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Análise de genoma de mulher de neandertal não mostra sinais de incesto

Uma foto divulgada pelo Paleoanthropology Group MNCN-CSIC mostra a mandíbula superior do Neandertal El Sidron 1, encontrado no que é hoje a Espanha afp_tickers

Uma análise genética completa de uma mulher de neandertal cujos restos foram encontrados em uma caverna na Croácia não mostra nenhum sinal aparente de incesto em sua ascendência, ao contrário do DNA de um espécime estudado anteriormente, disseram pesquisadores nesta quinta-feira.

Trata-se do segundo neandertal a ser submetido a um sequenciamento de genoma completo e de alta qualidade.

O estudo, publicado na revista Science, oferece uma imagem mais ampla de nossos antepassados ​​extintos e também descobriu 16 novas variantes de genes de neandertal que foram transmitidas aos humanos modernos.

Os resultados confirmam algumas coisas que já eram conhecidas, como que os neandertais viviam em populações pequenas e isoladas e procriaram com os homo sapiens que migraram para o norte a partir da África.

O genoma estudado recentemente vem de uma mulher de neandertal que viveu há cerca de 52 mil anos no que é hoje a Europa Oriental.

Até agora, o único genoma de neandertal de alta qualidade era o de um indivíduo das montanhas Altai da Sibéria, que remonta a cerca de 122 mil anos.

Os genes do neandertal de Altai mostraram que seus pais eram aparentados, talvez no grau de meio-irmãos ou em uma relação de tia-sobrinho ou tio-sobrinha.

“O neandertal de Altai vivia em um pequeno grupo de parentes próximos – e era o filho de parentes próximos – e muitas pessoas pensaram que este era o típico comportamento dos neandertais”, disse Marcia Ponce de Leon, curadora de coleção e palestrante sênior do Instituto e Museu Antropológico da Universidade de Zurique.

No entanto, o novo estudo mostra que os neandertais da região de Vindija, na Croácia, “viviam em grupos muito mais abertos, provavelmente semelhantes ao que conhecemos dos caçadores-coletores modernos”, disse à AFP por e-mail, elogiando o trabalho por suas “importantes novas percepções”.

Os neandertais faziam arte, praticavam rituais, cuidavam de idosos e usavam medicamentos primitivos antes de desaparecerem da Terra, há cerca de 35 mil anos. O que os levou a extinção é um mistério, mas se sabe que eles viviam em grupos relativamente pequenos, de cerca de 3.000 pessoas.

O autor principal do estudo, Kay Pruefer, disse que ficou mais surpreso ao descobrir que os dois espécimes de alta qualidade pareciam estar intimamente relacionados, apesar das vastas distâncias geográficas e de tempo.

“Isso mostra que os neandertais devem ter tido um pequeno tamanho de população”, disse à AFP.

– Responsáveis pela obesidade? –

Um segundo artigo na Science analisou os genomas de quatro humanos anatomicamente modernos que viveram há cerca de 34 mil anos e foram encontrados no local de sepultamento de Sunghir, na Rússia.

Os quatro homens não tinham parentesco uns com os outros e seus genes não apresentavam sinais de endogamia, sugerindo que esses caçadores-coletores se acasalavam fora de seus clãs.

“Eles têm uma estrutura de população que parece ser realmente não consanguínea em comparação com os neandertais, e isso pode ter algo a ver com o motivo pelo qual os humanos modernos conseguiram (…) manter redes sociais mais amplas”, explicou John Hawks, professor de antropologia da Universidade de Wisconsin Madison.

Hawks, que não esteve envolvido com a pesquisa, disse que o trabalho “não está transformando a maneira como olhamos os neandertais, mas está nos dando uma habilidade muito melhor de ver o que eles compartilhavam conosco”.

O último genoma está mais próximo da mistura humana do que o mais antigo, e apresenta “novas variantes genéticas do genoma de neandertal que são influentes nos humanos modernos”, disse o artigo.

Estas incluem variantes relacionadas a níveis plasmáticos de colesterol ruim (LDL) e vitamina D, distúrbios alimentares, acumulação de gordura, artrite reumatoide, esquizofrenia e respostas a medicamentos antipsicóticos, afirmou o estudo.

Os pesquisadores também acreditam que o DNA de neandertal é um pouco mais prevalente em pessoas modernas – com exceção de africanos cujos antepassados ​​não se reproduziram com neandertais – do que se pensava anteriormente.

A maioria das pessoas não africanas hoje carrega entre 1,8% e 2,6% de DNA de Neandertal, mais que as estimativas anteriores, de 1,5% a 2,1%, disseram os pesquisadores.

“Os asiáticos do leste carregam um pouco mais de DNA de neandertal (2,3% a 2,6%) do que as pessoas na Eurásia Ocidental (1,8% a 2,4%)”, segundo o estudo.

Quanto às associações relatadas do neandertal com doenças, Ponce de Leon mostrou ceticismo.

“Na minha opinião, este é um artefato estatístico resultante do fato de que o sequenciamento do genoma tem um forte viés clínico. Como efeito, os genes relacionados a doenças entram no foco de interesse”, disse por e-mail.

“No entanto”, disse, a teoria do “‘neandertal causador de obesidade/artrite/esquizofrenia’ é provavelmente mais ficção do que fato”.

SWI swissinfo.ch - sucursal da sociedade suíça de radiodifusão SRG SSR

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