Perspectivas suíças em 10 idiomas

‘Cocaleros’ libertam 180 militares colombianos retidos na fronteira com a Venezuela

Soldados colombianos libertados em 28 de outubro de 2021 após permanecer retidos por dois dias por camponeses 'cocaleros' perto da fronteira com a Venezuela afp_tickers

Camponeses ‘cocaleros’ libertaram nesta quinta-feira (28) 180 militares do Exército colombiano que tinham retido na terça-feira quando realizavam operações antinarcóticos em um povoado fronteiriço com a Venezuela, informou a Defensoria do Povo.

Segundo o exército, na terça-feira camponeses armados com paus e facões cercaram as tropas que destruíam cultivos de coca em Tibú, município do departamento de Norte de Santander, que concentra os maiores cultivos no mundo de coca, planta da qual se produz a cocaína.

Mas na tarde desta quinta, houve “uma manifestação unilateral por parte das comunidades de se retirar do local e não impedir o trabalho da força pública”, assegurou em um comunicado a Defensoria do Povo, que zela pelos direitos humanos.

Mais cedo, o presidente Iván Duque acusou os ‘cocaleros’ de “sequestro” e os advertiu que as autoridades agiriam no local se não houvesse a “libertação rápida” dos militares.

Uma equipe da AFP viu quando os camponeses se retiraram da escola onde os militares estavam retidos. “O exército não foi vítima de nenhum tipo de violência, sequestro”, diz um comunicado divulgado pelos ‘cocaleros’.

À tarde, um grupo de militares dialogou com os camponeses, com a mediação da Defensoria do Povo.

“O cerco humanitário foi realizado com a finalidade de evitar possíveis violações aos direitos humanos (…) pelos antecedentes ocorridos no ano de 2020 em trabalhos de erradicação nos municípios de Cúcuta e Sardinata”, onde dois camponeses morreram, acrescenta o texto.

Os ‘cocaleros’ têm confrontos frequentes com os militares que arrancam os cultivos.

Os militares “não quiseram entrar em confronto e valorizo isso pelo profissionalismo (…), mas certamente estas práticas não podem continuar no país”, protestou o presidente Duque em declaração à imprensa antes da libertação.

– “Acordo voluntário” –

“A situação termina aqui com um acordo voluntário de parte das comunidades”, explicou à AFP Jhon Ascanio, funcionário de direitos humanos, que participou da mediação.

Os moradores da área “afirmam que não há outra alternativa, nem presença integral do governo (…), que só há presença através da força pública. Esse é o mal estar”, acrescentou Ascanio.

Tibú, no departamento do Norte de Santander, faz parte da chamada região do Catatumbo, território com mais narcocultivos no mundo.

Na área há cerca de 40.084 hectares cultivados com folhas de coca, segundo o último relatório da ONU, de 2020.

Rebeldes da guerrilha do ELN e dissidentes da ex-guerrilha das Farc que não aderiram ao acordo de paz de 2016 operam na região, lucrando com a receita do narcotráfico.

Segundo a Defensoria do Povo, os camponeses reivindicam há tempos o fim da erradicação forçada e um programa de substituição de cultivos que lhes permita ter fontes de renda diferentes da coca.

Duque intensificou a perseguição a este negócio ilegal, mediante a erradicação forçada dos cultivos, tarefa que os soldados realizam manualmente.

Mas apesar da perseguição, milhares continuam plantando coca, especialmente com mão-de-obra de colonos e migrantes venezuelanos que fogem da crise social e econômica em seu país.

Com uma cifra recorde de produção de 1.010 toneladas em 2020, a Colômbia se manter como o maior exportador mundial de cocaína e os Estados Unidos como os principais consumidores da droga.

SWI swissinfo.ch - sucursal da sociedade suíça de radiodifusão SRG SSR

SWI swissinfo.ch - sucursal da sociedade suíça de radiodifusão SRG SSR