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PF prende presidente do COB por suspeita de corrupção na Rio-2016

(2016) Nuzman participa de ato público na cidade de Santos afp_tickers

A Polícia Federal (PF) prendeu nesta quinta-feira o presidente do Comitê Olímpico Brasileiro (COB), Carlos Arthur Nuzman, investigado por sua suposta participação em uma rede internacional que teria comprado votos para que o Rio de Janeiro fosse escolhido sede dos Jogos Olímpicos em 2016.

Nuzman, que foi obrigado a depor em 5 de setembro pelo caso, foi preso no início da manhã em sua casa no Leblon. Usando terno e gravata, o dirigente de 75 anos foi levado pouco depois para a superintendência da PF, no centro do Rio de Janeiro.

A prisão é de caráter temporário e foi ordenada pelo juiz federal Marcelo Bretas em uma operação em que também foi detido o seu braço direito, o diretor-geral de operações do Comitê Rio-2016, Leonardo Gryner. Os dois são acusados de “corrupção, lavagem de dinheiro e organização criminosa”, informou a PF.

Uma fonte da polícia confirmou à AFP que a prisão tem a validade de cinco dias renováveis e que os dois serão levados a um presídio em Benfica. O advogado de Nuzman, Sérgio Mazzillo, estava reunido ao meio-dia para definir as ações da defesa.

O Ministério Público (MP) do Rio também solicitou o bloqueio de um bilhão de reais do patrimônio dos investigados pelos danos causados.

“A prisão temporário de Nuzman e Gryner é imprescindível não só como garantia de ordem pública, como para permitir bloquear o patrimônio, além de impedir que ambos continuem atuando, seja criminosamente, seja na interferência da produção probatória”, assinalou o MP.

Os procuradores asseguram que Nuzman, presidente do COB desde 1995, ampliou o seu patrimônio em 457% nos últimos 10 anos sem deixar clara a sua origem, e tentou esconder os seus rendimentos das autoridades.

Assinalam também que apenas declarou possuir 16 barras de ouro de um quilo cada depois que foi interrogado há um mês.

– “Unfair Play – Segundo Tempo” –

A operação desta quinta foi batizada de “Unfair Play – Segundo Tempo” e é uma derivação da realizada em setembro, na qual Nuzman foi interrogado por suspeitas de que foi o “ponto central de conexão” da suposta trama para favorecer o Rio, sede dos primeiros Jogos Olímpicos na América do Sul.

As autoridades brasileiras, apoiadas pelas francesas, consideram que o ex-governador Sérgio Cabral – que cumpre uma condenação por corrupção passiva e lavagem de dinheiro – era o cérebro do esquema, que supostamente pagou dois milhões de dólares em propina ao senegalês Papa Massata Diack, filho do antigo presidente da Federação Internacional de Atletismo (IAAF) Lamine Diack.

O empresário Arthur Soares, conhecido como “Rei Arthur”, um dos principais contratistas do governo de Cabral, teria sido o encarregado de efetuar esse pagamento apenas três dias antes da votação do Comitê Olímpico Internacional (COI), em outubro de 2009, quando o Rio venceu Chicago, Madri e Tóquio.

Os procuradores do Rio asseguram ter reunido novos elementos que provam “de maneira irrefutável” como foram feitos os pagamentos.

Por exemplo, por meio de uma mensagem em que Papa Massata pede diretamente a Nuzman ajuda para “o processo final”, ou um e-mail com cópia para o brasileira falando das dificuldades com transferências bancárias.

Estas provas demonstram que Nuzman e Gryner “foram os agentes responsáveis por fazer os contatos e azeitar as relações para organizar o mecanismo do repasse de propinas de (ex-governador do RJ) Sérgio Cabral diretamente a membros africanos do COI”, assegura o MP.

– Membro honorário do COI –

O escândalo do Rio fez sombra a um evento do COI realizado no mês passado em Lima após as nomeações de Paris-2024 e Los Angeles-2028.

Nessa ocasião, o presidente do COI, Thomas Bach, foi questionado sobre o papel de Nuzman, membro honorário da entidade.

O dirigente alemão disse que o COI tentaria ajudar a esclarecer os fatos, mas afirmou que “nenhuma organização esportiva pode fazer operações, ou buscar contas”.

Após a prisão desta quinta, o novo chefe da Comissão de Ética do COI, Ban Ki-moon, pediu “todas as informações” às autoridades brasileiras para continuar com a investigação sobre o caso dentro da comissão e ofereceu a sua cooperação para as investigações no Brasil.

“Dado os novos fatos, a Comissão de Ética pode considerar medidas provisórias enquanto respeita o direito de Nuzman de ser ouvido”, disse um porta-voz do COI em comunicado.

Com a prisão de Nuzman, o COB ficou temporariamente nas mãos do até agora vice-presidente Paulo Wanderley.

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