 nos principais periódicos científicos. O objetivo foi identificar os principais dados para avaliar e replicar os resultados, bem como acesso aos protocolos deste trabalho e a frequência de estudos replicando suas conclusões.

Os autores ficaram surpresos ao descobrir que apenas um desses 441 estudos sugeriram sua metodologia completa e nenhum disponibilizou a totalidade dos dados coletados.

Além disso, grande parte dos trabalhos não especificavam como foram financiados ou se os autores tinham conflitos de interesse.

“Esperamos que nossa análise sensibilize os pesquisadores, aqueles que financiam as pesquisas e as revistas científicas que publicam esse tipo de trabalho, já que é necessário melhorar a transparência e o acesso a todos os dados”, dizem os autores.

A segunda análise foi feita por Ulrich Dirnagl, pesquisador no Charité-Universitätsmedizin, um grande hospital universitário em Berlim, e reviu centenas de estudos pré-clínicos realizados com camundongos e ratos que incidiam sobre câncer e derrame cerebral.

Conclusão: a grande maioria dos estudos não forneciam informações suficientes sobre o número de animais utilizados.

Em muitos desses estudos, os animais “desapareceram” sem explicação no estudo atual.

Usando um modelo de computador, os investigadores alemães foram capazes de simular os efeitos destas perdas de animais de laboratório sobre a validade dos resultados de experiências.

– Milhões de dólares desperdiçados –

Eles concluíram, assim, que quanto maior o número de animais perdidos ou removidos, mais fracas eram as conclusões dos estudos.

“Começamos a nossa análise com a ideia de examinar a robustez dos resultados de um grupo de estudos pré-clínico , mas o grande número de animais que faltavam nos obrigou a encurtar nossa avaliação”, explicou Constance Holman, do Charité-Universitätsmedizin, principal co-autora.

Na medicina humana, não podemos imaginar publicar ensaios clínicos sem dados sobre o número de pacientes ou daqueles que pararam de participar ou morreram no decorrer do estudo, ressaltou.

Mas aparentemente ninguém se preocupou em verificar rigorosamente se o número de animais utilizados, perdidos ou removidos estava indicado nesses estudos fundamentais, lamenta a pesquisadora.

Para os autores destes dois estudos, bilhões de dólares são desperdiçados a cada ano em estudos cujos resultados não podem ser reproduzidos.

Esta incapacidade de poder verificar as conclusões destes trabalhos científicos gerou uma crise de confiança na validade dos resultados.

As conclusões destes dois estudos se unem a uma longa lista de perguntas sobre os pontos fracos na forma de publicação dos resultados da investigação fundamental.

Para incentivar maior transparência e potencialmente fornecer os meios para tornar as conclusões do trabalho no setor biomédico mais facilmente reproduzíveis, a PLOS Biology criou uma nova seção dedicada à investigação sobre outras pesquisas.

“Nosso objetivo é mostrar que a investigação sobre a investigação é uma parte importante da ciência”, escreveu em um editorial Stavroula Kousta, uma das redatoras-chefe da PLOS Biology.

“Com a criação de um fórum neste domínio neste campo, a PLOS Biology contribuirá para os esforços em curso para melhorar os critérios de pesquisa científica em bio-ciência e além”, concluiu.

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