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2021, a Odisseia do “blob” no espaço

Um "blob", uma criatura que se parece a um fungo, mas que se locomove, em 16 de outubro de 2019 no Zoológico de Paris afp_tickers

A Estação Espacial Internacional (ISS) se prepara para um inquilino incomum, o “blob”, um organismo que fascina biólogos, que na terça-feira entrará em órbita para ser usado em um experimento educacional liderado pelo astronauta francês Thomas Pesquet.

Da Terra, centenas de estudantes com entre 8 e 17 anos reproduzirão a experiência a partir do próximo outono (hemisfério norte, primavera no Brasil) com este curioso ser vivo, do reino protista, que não pode ser classificado como animal, planta ou fungo. Os alunos serão orientados pelo Centro Nacional de Estudos Espaciais (CNES) em colaboração com o Centro Nacional de Pesquisas Científicas (CNRS).

O “blob”, chamado “Physarum polycephalum”, é composto por uma única célula e vários núcleos. Parece uma massa esponjosa de cor amarela, não tem boca, nem patas, nem cérebro. E ainda assim come, cresce, se move (muito lentamente) e possui incríveis habilidades de aprendizado.

Seus núcleos podem se dividir à vontade e o organismo pode entrar em dormência (sem morrer) por desidratação. É nesse estado, chamado de “esclerócio”, que vários pedaços do “blob” entrarão no espaço, a bordo de uma nave de carga de abastecimento da Estação Espacial Internacional.

Quando o astronauta os reidratar, em setembro, quatro escleródios de cerca de 0,5 cm acordarão a 400 km da Terra, em placas de Petri, e cumprirão dois protocolos: um testará a atitude dos “blobs” quando forem privados de alimento e o outro fornecerá alimento para os mais afortunados (flocos de aveia).

– “Terceira dimensão?” –

O objetivo é observar os efeitos da ausência de gravidade no organismo. “Hoje, ninguém sabe que comportamento terá em [situação de] microgravidade: em que direção se moverá, se tomará a terceira dimensão subindo ou obliquamente”, comentou Pierre Ferrand, professor de Ciências da Vida e da Terra no CNES, um dos arquitetos do projeto.

“Estou curioso para ver se vai se desenrolar em pilares”, disse a especialista em blob Audrey Dussutour, diretora de pesquisa no Centro de Pesquisa em Cognição Animal de Toulouse, sul da França.

Em terra, milhares de exemplares de “blob” cortados da mesma cepa (LU352) de seus congêneres espaciais, serão distribuídos entre 4.500 escolas na França.

“Mais de 350.000 alunos vão ‘tocar’ o ‘blob'”, disse Christine Correcher, chefe de projetos educacionais da agência espacial.

Entre o final de agosto e o início de setembro, os professores receberão um kit com 3 a 5 escleródios e um tutorial para a realização do experimento.

Quando Thomas Pesquet umedecer seus “blobs” no espaço, os alunos farão o mesmo em sala de aula. Posteriormente, várias sessões de observação serão realizadas para comparar o comportamento de espécimes da Terra com aqueles enviados ao espaço.

O “blob” apareceu na Terra há mais de 500 milhões de anos, antes dos animais. Por muito tempo foi considerado um fungo, mas depois foi retirado daquele reino e desde a década de 1990 faz parte da subclasse dos amebozoários, à qual pertencem as amebas.

SWI swissinfo.ch - sucursal da sociedade suíça de radiodifusão SRG SSR

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