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A mamografia para detectar o câncer de mama

Uma paciente passa por mamografia em 9 de outubro de 2017 no instituto Paoli-Calmette de Marselha, França afp_tickers

O uso generalizado da mamografia na detecção do câncer de mama provoca um debate médico entre os defensores dessa técnica e os críticos, que denunciam tratamentos que não seriam necessários.

“É absolutamente essencial (…) sensibilizar as mulheres sobre a importância da detecção do câncer de mama”, insistiu o ministro da Saúde da França, Olivier Veran, em meados de outubro.

Declarações que seguem a linha traçada pelas autoridades de muitos dos países desenvolvidos. Na França, por exemplo, mulheres de 50 a 70 anos são convidadas a fazer uma mamografia a cada dois anos (e cerca da metade o faz).

Esta é também a mensagem da campanha internacional anual do Outubro Rosa, pois é nesta faixa etária que o risco da doença aumenta.

No entanto, uma parte do pessoal de saúde é reticente quanto a esse incentivo em massa à detecção.

Temem especialmente o risco de “sobrediagnóstico”, pois uma mamografia pode detectar um tumor que não necessariamente se transformará em câncer de mama.

Mas como não é possível saber com antecedência, haverá pacientes que, por precaução, farão um tratamento inútil, podendo inclusive passar por uma remoção da mama.

A polêmica teve grande visibilidade em 2010 mas, desde então, o debate médico pouco avançou.

“Nos últimos anos não houve elementos para esclarecer o debate”, explica à AFP o oncologista britânico Paul Pharoah, que defende uma posição “com nuances” em relação a essa técnica.

Para ele, propor um programa de detecção generalizado “não é bom nem ruim”, porque se baseia tanto em “suposições” quanto em “evidências concretas”.

O principal obstáculo nesse debate é saber se o risco de sobrediagnóstico é maior do que as vantagens que traz na redução da mortalidade por esse tipo de câncer.

“Se fosse fácil saber, todos nós estaríamos de acordo”, ressalta a epidemiologista francesa Catherine Hill.

Os estudos são abundantes, mas suas conclusões costumam ser muito variadas: alguns indicam risco quase zero de sobrediagnóstico, enquanto outros o colocam em um terço (ou até metade) dos casos.

Para Hill, os estudos mais alarmistas são tendenciosos, pois partem de bases de dados de saúde pública que não entram na individualização dos casos.

Por exemplo, é estudada a proporção de câncer de mama na faixa etária de 50 a 70 anos, mas sem diferenciar se as pacientes foram realmente reconhecidas.

Isso leva a inúmeras imprecisões quando se trata de estudar os efeitos dessa detecção precoce ao longo de vários anos.

Existe o paradoxo de que, no período analisado, existam mulheres que abandonaram a faixa etária estudada. Por esse motivo, esse tipo de análise tende a superestimar o risco de sobrediagnóstico, enquanto estudos baseados em dados individuais (menos frequentes) o colocam em baixa.

“Muito provavelmente, o sobrediagnóstico está abaixo de 10% dos casos”, considera Hill, que lamenta que os céticos deste debate considerem os resultados mais tranquilizadores como alarmistas, mesmo quando são (a priori) mais credíveis.

Mas a epidemiologista não valida totalmente a promoção da mamografia.

“A técnica é apresentada às mulheres de forma exagerada”, principalmente durante o mês do Outubro Rosa, diz Hill.

“Reduz a mortalidade por câncer de mama em 20%, mas desde o início a mortalidade por esse câncer não é muito alta”.

E “20% de pouco é muito pouco”, insiste.

Segundo Hill, é melhor insistir para que as mulheres reduzam o consumo de álcool, principal fator de risco desse câncer.

SWI swissinfo.ch - sucursal da sociedade suíça de radiodifusão SRG SSR

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