Bispos do Pacífico colombiano denunciam ameaças e surto de violência
Quatorze bispos do Pacífico colombiano denunciaram nesta quinta-feira(4) ameaças contra membros da Igreja e uma nova onda de violência que envolve a população daquela região, em meio ao pior ataque de grupos armados desde a assinatura do acordo de paz com as FARC.
Depois de um encontro de dois dias em Buenaventura (sudoeste), padres católicos alertaram sobre as “ameaças contra a vida” do bispo daquela cidade, Dom Rubén Darío Jaramillo, e de “outros servidores da comunidade”.
Durante uma coletiva de imprensa virtual, os clérigos também denunciaram a violência crescente nos departamentos de Chocó, Valle del Cauca, Cauca e Nariño, que fazem fronteira com o Oceano Pacífico, e são alvo de disputas entre grupos que se financiam do narcotráfico.
“Nos dói profundamente que um bispo seja ameaçado simplesmente por expor o que todos nós vemos”, disse Omar Alberto Sánchez, arcebispo de Popayán.
O sacerdote garantiu que as “comunidades camponesas, indígenas e afro” da região são “submetidas ao domínio dos poderosos das armas, dos corruptos” e seus territórios “são confinados, semeados com minas e normas baseadas em princípios de guerra” .
As regiões remotas da Colômbia sofrem a pior onda de violência desde que a paz foi assinada em 2016 com a então guerrilha das Farc.
Especialistas acusam o Estado de não ter atingido os territórios deixados pelos rebeldes, o que facilitou a consolidação dos grupos armados.
Dom Óscar Múnera garantiu que “mais de 70 padres” e freiras foram mortos em meio ao conflito. “A Igreja estabeleceu uma cota muito alta”, lamentou.
No início de fevereiro, centenas de pessoas protestaram em Buenaventura para exigir o fim da violência contra essa população de maioria negra e pobre.
Devido à sua localização estratégica, a região do Pacífico produz a maior quantidade de folha de coca do país, com 57.897 hectares plantados, de acordo com o último relatório da ONU em 2019.
Embora o acordo de paz tenha reduzido significativamente a violência, a Colômbia ainda não conseguiu superar um conflito que em seis décadas deixou nove milhões de vítimas entre os mortos, desaparecidos e deslocados.
Dissidentes das Farc, rebeldes do ELN, a última guerrilha reconhecida na Colômbia, e gangues de narcotraficantes de origem paramilitar lutam atualmente pelas rotas de exportação de cocaína, e obtêm renda da mineração ilegal e extorsões.