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Autoridades buscam dezenas de presos foragidos e investiga massacre em Manaus

Vans do Instituto Médico Legal (IML) levam os corpos do Complexo Penitenciário Anísio Jobim, em Manaus, no dia 2 de janeiro de 2016 At least 60 people were killed in a prison riot in Brazil's Amazon region when fighting broke out between rival gangs. afp_tickers

As autoridades brasileiras continuavam as buscas nesta terça-feira por dezenas de presos que fugiram de uma prisão em Manaus, onde 56 detentos foram mortos por uma “vingança” entre facções que disputam o controle do tráfico de drogas.

O governo do Amazonas reportou a fuga de 112 presos do Complexo Penitenciário Anisio Jobim (Compaj), onde foi registrada a rebelião entre o domingo e a segunda-feira, e de 72 internos do Instituto Penal Antonio Trindade (Ipat), uma unidade de prisão preventiva no mesmo complexo, na periferia de Manaus.

Segundo as últimas informações disponíveis, apenas 54 destes 184 fugitivos foram recapturados.

Um amplo dispositivo de buscas foi montado na região, onde a polícia bloqueou as principais vias de acesso aos presídios.

“Policiais que estavam de folga foram chamados a trabalhar e temos muitas informações, muitas equipes recuperando presos. A cifra vai aumentando a cada momento, esperamos até o final desta semana ter recuperado quase todos os presos”, afirmou nesta terça-feira, em coletiva de imprensa, Sérgio Fontes, secretário de Segurança do governo do Amazonas.

“Temos tudo sob controle, provavelmente hoje vamos começar a entregar os corpos”, acrescentou o secretário.

Impedidas de entrar no Instituto Médico Legal, onde os legislas trabalham na identificação dos cadáveres, as famílias se amontoavam, desesperadas, no portão, tentando saber o paradeiro de filhos, maridos e netos.

“Quero saber notícias do meu filho, vivo ou morto, e não consigo nada. Na prisão não deram nenhuma informação. Não sei seu paradeiro, onde está, não sei se fugiu, não tenho como saber”, lamentou, em entrevista à AFP, Ana Regina, de 47 anos, mãe de um detento.

Recuperada do choro, Raimundo Castro Leal, de 60 anos, pede que liberem o corpo do seu filho, que sabe que está entre os mortos.

“Tanto meu filho quanto outros (presos) foram esquartejados, ficaram sem cabeça (…) Queria que o liberassem e fizessem rápido a identificação para poder tomar as providências”, suplica.

A eficácia das capturas foi questionada depois que a “selfie” de um jovem que se apresentava como um preso foragido circulou no Facebook. Sua identidade não foi confirmada oficialmente.

“Estou chegando, as solteiras que se cuidem”, anunciou em outra publicação que viralizou na internet.

Guerra de facções

A rebelião começou na tarde de domingo no Compaj, após um confronto entre duas facções criminosas: o Primeiro Comando da Capital (PCC), originário de São Paulo, e a organização local Família do Norte (FDN).

A rebelião foi controlada 15 horas depois.

As autoridades constataram, então, que vários mortos tinham sido decapitados e qualificaram o episódio de o maior massacre cometido em uma prisão do Amazonas. Foi, ainda, o maior massacre em uma penitenciária brasileira desde a chacina no Carandiru, em São Paulo, quando uma operação policial para controlar um motim resultou na morte de 111 presos, em 1992.

O episódio atual é investigado como “vingança” da FDN, que disputa as redes de tráfico de drogas na região do estado do Amazonas, contra o PCC, uma poderosa organização criada no começo dos anos 1990 em uma penitenciária paulista.

A FDN, entre outros grupos, foi objeto de uma enorme operação policial em novembro de 2015, batizada de “A Muralha”, nome do quartel-general do cartel de Cali, onde os chefões do tráfico coordenavam seus crimes.

Segundo a Polícia, esta facção começou a se estruturar em 2007 em resposta às intenções do PCC de se expandir para ganhar terreno na estratégica região do Amazonas, próxima a Colômbia, Peru e Bolívia, onde pretende controlar a rota da cocaína.

Presídios de segurança máxima

O ministro da Justiça, Alexandre de Moraes, visitou nesta terça-feira a prisão onde ocorreu a rebelião e anunciou que os responsáveis pelo episódio serão transferidos a presídios federais de segurança máxima.

Depois do massacre, também foram registradas tentativas de rebelião em outros centros de detenção da capital amazonense e 130 presos de uma mesma facção tiveram que ser transferidos de seus respectivos presídios a uma penitenciária pública que havia sido desativada, depois de terem sido ameaçados de morte.

O governo federal anunciou a transferência de recursos aos estados para criar 20 mil novas vagas nas superlotadas penitenciárias do país, permitindo separar as lideranças mais perigosas dos presos que não oferecem tanto risco.

O estado do Amazonas, que abriga 2,59 presos por cada vaga disponível, poderá somar 1.200 lugares com estes recursos, afirmou Moraes.

Rebeliões e confrontos são comuns nos presídios brasileiros. Em outubro passado, 25 presos morreram e uma penitenciária de Roraima, em um confronto entre membros do PCC e do Comando Vermelho (CV, originário do Rio de Janeiro), as duas maiores facções do crime organizado no País, que romperam sua aliança em julho.

O Brasil tem a quarta maior população carcerária do mundo, atrás de Estados Unidos, China e Rússia.

Segundo um estudo do Ministério da Justiça, segundo o qual a maioria dos presos é de jovens negros, a população carcerária era, no fim de 2014, de 622.000 detentos.

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