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A equação do pênalti: algum condicionamento físico e muita psicologia

O jogador da Grécia Georgios Samaras bate pênalti durante partida contra a Costa do Marfim, em 24 de junho de 2014, em Fortaleza afp_tickers

Acertar a bola em um gol a onze metros de distância, tendo o goleiro como único obstáculo? Uma equação simples de resolver, sob a condição de se levar em conta os múltiplos fatores da ciência do pênalti: estatística, condicionamento físico e, sobretudo, psicologia.

Alguns jogadores podem se ver literalmente paralisados de terror diante de uma cobrança de pênaltis, resume Geir Jordet, especialista em Psicologia na Escola Norueguesa de Ciências do Esporte, que aconselhou vários craques da bola para se preparar para este momento crucial da competição.

“Um jogador me disse que, quando estava no campo, a única em que pensava quando ia para a marca do pênalti era em se na TV veriam como seus joelhos tremiam”, afirmou Jordet.

Introduzido no regulamento há 123 anos, o pênalti continua sendo um momento de estresse intenso, tanto para quem cobra quanto para o goleiro que precisa fazer a defesa. De um ponto de vista estritamente estatístico, os dois jogadores estão, na verdade, em pé de desigualdade porque a bola entra em pelo menos duas a cada três vezes, com frequência mais que isso.

Mas a vantagem psicológica fica com o goleiro, que não tem nada a perder. Se a bola entra, o público se compadece, mas se ele defende, tem a glória garantida, explica o especialista norueguês.

Ao contrário, “espera-se sempre que o jogador marque. Ele sabe disso, e se fracassa, vira o bode expiatório de toda uma equipe e de todo um país”, continua.

Nesta guerra de nervos, os goleadores alemães são os mais sólidos. A Mannschaft resolveu com sucesso as quatro cobranças de pênalti que disputou em um Mundial. No outro extremo estão os ingleses, eliminados em três ocasiões nesse exercício letal.

O trauma dos ingleses é tamanho que, na Copa de 1998, o treinador inglês Glenn Hoddle contratou uma “curandeira” encarregada de dissipar os temores da equipe, colocando as mãos nos ombros dos jogadores.

– Camisa vermelha e tapas –

Cada goleiro tem ainda seus truques para aumentar a hesitação do adversário. Alguns fazem passos de dança para desconcentrar o cobrador. Ele pode ser distraído, também, por uma camiseta fluorescente ou com mangas amplas, ou inclusive por luvas XL, acessórios que fazem o goleiro parecer maior e o gol, menor.

Segundo os cientistas, a cor vermelha, associada ao perigo e à ira, seria a mais eficaz para a camisa do goleiro.

Cientistas holandeses descobriram que um goleiro que saía do centro muito rapidamente em sua linha de gol – não mais que 10 cm – induz inconscientemente o cobrador a chutar a bola para o lado contrário, mais aberto.

Mas outros dados científicos favorecem o cobrador.

Matemáticos de uma universidade de Liverpool calcularam que o pênalti perfeito tinha que chegar ao gol com uma velocidade de 90 a 104 km/h, nem mais, nem menos. Se for mais rápido, o cobrador perde precisão; se for mais lento, facilita o trabalho do goleiro.

A chave para marcar é, no entanto, o treino. Uma técnica elaborada no Canadá nos anos 1990 parece particularmente eficaz: o jogador se condiciona com a ajuda de um captor óptico para manter o olhar fixo nas traves do gol, alheio aos barulhos do estádio e aos gestos do goleiro para conseguir a concentração ideal.

Para alguns, há ainda a tradicional cola, como o papelzinho que o goleiro alemão Jens Lehmann levava escondido na meia em 2006. Nele estavam anotadas as preferências de cada jogador argentino na hora dos pênaltis (abaixo à esquerda, acima à direita, etc).

O truque deu certo, pois os alemães eliminaram os sul-americanos nas quartas-de-final com uma vitória por 4 a 2 nos pênaltis, depois de um empate em 1 a 1 no tempo normal. Lehmann foi o herói da partida, ao defender as cobranças de Roberto Ayala e Esteban Cambiasso.

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