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Avanço dos jihadistas provoca êxodo em massa de cristãos no Iraque

O patriarca caldeu Louis Sako é visto em 5 de agosto de 2014 afp_tickers

Os jihadistas do Estado Islâmico invadiram nesta quinta-feira Qaraqosh, a maior cidade cristã do Iraque, o que levou dezenas de milhares de pessoas a fugir e o Conselho de Segurança da ONU anunciar uma reunião de emergência sobre a situação.

De acordo com o patriarca caldeu Louis Sako, 100 mil cristãos foram obrigados a abandonar suas casas “com nada além de suas roupas” após a tomada de Qaraqosh e de outras cidades na região de Mossul (norte) pelos combatentes da Estado Islâmico (EI).

Entre as localidades ocupadas estão Tal Kayf, Bartella e Karamlesh, que foram “esvaziadas de seus habitantes”, segundo o bispo Joseph Thomas, arcebispo caldeu de Kirkuk e Sulaymaniyah.

“Este é um desastre humanitário. As igrejas foram ocupadas, suas cruzes foram removidas”, e mais de 1.500 manuscritos foram queimados, ressaltou Sako.

“Hoje fazemos um apelo com muita dor e tristeza ao Conselho de Segurança da ONU, à União Europeia e às organizações humanitárias, para que ajudem estas pessoas em perigo”, insistiu o patriarca que teme um “genocídio” da população cristã iraquiana.

Em Roma, o papa Francisco fez nesta quinta-feira um apelo urgente à comunidade internacional para proteger a população do norte do Iraque.

O porta-voz da Santa Sé, padre Federico Lombardi, afirmou que o pontífice “se une aos apelos urgentes dos bispos” da região pela paz e pediu à comunidade internacional que proteja e garanta a ajuda necessárias às pessoas em fuga.

Pouco depois, diplomatas indicaram que o Conselho de Segurança da ONU manterá uma reunião de emergência sobre a situação no Iraque. A reunião, a pedido da França, começará às 17H30 local (18H30 de Brasília) a portas fechadas.

Sem resistência

Em Qaraqosh, os jihadistas ocuparam a cidade após a retirada das forças curdas, explicaram os habitantes desta localidade cristã de 50.000 habitantes.

Qaraqosh está localizada entre Mossul, segunda maior cidade do país nas mãos do EI, e Erbil, a capital da região autônoma do Curdistão.

No norte de Mossul, em Tal Kayf, onde viviam muitos cristãos e membros da minoria xiita de Chabak, os jihadistas “chegaram pouco depois da meia-noite” e “não encontraram resistência alguma”, explicou Boutros Sargon, um habitante contactado por telefone em Erbil, a capital do Curdistão iraquiano, após fugir durante a noite.

Este novo êxodo supera por sua amplitude a dos cristãos expulsos de Mossul em julho, enquanto a comunidade cristã no Iraque diminuiu mais de metade desde 2003, e está estimada atualmente em 400 mil pessoas.

Em um comunicado, o EI saudou “uma nova libertação na província de Nínive (de onde Mossul é a capital), que servirá como uma lição aos curdos profanos”.

Este avanço do IE deixa os jihadistas a apenas 20 km das fronteiras oficiais do Curdistão iraquiano, e a apenas 40 km de Erbil.

Liderados pelo EI, que já havia se estabelecido na Síria, insurgentes sunitas lançaram em junho uma ofensiva relâmpago no norte do Iraque, ocupando grandes faixas de território.

Aproveitando-se da retirada do exército, as forças curdas, de longe melhor treinadas e organizadas, tomaram posições fora de suas fronteiras oficiais, ampliando informalmente o Curdistão em 40%. Mas desde o final de julho têm recuado.

Nesta quinta-feira, no entanto, os peshmerga asseguraram que repeliram um ataque jihadista contra a represa de Mossul, uma infra-estrutura que lhe permite controlar o acesso a água e energia elétrica em toda a região.

E as forças curdas se uniram ao exército iraquiano e às milícias xiitas para realizar uma operação conjunta para libertar Amerli, uma cidade turcomano sob cerco há quase dois meses pelos jihadistas e localizada 160 km ao norte de Bagdá.

Sem água nem comida

Quarta-feira, os combatentes curdos do Iraque, da Síria e da Turquia uniram suas forças em uma rara aliança para lutar contra os jihadistas no norte iraquiano e ajudar milhares de civis encurralados nas montanhas próximas.

Os três grupos, cujas relações são geralmente tensas, colocaram temporariamente de lado as suas diferenças em uma espécie de união sagrada.

Milhares de civis, em sua maioria da minoria yazidi, estão presos nas montanhas do norte do Iraque, após fugirem dos jihadistas, que em 48 horas tomaram várias cidades curdas da região de Mossul.

Sinjar, a 50 km da fronteira com a Síria, foi tomada no domingo, obrigando cerca de 200.000 pessoas fugirem, segundo a ONU. Os jihadistas também invadiram Zumar, outra cidade perto de Mossul, de um poço de petróleo e de Rabia, um posto fronteiriço entre a Síria e o Iraque.

Vários líderes políticos e organizações internacionais relataram centenas de civis desaparecidos desde a chegada dos jihadistas e dezenas de crianças mortas nas montanhas.

Centenas de yazidis estão buscando refúgio na Turquia, segundo uma fonte oficial turca que pediu para não ser identifica.

Segundo a fonte, o número exato de refugiados ainda não é certo, mas outra fonte diplomática falou de algo em torno de 600 e 800 pessoas.

Os refugiados estão abrigados em um complexo de Silopi, cidade situada nas proximidades da fronteira entre o Iraque e a Turquia.

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