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América Latina ainda demonstra pouco interesse pelos Jogos Olímpicos

Ingressos dos Jogos Olímpicos são vistos no Rio de Janeiro, no dia 20 de maio de 2016 afp_tickers

Aquela excitação de milhares de argentinos, chilenos e mexicanos que invadiram o Brasil em 2014 para assistir à Copa do Mundo de futebol não vai se repetir este ano: os Jogos Olímpicos não despertam tanto interesse na América Latina.

As autoridades brasileiras esperam que até 500.000 estrangeiros venham para o Rio de Janeiro durante os primeiros Jogos Olímpicos organizados na América do Sul, a serem realizados entre 5 e 21 de agosto.

Três semanas antes da cerimônia de abertura, 4,3 milhões dos 6 milhões de ingressos disponíveis foram vendidos, principalmente no Brasil (70%) e o restante no exterior. Estados Unidos e França são os países que mais compraram ingressos.

Eles são seguidos pela Argentina, mas o entusiasmo está longe de ser o mesmo que levou milhares de pessoas a viajar de avião ou por terra – as caravana na praia de Copacabana e, em seguida, no Sambódromo fizeram sucesso – para acompanhar Lionel Messi e companhia até a final da Copa do mundo.

Nas agências de viagens de Buenos Aires não são oferecidos “pacotes Olímpicos” para o Rio, um destino turístico sempre cobiçado pelo país vizinho. Também não há sorteios na televisão.

“Não é um evento que nos mobiliza como a Copa do Mundo”, explica à AFP Fernando Salim, um advogado argentino de 34 anos que há dois anos viajou para a Copa do Mundo no Brasil.

Vinte dias antes da Copa em que a Argentina foi vice-campeã, Salim já tinha em mãos as passagens aéreas, reservas de hotel e ingressos.

“Nós éramos muitos, mas não conheço ninguém que irá ao Rio desta vez. As Olimpíadas serão vistas pela televisão”, disse ele após repassar mentalmente sua lista de amigos.

Zika estraga a festa

Um olhar sobre o histórico de medalhas revela um desempenho fraco da América Latina: Cuba aparece em primeiro lugar (72 ouros), seguido pelo Brasil (23) e pela Argentina (18).

“Como há pouca tradição, não é algo que desperta paixões” como nos Estados Unidos, líder mundial, ou na Europa, considera Marcos Guterman, autor do livro “O futebol explica o Brasil”.

Mas ninguém duvida que estes Jogos serão uma grande festa, mas o retrato em que se desenha não é bonito: o afastamento da presidente Dilma Rousseff, uma recessão econômica atroz, o aumento das taxas de violência e um surto do zika vírus que já fez vários atletas e turistas desistirem.

“Muitos turistas desanimaram pela situação do vírus (…), a pouca certeza sobre a doença assusta”, afirma Carolina Sass de Haro, analista da empresa de pesquisa de mercado Phocuswight.

No entanto, cerca de 200.000 americanos são esperados no Rio durante os Jogos.

No México, as “notícias negativas sobre o Rio de Janeiro” afetaram a imagem da cidade e segundo uma fonte da única agência autorizada a vender ingressos no país, que pediu anonimato, as vendas estão “longe” de alcançar a meta de 35.000 ingressos vendidos.

As vendas na Colômbia foram “mínimas” e no Peru, inexistentes.

Mas há aqueles que vão aproveitar que o evento se realiza na região para assisti-lo ao vivo. Felipe Quiroz é um deles. O chileno comprou 33 ingressos para partidas de basquetebol, vôlei de praia e atletismo.

“Se fosse em outro país não teria ido, mas o Brasil está perto e é uma oportunidade única que quis aproveitar”, afirmou.

Portas abertas

O governo brasileiro lançou em julho uma campanha no exterior para atrair turistas: ‘Brazil is open for you’ (O Brasil está aberto para você), que é divulgada em lugares como a Times Square, em Nova York.

Também não exigirá visto para viajar para o país durante os Jogos para americanos, canadenses, australianos ou japoneses, informou a autoridade de Turismo do Brasil.

Como Tóquio receberá em 21 de agosto a bandeira olímpica, há interesse que país participe dos Jogos sul-americanos. O Japão é o sexto país que mais comprou ingressos.

“Tem havido muito interesse em excursões para o Rio”, disse à AFP Eri Yokoyama, da agência de viagens JTB.

A ‘Cidade Maravilhosa’ começou a exibir nos últimos dias sua decoração Olímpica, em uma tentativa de espalhar o espírito de festa, ausente nas ruas do Rio de Janeiro.

“Apesar do que todos dizem, eu tenho certeza que será um grande sucesso, como foi a Copa do Mundo”, acredita Andre Heeks Bruel (33), um tradutor de Curitiba que está contando os dias para assistir à cerimônia de abertura.

SWI swissinfo.ch - sucursal da sociedade suíça de radiodifusão SRG SSR

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